Publicado em 26 de setembro de 2021 às 19:39
As pesquisas de boca de urna da eleição alemã deste domingo (26) confirmam o cenário acirrado dos levantamentos dos últimos dias e indicam o que pode ser considerado um empate técnico entre os sociais-democratas (SPD), liderados por Olaf Scholz, e os conservadores da União Democrata-Cristã (CDU), de Armin Laschet este apoiado pela atual primeira-ministra, Angela Merkel. >
As projeções das emissoras alemãs ZDF e ARD indicam o SPD ligeiramente à frente, com 26% dos votos, seguido pela CDU com 24%. >
O cenário não permite prever quem pode se tornar o sucessor de Merkel; indica apenas o início de complexas negociações que podem levar semanas para a formação de uma coalizão. Tanto o SPD quanto a CDU disseram após a divulgação das pesquisas que tentarão formar uma coligação para governar o país. >
Hoje, as duas legendas compõem a aliança que dá sustentação a Merkel; a primeira-ministra fica no cargo até a eleição de um novo premiê. >
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As projeções indicam ainda que os Verdes estão em terceiro lugar (com 14%), seguidos pelos liberais da FDP (11%), de direita, e, mais atrás, a ultradireitista AfD e os socialistas do partido A Esquerda. Números oficiais preliminares devem ser divulgados até a manhã desta segunda. >
Na comparação com a eleição de 2017, os resultados mostram um recuo forte da União, que levou 33% dos votos há quatro anos (8 pontos percentuais de diferença). Um resultado ao redor de 25% será o menor índice já obtido pelos conservadores. >
Também se observou um avanço dos Verdes, que haviam ficado com 8,9% e devem obter agora seu melhor resultado em 40 anos de existência. O SPD igualmente ganhou projeção: em 2017, obteve 20,5% dos votos, em seu pior desempenho na história. >
"Estou seguro de que os eleitores no futuro estarão felizes com a decisão que fizeram de votar no SPD", disse Scholz, no começo da noite. Ele listou três prioridades para um possível governo: "respeito para todos" o que inclui aumento do salário mínimo e aposentadorias, inovação industrial e combate à crise climática. >
Do outro lado, o clima era um pouco diferente: Laschet disse a apoiadores que seu partido não poderia se satisfazer com os resultados. "Faremos todo o possível para construir um governo de liderança conservadora porque os alemães agora precisam de uma coalizão futura que modernize nosso país", afirmou. Provavelmente será a primeira vez que teremos um governo com três sócios >
Os eleitores alemães votam em deputados, não no candidato a premiê, que precisa ser aprovado pela maioria do Bundestag (equivalente à Câmara dos Deputados). Por isso, a formação de coligações é essencial, e o cenário de agora permite um vasto leque delas mais à direita ou mais à esquerda. >
O novo primeiro-ministro vai chefiar o governo da economia mais poderosa da Europa, cujo PIB em 2020 se aproxima de US$ 4 trilhões (R$ 21 tri, pelo câmbio atual) e representa 28% da zona do euro. >
A Alemanha é também a quarta maior economia do mundo, em termos absolutos, ou a quinta pelos cálculos do Banco Mundial que relativizam o poder de compra, para permitir comparações (PPP). É a maior exportadora da Europa e a terceira maior do mundo. >
O novo premiê tentará manter a grande influência política que a Alemanha costuma ter, e Angela Merkel tinha, na União Europeia. >
Cientistas políticos e especialistas em pesquisas eleitorais apontaram que essa foi a eleição mais imprevisível desde o pós-Segunda Guerra Mundial. Foi a primeira vez em 75 anos que um premiê no cargo não se lançou à reeleição a primeira-ministra, que deixa o governo aclamada pelos alemães, anunciou em 2018 que não disputaria a quinta eleição neste ano. >
Os principais candidatos eram nomes novos no cenário político, e o número de indecisos a dez dias da votação era recorde: 4 em cada 10 eleitores alemães diziam ainda não saber quem receberia seu voto neste domingo (26). Quatro anos atrás, os indecisos eram 35% e, em 2013, 24%. >
Foi também a eleição com maior oscilação nas intenções de voto nas semanas finais da campanha. A União (CDU-CSU), de Merkel, começou o ano com 36% dos eleitores, mas despencou para 24% após a escolha de Laschet como seu candidato. >
Os conservadores foram superados pelos Verdes nesse momento, em abril, mas tropeços da candidata ambientalista, Annalena Baerbock, reverteram as posições. No final de julho, porém, a União voltou a ser ultrapassada, dessa vez pelo SPD, partido social-democrata do qual faz parte Scholz. >
Num intervalo de cinco meses, os Verdes perderam dez pontos percentuais, murchando de 26% para 16% das intenções de voto. >
O combate à crise do clima e questões internas como salário mínimo, habitação e segurança dominaram as campanhas, numa eleição em que Scholz e Laschet disputaram entre si o chapéu de sucessor mais parecido com Angela Merkel. >
Scholz chegou a posar para fotos repetindo o gesto de mãos em forma de losango, uma marca da primeira-ministra, enquanto a União o acusava de apropriação indébita da herança da líder conservadora. >
Uma característica desta eleição foi que a xenofobia e islamofobia não dominaram a campanha, como aconteceu em 2017. Até mesmo no debate da TV do qual participou a candidata da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel, a palavra imigração só foi mencionada uma vez. >
O partido xenófobo também adotou uma retórica de campanha mais moderada neste ano, na avaliação do cientista político Michael Hansen, professor da Universidade de Winsconsin. >
Sua campanha eleitoral incluiu tópicos sociais, como liberdade, problemas das áreas rurais, energia verde, empregos, Covid-19, aposentadoria, igualdade de gênero e trabalho autônomo, relatou Hansen, em análise para blog da London School of Economics. O partido manteve uma fatia de cerca de 10% dos votos, consolidando sua presença no Parlamento federal. >
O resultado da votação deste domingo não encerra a temporada de dúvidas. O partido com mais votos não tem preferência para tentar formar uma coalizão e não necessariamente indicará o próximo chefe de governo se não for capaz de obter o apoio da maioria dos deputados eleitos pelos alemães. >
Não há nenhuma regra na Constituição sobre como os governos são formados, e o presidente não precisa dar a nenhum partido um mandato para tentar construir uma aliança. Cabe às próprias siglas negociar seus acordos, e as diferentes conversas podem ser feitas simultaneamente. >
Também não é obrigatório que o maior partido fique à frente do governo. Será primeiro-ministro quem negociar coalizões para obter a maioria dos votos dos deputados. Ou seja, na prática, ainda que a CDU tenha perdido peso e ficado atrás da SPD, Laschet pode ser premiê. >
Em 1976, por exemplo, a União tinha o primeiro lugar por uma margem confortável, com Helmut Kohl como candidato a premiê, mas foi Helmut Schmidt (SPD) que continuou no cargo ao renovar a coalizão com o FDP. >
As negociações neste ano eram vistas como mais difíceis, por causa da perspectiva de que fossem necessários três partidos para obter a maioria, e não apenas dois, o que amplia o leque de combinações possíveis. >
Se um candidato a chanceler não obtiver a maioria necessária dentro de três votos, o presidente deve decidir nomear o chanceler de um governo minoritário ou dissolver o Bundestag, desencadeando uma nova eleição. >
O sistema alemão favorece o pluralismo de partidos e, com exceção da eleição federal de 1957, em que a União obteve o governo sozinho, houve sete coalizões e oito chanceleres desde 1949. Nas diversas combinações, os conservadores se inclinaram tanto à centro-esquerda, com os social-democratas, quanto à direita, com o liberal FDP. >
O SPD, único outro partido a liderar um governo alemão, também experimentou coligações com a centro-direita conservadora e com os Verdes, mais próximos da centro-esquerda. >
Em seus quatro mandatos, Merkel governou três vezes ao lado dos social-democratas, na chamada Grande Coalizão (GroKo), e uma vez com o FDP. >
Apesar da indefinição sobre o governo, a maioria dos analistas acredita que, seja quem for o premiê e a coligação, sua posição deve ser semelhante à de Angela Merkel, pragmática e ao centro do espectro político. >
O apuro pelo qual os democratas-cristãos passaram, porém, mostra que a direita tradicional dominante na Europa pode estar em crise, segundo Tim Bale e Cristóbal Rovira Kaltwasser, autores do recém-lançado Riding the Populist Wave: Europes Mainstream Right in Crisis (surfando a onda do populismo: a crise da direita hegemônica europeia). >
POSSÍVEIS ALIANÇAS NO BUNDESTAG >
- As combinações, com nomes curiosos, levam em conta as cores tradicionais de cada partido >
- Quênia Seria a coligação dos três partidos mais votados, cujas cores equivalem às da bandeira do país - africano: vermelho do SPD, preto da União e verde da agremiação ambientalista >
- Semáforo União de SPD e Verdes com o partido liberal FDP, cuja cor é o amarelo >
- Jamaica Junção do preto da União, do amarelo do FDP e dos Verdes >
- Mickey Mouse Por ter as cores do personagem da Disney e também da bandeira alemã, preto, - - vermelho e amarelo: União, o SPD e o FDP >
- GroKo Sigla para grande coalizão unindo SPD e CDU, a mesma que existe hoje >
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