Publicado em 28 de setembro de 2021 às 18:57
Num movimento esperado por membros do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) vai desistir de sua pré-candidatura à Presidência da República para apoiar o governador Eduardo Leite (RS) nas prévias do partido. Os dois fizeram o anúncio de forma conjunta na tarde desta terça-feira (28), em Brasília. >
As prévias tucanas, marcadas para 21 de novembro, estão concentradas em Leite e no governador João Doria (SP), ambos fazem campanha pelos estados e travam uma corrida apertada até agora. O ex-prefeito de Manaus Arthur Vírgilio também é pré-candidato, mas tem menos chances e, na visão de tucanos, pode desistir antes do final.>
No discurso em que declarou sua desistência e seu apoio a Leite, Tasso exaltou qualidades do gaúcho e afirmou que a maioria da bancada do Senado e 80% das executivas estaduais do PSDB estão os apoiando nas prévias tucanas.>
"Não sou candidato nas prévias do PSDB, mas isso não quer dizer que não estou na luta. Estou na luta, junto com companheiros, para fazer, no meu ver a pessoa que representa o PSDB legítimo, histórico e o PSDB do futuro, que é o governador Eduardo Leite, candidato à Presidência e presidente da República", disse Tasso durante evento na sede do PSDB nesta tarde.>
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A reunião teve a presença de parlamentares tucanos que apoiam Leite e da imprensa. Tasso afirmou que sua decisão se deu por uma questão de pragmatismo e pela série de afinidades de pensamento entre ele e Leite.>
"Começamos a perceber uma coisa muito clara, que 80% mais ou menos das executivas estaduais ou estavam com Eduardo ou comigo, não estou exagerando. Eu olhava para Eduardo e pensava: esse cara pensa igual a mim. A única diferença é a idade, porque sou mais bonito e mais moço", brincou Tasso, que tem 72 anos contra 36 do governador.>
"Vi no Eduardo dinamismo, juventude e força de vontade, que, depois dos 70 anos, a gente procura ter, mas não tem mais. [...] O Brasil de hoje espera realmente uma coisa nova", disse Tasso.>
O senador afirmou ainda que, junto de Leite, irá fazer uma visita ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que já declarou publicamente apoio a Doria -a visita irá reabrir a disputa entre os governadores pelo voto do tucano mais importante do partido.>
"Tenho certeza absoluta de que o presidente FHC está torcendo, no mínimo, pela nossa caminhada", disse Tasso.>
Em sua fala, Tasso também criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), afirmando que ele tem viés autoritário e desprezo pela democracia e pela ciência. "O Brasil está na rota de naufrágio em todos os sentidos", completou.>
O senador, que esteve com o ex-presidente Lula (PT) durante o giro do petista no Nordeste, afirmou que as pessoas hoje se ofendem e se agridem e que diálogo é preciso.>
Leite afirmou receber o apoio de Tasso com orgulho e responsabilidade. Ao exaltar o senador, fez críticas veladas a Doria ao dizer que, como Tasso, vê a "política como missão" e que a política exige "pensar nos outros e não em si".>
"Vejo em Tasso as melhores qualidades que devem inspirar um homem público", afirmou o governador.>
Como na semana passada, ao se inscrever para as prévias, Leite buscou um discurso de moderação, buscando se contrapor às críticas contundentes de Doria contra Lula e Bolsonaro.>
"O movimento deve ser o da união, da convergência, do entendimento. [...] O Brasil não precisa de um terceiro polo de radicalização, mas de uma terceira via", completou.>
Outros senadores também discursaram, incluindo José Aníbal (SP), que coordena o processo de prévias e, por isso, evitou declarar seu voto, embora tenha exaltado características que tucanos associam à candidatura de Leite e não de Doria.>
Segundo Aníbal, o PSDB deve construir uma "candidatura que seja viável, que dê confiança aos brasileiros, que promova convergência e não polarização, e que nos dê condição de disputar e vencer essa eleição".>
Apesar de Tasso ter feito sua inscrição nas prévias na semana passada, sua desistência era tida como certa. Ele e Leite são aliados de longa data e vinham discutindo juntos as estratégias nas prévias.>
O senador foi estimulado por alas do partido a concorrer por ser um nome considerado de consenso, mas questões pessoais e políticas pesaram contra. Ao portal Metrópoles, Tasso afirmou que não pretende disputar mais um mandato e quer passar tempo com a família.>
Tasso não chegou a viajar para fazer campanha nas prévias e manteve seu isolamento social em Fortaleza. Tucanos demonstravam preocupação com a disposição e com a saúde do senador para uma campanha presidencial. A assessoria de Tasso afirma que o senador não tem problemas de saúde.>
Com o apoio de Tasso, Leite cresce no Ceará e em outros estados do Nordeste, além de ter conquistado Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais. Doria, por sua vez, é favorito em São Paulo, estado com maior número de parlamentares e filiados do PSDB. Também fechou apoio de Tocantins, Distrito Federal e Pará.>
A disputa entre Leite e Doria se dá no campo da chamada terceira via, que reúne partidos contrários a Bolsonaro e Lula. Ao fazer sua inscrição nas prévias, o paulista optou por ataques diretos ao petista e críticas veladas a Bolsonaro.>
Já Leite afirmou não querer fomentar a polarização e adotou tom moderado, embora também tenha criticado o petista e o presidente.>
O cenário de concorrência apertada entre eles aparece refletido na pesquisa Datafolha deste mês. Tanto Doria quanto Leite marcam 4% das intenções de voto -bastante atrás de Lula (com 44%) e de Bolsonaro (com 26%). Em cenários variados, Doria chega a 6%.>
O gaúcho, que é menos conhecido da população, leva vantagem no índice de rejeição, que é de 18%, contra 37% de Doria.>
Em abril, Tasso, que foi presidente do PSDB e governador do Cerá por três mandatos, chegou a ser descrito por líderes tucanos como Biden brasileiro, numa referência ao presidente americano Joe Biden. A ideia era que, como candidato do partido à Presidência da República, ele aglutinasse apoios da esquerda e da direita, aliando experiência e visão progressista.>
Da parte de aliados de Doria, porém, a real candidatura de Tasso e sua disposição em concorrer sempre foram desacreditadas. O governador chegou a anunciar, no mês passado, no programa Roda Viva, que Tasso já havia até desistido -o avanço de sinal gerou mal-estar no partido.>
No PSDB, a avaliação é a de que Leite reúne maior simpatia entre membros do partido, mas Doria tem diminuído a desvantagem ao trabalhar de forma mais intensa que o adversário numa campanha interna para superar a rejeição.>
Além disso, o paulista tem a seu favor a estrutura e o peso da máquina do Palácio dos Bandeirantes. Em contrapartida, Leite é apontado como o que mais tem capacidade de congregar partidos aliados, enquanto Doria poderia levar o PSDB ao isolamento.>
Colégio eleitoral de quatro grupos, com 25% de peso cada>
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