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Indústria capixaba do petróleo preocupa, afirma economista do Santander

Gabriel Couto é o economista responsável por analisar o desempenho das economias regionais para o Santander. Ele chama atenção para as quedas em sequência

Publicado em 01/10/2022 às 03h59
Gabriel Couto, economista do Santander
Gabriel Couto, economista do Santander. Crédito: Divulgação/Santander

O economista Gabriel Couto é o responsável por fazer o Cenário Regional do Banco Santander. O trabalho dele é analisar as contas estaduais e estabelecer as perspectivas para o desempenho econômico. Ou seja, conhece como poucos a realidade nacional. Na avaliação dele, a recessão está contratada para 2023.

Com relação ao cenário capixaba, apesar da previsão de expansão em todos os setores da economia de um crescimento de mais de 3% do PIB estadual em 2022, ele chama a atenção para o encolhimento da indústria do petróleo e gás no Estado. "A redução da produção é um fator que preocupa olhando os dados dos últimos anos".

O que o ano de 2023 guarda para a economia?

Projetamos uma ligeira recessão. Em 2022, estamos esperando um crescimento de 2,6%, acima do que era projetado lá atrás e alto para o padrão recente do país. Só que 2022 tem dois momentos distintos: um primeiro semestre muito bom, mas um segundo semestre com os efeitos do aperto monetário (alta dos juros) começando a se manifestar de maneira mais intensa e mais clara sobre a atividade econômica. Portanto, acreditamos que, a partir do segundo semestre, iremos observar uma desaceleração. Nossa projeção é que o resultado do terceiro trimestre já virá bem abaixo dos trimestres anteriores, algo na casa de 0,3%, e que o quarto fique na estabilidade. Para 2023, nossa expectativa é de uma contração de 0,2%, refletindo os efeitos do aperto monetário que já estão contratados. Importante frisar que temos alguns impulsos pelo lado da demanda, destacadamente a recuperação do mercado de trabalho e a queda da inflação, mas não vemos como suficiente para evitar uma ligeira recessão no ano que vem.

Não há nada que possa surpreender em 2023 e puxar a economia para o positivo, assim como aconteceu em 2022, quando quase todos os analistas esperavam um resultado pior do PIB?

Sempre pode acontecer, mas estamos vendo uma desaceleração, provocada pela alta nos juros, que já está contratada. Além da questão interna dos juros, a economia global deverá começar a mostrar sinais mais claros de desaceleração. Temos os Estados Unidos com uma alta de juros como não se via há muito tempo, cremos até em algum momento de recessão por lá. A Europa também está em uma situação muito complicada, com inflação elevada e com o problema energético. É um cenário externo que vai jogar contra. Pode ter algo que surpreenda, que não está sendo observado pelas nossas análises? Claro que pode, mas os vetores observados para a economia brasileira apontam para uma desaceleração considerável para 2023.

A crise mundial de energia não é uma janela de oportunidade para o Espírito Santo?

Olhando para o PIB do Espírito Santo temos visto a indústria extrativa (mineração e extração de óleo e gás) pesar bastante. Em 2019, quando o Estado teve uma retração econômica, boa parte foi puxada pelo setor de óleo e gás. Hoje, a indústria capixaba cresce apesar do setor extrativo. O mundo tem se movido para novas fontes energéticas, uma alternativa ao petróleo, é uma opção para um Estado com potencial eólico que o Espírito Santo possui. É preciso dar as condições para isso.

Quando você olha para os dados da economia capixaba, o que mais te chama atenção do lado positivo?

A indústria tem mostrado alguma recuperação nas nossas perspectivas. Em 2019 e 2020, observamos quedas relevantes na indústria, em 2021 e 2022, já temos alguma retomada. É um destaque. O setor de serviços, que tinha recuado muito em 2020, passou a crescer muito forte de 2021 para cá. Lembrando que é a maior atividade da economia. E a agropecuária vem tendo um crescimento persistente. Ou seja, observamos um crescimento generalizado na economia capixaba.

Quando olhamos os dados mais segmentados observamos que algumas áreas, caso da indústria do petróleo, que é muito relevante para o PIB capixaba, estão tropeçando. É algo que preocupa?

De fato a indústria extrativa, principalmente óleo e gás, enfrenta alguma dificuldade. A parte de minério, depois de todo aquele problema com a barragem de Brumadinho, em 2019, vem mostrando sinais mais encorajadores, mas o petróleo e gás pesa mais para o Estado. A redução da produção é um fator que preocupa olhando os dados dos últimos anos. A indústria responde por 26,5% do PIB capixaba, acima da média do Sudeste. Dentro desta fatia, a extrativa é parte muito relevante, e tem mostrado uma trajetória de contração nos últimos anos. É algo que merece atenção.

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