Publicado em 4 de junho de 2024 às 17:05
BRASÍLIA - A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) aceitou uma denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) nesta terça-feira (4) e tornou o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) réu sob acusação do crime de calúnia por um vídeo viralizado nas redes sociais no qual ele aparece falando a interlocutores sobre "comprar um habeas corpus de Gilmar Mendes".>
Votaram neste sentido os cinco integrantes da turma: a relatora, Cármen Lúcia, e os ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Luiz Fux e Alexandre de Moraes.>
Moro foi denunciado no caso em abril do ano passado após o vídeo ter se espalhado na internet.>
A filmagem mostra o ex-magistrado em uma festa junina conversando com outras pessoas. Uma voz feminina, ao fundo, diz: "Está subornando o velho". Moro, então, responde: "Não, isso é fiança. Instituto para comprar um habeas corpus do Gilmar Mendes".>
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Aos ministros, nesta terça-feira (4), o advogado de Moro, Luis Felipe Cunha, afirmou que a declaração foi uma "expressão infeliz reconhecida por mim nessa tribuna, e por ele também, num ambiente jocoso, de festa junina".>
"Em nenhum momento meu cliente acusou o ministro Gilmar Mendes, por quem ele tem imenso respeito, de vender sentença", disse o advogado, que pediu a absolvição sumária do senador.>
Ao votar, Cármen afirmou que estão presentes na denúncia os requisitos necessários para a instalação de processo criminal contra o senador.>
"[Como] Está presente na denúncia comportamento típico, com indícios de autoria e materialidade delitiva, a ação penal deve ser instaurada com recebimento da denúncia, o que me parece ser o caso dos autos", disse a ministra.>
Ela afirmou que não há indícios de que as declarações de Moro estejam protegidas pela imunidade parlamentar.>
"Consolidou-se na jurisprudência do Supremo sobre declarações feitas fora do Congresso Nacional que a imunidade não é absoluta", afirmou a ministra.>
Dino, que votou logo depois de Cármen, afirmou que a menção a Gilmar Mendes pelo ex-juiz da Operação Lava Jato "não foi uma escolha aleatória".>
"O ministro Gilmar Mendes julgou por diversas vezes, de modo restritivo, ações penais conduzidas pelo então magistrado Sergio Moro", afirmou Dino.>
Zanin, o terceiro a participar da votação, teve uma série de embates públicos com Sergio Moro quando advogava para o presidente Lula (PT) nas ações da Lava Jato.>
Após o julgamento, Moro afirmou que o vídeo foi gravado antes do exercício do seu mandato de senador em uma piada de festa junina.>
"Um vídeo gravado e editado por terceiros desconhecidos foi feito e divulgado sem meu conhecimento e autorização. O pedido para que os terceiros fossem identificados e ouvidos antes da denúncia não foi atendido", afirmou.>
"O recebimento da denúncia não envolve análise do mérito da acusação e no decorrer do processo a minha defesa demonstrará a sua total improcedência.">
A denúncia contra Moro foi apresentada no ano passado foi assinada por Lindôra Araújo, vice do então PGR Augusto Aras. Ela pediu que o senador seja condenado à prisão e que, se a pena for superior a quatro anos, ele perca o mandato.>
Na época, Moro se pronunciou sobre o caso no Senado. Ele afirmou ter sido pego de surpresa pela denúncia, sem que tivesse sido ouvido, e criticou o que chamou de "açodamento" da PGR. A Procuradoria era comandada por Augusto Aras.>
A ministra Cármen Lúcia relata a denúncia, segundo a qual Moro atribuiu ao ministro a prática do crime de corrupção passiva, relacionado à concessão de habeas corpus.>
Para Lindôra, ao imputar falsamente a prática do crime a ministro do STF, o senador agiu com a nítida intenção de macular a imagem e a honra de Gilmar, tentando desacreditar a sua atuação como magistrado.>
A representante da PGR disse ainda que o ex-juiz proferiu a frase em público, "na presença de várias pessoas, com o conhecimento de que estava sendo gravado por terceiro, o que facilitou a divulgação da afirmação caluniosa, que tornou-se pública em 14 de abril de 2023, ganhando ampla repercussão na imprensa nacional e nas redes sociais da rede mundial de computadores".>
Há duas semanas, em outro caso, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu por unanimidade rejeitar recursos que pediam a cassação do senador.>
A decisão foi tomada com apoio do presidente da corte, Moraes, que completou o placar de 7 a 0 a favor de Moro, após mobilização nos últimos anos de aliados de Lula (PT) e de Jair Bolsonaro (PL) pela perda de mandato do ex-juiz da Lava Jato.>
Em abril, Moro se reuniu com Gilmar em um movimento para estreitar a relação com o STF e tentar evitar um revés no julgamento da corte eleitoral.>
Essa não foi a primeira derrota de Moro no STF. Juiz da Lava Jato, Moro abandonou a magistratura para assumir o Ministério da Justiça do governo Bolsonaro, com quem se desentendeu – isso motivou seu pedido de demissão em abril de 2020.>
Já em 2021, o Supremo o considerou parcial nas ações em que atuou como juiz federal contra o ex-presidente Lula (PT). Com isso, foram anuladas ações dos casos tríplex, sítio de Atibaia e Instituto Lula.>
Diferentes pontos levantados pela defesa de Lula levaram à declaração de parcialidade de Moro, como condução coercitiva sem prévia intimação para oitiva, interceptações telefônicas do ex-presidente, familiares e advogados antes de adotadas outras medidas investigativas e divulgação de grampos.>
A posse de Moro como ministro de Bolsonaro também pesou, assim como os diálogos entre integrantes da Lava Jato obtidos pelo site The Intercept Brasil e publicados por outros veículos de imprensa, que expuseram a proximidade entre Moro e os procuradores da Lava Jato.>
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