Cronista

Memórias que vão do leão do Parque Moscoso a Maria Bethânia em Vitória

Alguém já escreveu que memórias são as adegas da mente. E é de uma delas que retiro agora um Pinot Noir delicioso: o único show que a Bethânia fez no Praia Tênis Clube

Publicado em 01/02/2020 às 09h00
Atualizado em 01/02/2020 às 09h01
A cantora Maria Bethânia, nos anos 70. Crédito: Arquivo/AG
A cantora Maria Bethânia, nos anos 70. Crédito: Arquivo/AG

Nenhum dos meus amigos mais chegados tem fotos do leão que residiu por uns tempos e assustou muita gente num cantinho do Parque Moscoso. Mas não precisa. Trazemos tudo gravado na memória.

Colecionamos, por puro prazer, histórias divertidas, cabeludas (são as melhores), emocionantes e impagáveis. Como, por exemplo, a do animadíssimo “Verão da Lata”. Boa parte do litoral do Sudeste e especialmente a praia de Ipanema viraram o Papai Noel de uma multidão de malucos. Foi quando vinte e duas toneladas de maconha, em latas e mais latas lançadas ao mar pelo navio de pesca Solana Star, fez a festa da moçada. Meninos, eu vi. A polícia atrás dos traficantes e a rapaziada atrás das latas. Naquele verão só se falava nisso. Acabou virando adjetivo da temporada. “A caipirinha tá boa?” “Da lata!”.

Alguém já escreveu que memórias são as adegas da mente. E é de uma delas que retiro agora um Pinot Noir delicioso: o único show que a Bethânia fez no Praia Tênis Clube. E duvido que ela tivesse coragem de voltar àquele palco. Clube lotado, todo mundo bebendo gim tônica, o décimo primeiro mandamento do cristão boêmio da época. Descalça, ela chega correndo ao microfone e canta o primeiro verso: “Quando eu soltar a minha voz...”. E foi só.

Ela sentou o pé na direção da piscina. Ela, eu e todo mundo. Fugindo daquele ambiente inundado de gás lacrimogênio que um rapazola atentado soltou no salão. Um Deus nos acuda. Abertas as janelas, minutos depois todos de volta às suas mesas. A Abelha-Rainha ressurge ofegante, pega o microfone e fala: “Ninguém calará a minha voz”. Emocionante.

Agora um Châteauneuf-du-Pape. Rolou no Palácio Anchieta. Era fim de ano, época em que o governador do Estado abre as portas do gabinete para receber cumprimentos de seus funcionários. Lá estava eu na fila, ao lado de dezenas de colegas de ofício, esperando a vez de honrar o cerimonial.

Eis que chega Alarico Lima, meu amigo e festejado treinador de basquete. Ele fura a fila e se posta à minha frente. E me conta que, embora não trabalhasse para o governo, precisava dar uma “lembrada” no chefão, a quem havia solicitado um patrocínio para um evento esportivo. E trazia nas mãos um enorme embrulho de presente.

Eis que chega a minha vez e assim foi que entramos juntos. De pé, o governador Paulo Hartung, ao lado do chefe de gabinete e mais uns dois auxiliares, recebia os convidados. Alarico entregou o presente.

Meio constrangido, o governador começou a desembrulhar o regalo. Filho único de mãe solteira. E do pacote surge um inesperado travesseiro em cuja fronha bordada se lia “Amigo, irmão, camarada”. Constrangidíssimo, o governador agradeceu.

Ato contínuo, eu o cumprimentei e saí apressado atrás do meu amigo. “Tá doido, Alarico?”. E ele rindo: “Eu precisava dar um agrado ao governador. Então dei. Mas minha irmã vai me matar...esse travesseiro foi o presente que ela me deu de Natal”.

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