Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

André Mehmari traz a genialidade à tona em "Notturno"

Quando o instrumentista cria asas, sobrevoa o sublime. O mestre das obras-primas traz um disco em que o piano é uma ferramenta que ajusta o virtuosismo ao sentimento

Publicado em 30/11/2021 às 07h00
O músico André Mehmari
O músico André Mehmari. Crédito: Facebook/André Mehmari

André Mehmari acaba de lançar "Notturno" (independente), um CD solo que traz à tona a genialidade que, desde sempre, vem tornando seu ofício mais e mais evidente. Seu piano é uma ferramenta que ajusta o virtuosismo ao sentimento.

Antes de falar sobre "Notturno", peço licença para reproduzir alguns pequenos trechos que escrevi quando do lançamento de três de seus álbuns anteriores – são 45 CDs gravados, uma verdadeira linha de montagem de sublimes criações.

“Tenho por André Mehmari admiração e respeito. Ele toca como se captasse a genialidade do mundo. Mas com uma semicolcheia antes do movimento dos dedos: memorável! A cada dia ele se torna um músico maior. Sua sabedoria é insofismável. Sua música e sua virtuosidade levam-no ao restrito universo dos mestres das obras-primas. (...) Além de tudo, a meu ver, seu talento rompe laços e agrega virtudes, provando que sua música, e a de poucos mais, pode e deve ser vista como uma só: música brasileira, sem reducionismos!”

Mehmari é um pianista e um compositor tão popular quanto erudito: é um virtuoso. Sem preconceitos, anotou: “Eu vejo a música muito mais através das intersecções e dos encontros do que das barreiras”. Assim pensa André Mehmari.

“O Tema Não Entrou no Filme” (AM) abre a tampa. A linda intro expõe uma sonoridade de grande beleza. A melodia é como um aceno para o amor. A segunda parte é ainda mais delicada, mais emocionada. Graças ao rigor da dinâmica, as frases se multiplicam com toques de extremo cuidado: o singelo antecipando o fortíssimo. E tudo resta suave, com bom gosto e sabedoria.

Em “Rio Antigo” (AM) ouve-se o som do piano, como que tocado numa noite do mais profundo azul. Notas agudas dão início a frases afetuosas. E tudo caminha para a emoção de quem ouve e de quem se comove. Um novo acorde com as notas mais agudas do piano inicia um movimento significativo. Pianíssimo, os acordes se sucedem até um final glorioso.

“L`Incoronazione” (AM) soa forte. Eis que, arritmo, a melodia se desvela em notas carinhosas. A sequência vem com pausas, que a seguir voltam à melodia. Notas graves dão a ela o sabor de um fruto colhido no pé. A dinâmica acentua momentos e ganha realces. Os graves facilitam a construção de uma respeitosa beleza. Com frases admiravelmente doces, o tema comprova que é assim que a melodia se faz, dando início a um processo em que se percebe que o final está a caminho. Ritmada, a frase conduz a uma longa pausa, que nos prende a respiração, para em seguida voltar.

“Sarabanda” (AM): que linda intro! Construindo sons, Mehmari se entrega irresistivelmente às notas do piano. A mão direita se dá à esquerda para, juntas, formarem acordes sublimes. Um rallentando antecede um crescendo encantador.

Quanto mais ouvirmos músicas de André Mehmari, mais atinaremos o quanto são essenciais à vida.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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