Casarão de Carapina, na Serra, é um local histórico
Casarão de Carapina, na Serra, é um local histórico. Crédito: Montagem | Ricardo Medeiros

Casarão de Carapina: área indígena foi disputada entre Serra e Vitória

Local que, segundo estudiosos, teria sido construído no século XIX, está em trecho importante da Grande Vitória; confira a história do casarão e da região de Carapina

Tempo de leitura: 6min
Vitória
Publicado em 01/07/2023 às 14h16

Se as paredes do Casarão de Carapina falassem, os tijolos, pedras e madeiras que formam a estrutura contariam histórias de séculos, dos povos originários até uma disputa territorial e econômica entre Serra Vitória. O local, que, segundo estudiosos, teria sido construído no século XIX, está em um trecho importante da Grande Vitória, mas atualmente não recebe qualquer atenção cultural e está cercado por um matagal.

O local onde está o casarão já foi uma ocupação indígena e também uma fazenda de cana-de-açúcar. Os historiadores, no entanto, chamam a atenção para a falta de registros históricos sobre o casarão que guarda parte da memória do Espírito Santo. A Gazeta esteve no local e registrou em fotos o casarão histórico. Imagens do fotógrafo Ricardo Medeiros mostram o estado em que está a estrutura, com espaço das janelas, o vazio interno e a ausência de informações no local.

Uma estrutura próxima, ainda mais conhecida, é a capela São João Batista de Carapina. Ela fica bem perto do casarão e é um patrimônio histórico. O casarão e a capela, juntos, formam um sítio histórico e arqueológico. A região é tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual em 1984.

A começar pelo nome da região, a escolha vem da terra. O Brasil, como identificação de um país, é uma das principais referências de escolha do nome a partir de um aspecto da natureza. O nome, neste caso, vem do pau-brasil. E outra árvore rendeu à Serra o nome de uma das regiões financeiramente mais importantes do município: Carapina.

A região que atualmente tem um trecho de rodovia federal, recebe comércios importantes e serve de ligação entre cidades na Região Metropolitana leva o nome de uma árvore. Conforme a historiadora Leonor Correa, Carapina é o nome nativo de uma árvore conhecida como Andiroba. "Conhecemos por outro nome, mas é Carapina. A árvore tem uma madeira muito boa para ser esculpida", comenta.

E por falar em madeira, há quem indique, na verdade, que o nome da região esteja ligado à atividade de carpintaria. O ofício envolve construção, reparação e instalação de estruturas de madeira.

Quando foi erguido o Casarão de Carapina?

Casarão de Carapina, na Serra

Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra. Ricardo Medeiros
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra. Ricardo Medeiros
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra. Ricardo Medeiros
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra. Ricardo Medeiros
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra. Ricardo Medeiros
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra. Ricardo Medeiros
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra. Ricardo Medeiros
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra. Ricardo Medeiros
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra. Ricardo Medeiros
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra
Casarão de Carapina, na Serra

Historiadores e estudiosos consultados por A Gazeta relatam a dificuldade para encontrar registros históricos do casarão. Segundo eles, é fácil fazer uma retrospectiva da região, mas não há tantas certezas sobre o casarão. Leonor Correa acredita que a estrutura tenha sido construída no século XIX por uma das famílias que ocuparam a região desde a primeira ocupação.

Leonor Correa

Historiadora

"O que acreditamos é que o Casarão seja uma construção do século XIX, devido a uma ocupação de uma família na região. Com o empobrecimento da família, a fazenda chegou a ser fracionada e algumas partes foram abandonadas"

Não é possível saber, no entanto, por quanto tempo o casarão foi utilizado até ter sido abandonado. E também não há informações sobre o uso. Estudiosos apontam que a arquitetura do local indica que a parte inferior do casarão seria voltado para um depósito e armazenamento. Na parte de cima, a moradia.

Desde quando a área é ocupada?

O século XVI marcou o início da ocupação de uma região que hoje é conhecida como Carapina. Leonor Correa cita, além da história, aspectos geográficos: a região está em um planalto, ou seja, uma região mais elevada. "A ocupação da região começou em 1558, quando houve uma primeira incursão de jesuítas na área. Mas o primeiro registro de ocupação é de uma aldeia indígena criada no local em 1562", afirmou.

O diretor do Departamento de Cultura da Secretaria de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer da Serra, Fábio Boamorte, lembra que o município da Serra foi fundado aos pés do Mestre Álvaro, que continua sendo um ponto de referência. Carapina, por sua vez, é uma das localidades mais antigas da cidade.

Fábio Boamorte

Diretor do Departamento de Cultura da Secretaria de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer da Serra

"Carapina é uma das localidades mais antigas da Serra, junto com Nova Almeida, Jacarípe e Manguinhos, por exemplo. Carapina é um dos primeiro pontos de população no século XVI"

Quem foi o responsável pela fundação de Carapina?

Apesar da passagem de jesuítas pelo Espírito Santo, a fundação de Carapina está ligada a uma tribo indígena. A história do Brasil se repete no Espírito Santo, com a importância imensurável dos povos originários para a construção de um país e uma identidade.

Arariboia ficou conhecido como um líder indígena que desempenhou papel significativo durante o período colonial no Brasil. E teve a sua importância no Estado, com a fundação de Carapina. As atenções de Arariboia em determinado momento, porém, se voltaram para o Rio de Janeiro, o que afetou diretamente o Espírito Santo,

Em uma aliança com os portugueses, o líder indígena lutou contra os franceses em 1567. A luta aconteceu após a formação de uma colônia chamada Franca Antártica. Os franceses foram derrotados e expulsos. Arariboia, por outro lado, ganhou importância e recebeu até um pedaço de terra no Estado vizinho, onde está atualmente localizada a cidade de Niterói. Isso fez com que a região de Carapina fosse passada para outra pessoa. A escolha dos governantes naquela época foi de conceder a sesmaria (área de terra) à família de Miguel Pinto Pimentel, o que teria acontecido em 1614.

Por que a região se tornou tão importante?

A vocação industrial de Carapina não é recente. Desde o século XVI, quem ocupava o local já sabia: aquela era uma região fértil. Naquele momento, o foco era a produção açucareira. Após a morte de Miguel Pinto Pimentel uma parte da terra foi deixada aos jesuítas. Os religiosos, segundo a historiadora Leonor Correa, também utilizaram a propriedade como fazenda de cana-de-açúcar.

Capela de São João Batista no Sítio Histórico de Carapina, na Serra
Capela de São João Batista no Sítio Histórico de Carapina, na Serra. Crédito: Tchesco Marcondes

Mas a história política do Brasil também afetou a região de Carapina. Na segunda metade do século XVIII, os jesuítas, que até aquele momento, eram os responsáveis pelo território de Carapina, foram expulsos do Brasil. A decisão de Marquês de Pombal considerava a resistência apresentada pelos jesuítas às determinações da Coroa no Brasil. A decisão tornava o poder ainda mais centralizado no país.

Com a expulsão dos jesuítas, a região foi comprada em 1837 pelo fidalgo José Correa Maciel. Entre a expulsão e a compra, Carapina passou por diversas denominações. A área, que inicialmente pertencia à Vitória, foi incorporada pelo município da Serra no século XX. De acordo com Leonor Correa, a disputa entre Vitória e Serra por Carapina é histórica.

"A disputa entre Serra e Vitória pela região de Carapina é histórica. Em vários momentos a briga voltou a acontecer, principalmente a partir do século XX, quando houve a criação de um imposto territorial. Era a maior área de ocupação industrial, produzia muito dinheiro", afirmou.

A importância financeira de Carapina se mantém, com indústrias e comércios importantes para a Região Metropolitana. Além disso, a existência de uma rodovia federal torna a região ainda mais relevante.

A serra, onde está localizada a região de Carapina, é o município com maior população no Espírito Santo. Segundo a prévia do Censo 2022, são mais de 546 mil pessoas morando na cidade.

Prefeitura da Serra prometeu obras

Em setembro de 2021, a Prefeitura da Serra anunciou um projeto de restauração da Igreja São João de Carapina e a revitalização do Sítio Histórico de Carapina, onde está o casarão. Em fevereiro de 2022, o processo estava em captação de recursos. A estimativa da prefeitura era investir R$ 15 milhões na restauração.

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