Publicado em 27 de abril de 2023 às 14:41
BRASÍLIA - Em audiência pública nesta quinta-feira (27), a ex-ministra e hoje senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e seu colega Eduardo Girão (Novo-CE) tentaram entregar um feto de mentira ao atual ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, que recusou em nome de sua filha e rebateu o que chamou de "performance" e "escárnio".>
A sessão aconteceu na Comissão de Direitos Humanos do Senado. Damares também afirmou que tem compaixão pelo ministro e que "torce para ele dar certo", completando que ele comete "equívocos por falta de informação". Ela deixou a reunião antes do final.>
O ministro foi aplaudido mais de uma vez pelos presentes, inclusive quando recusou o feto e quando criticou a ditadura militar.>
"Eu vou deixar com o senhor um bebezinho de 12 semanas. Se o senhor puder levar com carinho e a gente entender que era isso que a gente queria fazer, esse bebezinho aqui ter direitos garantidos", disse Damares Alves, antes de seu colega, Girão, levantar-se para entregar o feto de mentira para o ministro.>
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Silvio Almeida
Ministro dos Direitos Humanos"Não quero receber isso, porque eu vou ser pai agora e sei muito bem o que significa isso. Isso para mim é uma performance que eu repudio profundamente. Com todo o respeito, [isso] é uma exploração inaceitável de um problema muito sério que temos no país", completou.>
Quando ministra, Damares agiu para impedir que uma menina de dez anos, que engravidou após estupro, pudesse abortar.>
A operação coordenada pela ministra tinha como objetivo transferir a criança de São Mateus, no Norte do Espírito Santo, onde vivia, para um hospital em Jacareí (SP), onde aguardaria a evolução da gestação e teria o bebê, apesar do risco para a vida da menina.>
Para tanto, Damares enviou à cidade capixaba representantes do ministério e aliados políticos que tentaram retardar a interrupção da gravidez e, em uma série de reuniões, pressionaram os responsáveis por conduzir os procedimentos, inclusive oferecendo benfeitorias ao conselho tutelar local.>
A própria Damares chegou a participar de pelo menos uma dessas reuniões por meio de videochamada, como mostram fotos obtidas à época pela Folha de S.Paulo.>
Pessoas envolvidas no processo afirmam ainda que os representantes da ministra seriam os responsáveis por vazar o nome da criança à ativista Sara Giromini, que o divulgou em redes sociais.>
A exposição da menina atenta contra o Estatuto da Criança e do Adolescente e fez da família da vítima alvo de ameaças e pressão.>
O caso veio à tona em 7 de agosto de 2020, quando foi revelado que a menina engravidara após quatro anos de estupro recorrente por um tio não consanguíneo.>
Durante a audiência no Senado, antes da confusão, Damares Alves discursou criticando a gestão de Silvio à frente da pasta e a saída do Brasil do Consenso de Genebra, aliança de países conservadores em defesa da família tradicional e contra o aborto.>
Em tom irônico, a ex-titular da pasta também afirmou ter "compaixão" pelo atual ministro, disse que ele "está começando" no cargo e que torce para ele dar certo.>
"Acho que os seus assessores não estão lhe municiando de informações precisas, e isso é muito perigoso para um gestor, porque isso pode incidir inclusive em ações judiciais. Então cuidado com as declarações", disse a ex-ministra.>
"Quando falar, pega os dados corretos que estão nos relatórios, não deixe sua assessoria lhe induzir a erros [...] o senhor comete alguns equívocos talvez por falta de informação", completou.>
Silvio Almeida defendeu seus assessores e disse que as informações são corroboradas por decisões do Supremo Tribunal Federal, que nos últimos quatro anos declarou inconstitucional uma série de medidas tomadas por Damares no ministério.>
Ele criticou a gestão anterior, que, segundo ele, deixou a pasta com pouco orçamento, e disse que foi necessário conseguir R$ 4 milhões por crédito suplementar para retomar os conselhos participativos, desmontados na gestão Bolsonaro.>
Silvio Almeida ainda afirmou que mais do que dobrou a verba para os programas de proteção aos defensores de direitos humanos e o de proteção a testemunhas.>
"Em nome da compaixão, não estamos aqui para sermos hipócritas. Sabemos muito bem o que o governo anterior pensava sobre as políticas de memória, verdade, justiça e não repetição. Sabemos que o presidente anterior gostava de ditadura, que ele louvava torturadores", disse.>
Afirmou que a saída do Consenso de Genebra teve apoio do Itamaraty e do Ministério da Saúde. E disse que o grupo é composto por regimes "que não gostam nem um pouco de democracia", como Arábia Saudita e Hungria.>
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