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Relatório inclui jornal paranaense Gazeta do Povo como site de notícias falsas

Relatório inclui jornal paranaense Gazeta do Povo como site de notícias falsas

Jornal paranaense de 101 anos diz que recebeu relatório da CPMI das Fake News com indignação e que encaminhou pedido para revisão de conteúdo

Publicado em 4 de junho de 2020 às 20:47

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Deputada federal Lídice da Mata (PSB - BA)
Deputada federal Lídice da Mata (PSB - BA) durante sessão virtual no Plenário da Câmara. Ela é a relatora da CPMI das Fake News. (Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados)

O relatório da CPMI (Comissão Mista Parlamentar de Inquérito) que apontou 2 milhões de anúncios da Secom (Secretaria de Comunicação) em veículos de conteúdo inadequado classificou o jornal paranaense Gazeta do Povo como canal de notícias falsas.

Entre os sites colocados nesta categoria estão ainda Terça Livre, Diário do Centro do Mundo e revista Fórum.

A Gazeta do Povo recebeu 5.480 anúncios. Terça Livre, 1.447, Diário do Centro do Mundo, 1.601, e o portal da revista Fórum, 54 mil.

Em resposta à Gazeta do Povo, a CPMI afirmou que a classificação como “site de notícias falsas” se deu por agências verificadoras. Segundo o jornal paranaense, as agências negaram a informação.

A relatora da CPMI, Lídice da Mata (PSB-BA), em nota, afirmou que foram adotados dois critérios para a classificação como site de notícias falsas.

O primeiro é o veículo ter publicado três ou mais matérias classificadas como "desinformativas" por sites checadores como Comprova, Agência Lupa e Estadão Verifica.

Outro critério mencionado pela deputada é o de canais que "contrariam consensos científicos, difundem teorias da conspiração ou apresentam conteúdos potencialmente danosos à saúde pública".

O documento feito por técnicos legislativos rastreou propagandas oficiais do governo em sites, aplicativos de telefone celular e canais de YouTube que veiculam conteúdo considerado inadequado pela CPMI.

As informações são referentes à campanha sobre a reforma da Previdência veiculada entre 6 de junho e 13 de julho de 2019, de acordo com o relatório, distribuídas na internet através da plataforma Adwords e Adsense do Google.

A plataforma distribui de forma automática aos sites conforme perfil ou objetivo a ser atingido pelo anunciante. É possível ao anunciante bloquear tanto sites específicos quanto categorias de assuntos.

Os consultores identificaram 843 canais considerados inadequados.

Entre esses canais estão 47 sites que divulgam notícias falsas, 741 canais do Youtube que foram removidos pela plataforma por descumprimento de regras, 12 sites com notícias sobre jogos de azar, 7 que fazem ofertas de investimentos ilegais e 4 com conteúdo pornográfico.

100 ANOS

A Gazeta do Povo completou 100 anos de funcionamento em 2019. Antes de migrar toda a sua operação para plataforma digital em 2017, o veículo esteve entre os dez maiores jornais do país em circulação.

Em nota, a direção da Gazeta do Povo afirmou que recebeu com indignação o fato de seu nome aparecer em um relatório produzido pela CPMI.

"A relação produzida pela CPMI foi divulgada sem consulta ao jornal, ou qualquer detalhe sobre como os consultores legislativos responsáveis pelo conteúdo chegaram a tal conclusão", diz.

"A Gazeta do Povo é um jornal com 101 anos de história e em todo esse período se dedicou ao jornalismo profissional, publicando somente informações verificadas. A busca pela verdade é parte fundamental de nossos princípios editoriais e sempre pautou nosso trabalho. Reafirmamos diariamente este compromisso com nossos leitores e assinantes", afirma.

O jornal disse que encaminhou um pedido à CPMI para que revise o conteúdo da publicação.

A ANJ (Associação Nacional de Jornais) pediu a urgente reparação do relatório.

"É lamentável e absolutamente surpreendente. Como um membro tradicional e de destaque na ANJ, a Gazeta tem sido, ao contrário, uma adversária permanente da desinformação e um veículo de ponta na defesa da pluralidade e do jornalismo profissional", disse o presidente da entidade, Marcelo Rech.

O presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Marcelo Träsel, afirmou ao jornal Gazeta do Povo que o episódio "demonstra os riscos de se gravar em lei um conceito de desinformação e deixar a cargo do Estado a classificação de uma notícia como falsa ou verdadeira".

Procurado, o Estadão Verifica informou que não classificou o jornal paranaense como um veículo de notícias falsas e não foi procurado pela CPMI para ceder informações sobre o assunto?.

Em nota, a Agência Lupa informou que foi à CPMI das Fake News como depoente para explicar seu trabalho e responder perguntas, conforme o previsto para a sessão.

"Nem naquele dia nem depois, forneceu qualquer tipo de informação que pudesse levar à validação de documentos produzidos pela comissão. Não é correto, portanto, afirmar que a Lupa foi consultada sobre uma lista de sites produtores de "notícias falsas"".

A Agência Lupa informou ainda não faz esse tipo de levantamento e, que já protocolou ofício junto à comissão para deixar clara esta posição. "As checagens da Lupa não devem ser usadas de

forma aleatória para classificar sites inteiros".?

O projeto Comprova ainda não respondeu aos contatos feitos pela reportagem.

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