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PSDB busca aval para acordo com MDB e resposta a Doria

PSDB busca aval para acordo com MDB e resposta a Doria

Presidente tucano tenta apoio da executiva partidária em meio a embate com ex-governador de SP

Publicado em 17 de maio de 2022 às 12:01

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CAROLINA LINHARES, JULIA CHAIB E RENATO MACHADO

O presidente do PSDB, Bruno Araújo, busca obter o aval da executiva do partido nesta terça (17) para dar seguimento a um acordo com o MDB sobre a candidatura da terceira via que, na prática, isola o ex-governador de São Paulo João Doria dentro da sua própria legenda. O movimento de Araújo é uma reação à carta em que Doria ameaça ir à Justiça caso o acordo costurado com o MDB o impeça de participar da disputa presidencial deste ano.

João Doria (PSDB) deixou o governo de São Paulo para tentar a Presidência da República
João Doria (PSDB) deixou o governo de São Paulo para tentar a Presidência da República. (Valter Campanato/Agência Brasil)

O acerto prevê que os dois partidos escolherão um candidato único - Doria ou a senadora Simone Tebet (MDB) - com base em uma pesquisa a ser apresentada na quarta (18). Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, os dois partidos estabeleceram um roteiro para lançar a emedebista e enterrar a candidatura de Doria.

Em resposta a isso, Doria divulgou a carta endereçada a Araújo, no sábado (14), cobrando que o presidente do PSDB respeite as prévias vencidas pelo ex-governador em novembro e o lance candidato a presidente.

A avaliação de tucanos da executiva é que, após a carta, é preciso que Araújo volte a consultar o partido sobre as tratativas com o MDB. Esses políticos apostam ainda que haverá maioria a favor da pesquisa e do acordo, numa derrota para Doria. Da parte de aliados do ex-governador, o resultado da reunião é minimizado e a estratégia de judicializar a questão é cogitada. A avaliação é que, no final das contas, PSDB e MDB lançarão candidaturas separadas.

Na análise de Doria, a escolha de um candidato foi superada pelas prévias e o estatuto do PSDB obriga os tucanos a lançá-lo ao Planalto na convenção partidária, entre julho e agosto. O entorno do ex-governador quer aguardar o desfecho da reunião para avaliar se será necessário recorrer à Justiça Eleitoral com a tese de que a executiva não tem poderes para ignorar as prévias. Há aliados de Doria, contudo, que defendem que a judicialização seja feita somente após a convenção.

Questionado, Araújo disse que não são comuns embates dentro de uma mesma sigla na Justiça. "É até comum assistir à judicialização de um partido contra outro, de um candidato contra outro. É pouco comum alguém judicializar contra seu próprio partido, isso não é da natureza da política", afirmou o dirigente, no Recife.

De maneira geral, membros do PSDB afirmam que, se Doria entrar na Justiça, vai escancarar a falta de respaldo que sua candidatura tem na sigla.

À reportagem o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) defendeu que outros nomes do partido sejam levados à convenção como possíveis presidenciáveis. O parlamentar quer uma candidatura própria tucana, mesmo que com poucas chances de êxito na eleição. Parte do PSDB diz esperar que Doria desista, abrindo espaço para o senador Tasso Jereissati (CE) ou o ex-governador Eduardo Leite (RS).

Outra ala mais pragmática não quer a candidatura própria, evitando um candidato que dificulte as campanhas aos legislativos. Esse cenário é visto ainda como uma forma de direcionar mais verba do fundo eleitoral para as bancadas.

Segundo parlamentares, na reunião desta terça Araújo precisa avaliar se ainda tem a autorização da executiva para negociar com o MDB; ou se a cúpula do partido pensa como Doria. O resultado pode ser que a executiva nacional do PSDB e as bancadas no Congresso Nacional, em sua maioria, desautorizem Doria. Há ainda a expectativa de que outras discussões apareçam na reunião, como o debate sobre os critérios da pesquisa e o prazo de 18 de maio para o anúncio do nome da terceira via -há quem diga que deve haver atrasos.

Ao convocar a executiva, Araújo mencionou que as negociações com o MDB tiveram início "com a notória anuência" de Doria, além da autorização da executiva e das bancadas. Entre os argumentos de Doria estão o de que ele pontua à frente de Tebet (3% contra 1% na pesquisa Quaest da semana passada) e o de que a candidatura da emedebista pode acabar derrubada pelo MDB, que tem alas divididas entre apoiar Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Os dados da pesquisa encomendada pelos dois partidos para nortear a escolha do candidato único foram coletados no final de semana. O Instituto Guimarães ouviu 2.000 eleitores em 23 estados. Segundo pessoas que acompanham o processo, o levantamento tem informações como intenção de voto, rejeição dos nomes e também avaliação sobre 30 atributos.

Os entrevistados foram questionados, por exemplo, sobre quem é mais experiente e corajoso entre Tebet e Doria. Das qualidades aferidas, algumas foram sugeridas pelos marqueteiros de ambos os pré-candidatos do MDB e do PSDB.

Antes mesmo de ser divulgada, a pesquisa é alvo de crítica no PSDB por ter sido realizada no final de semana. Aliados de Doria argumentam que isso poderia gerar distorções. Já no MDB a avaliação é que não há razão para questionar os resultados do levantamento. A cúpula do partido prefere não se envolver na disputa tucana. Reservadamente, dirigentes emedebistas se dizem confiantes de que Araújo tem o comando da situação.

Tebet, por sua vez, declarou nesta segunda (16) que recorrer à Justiça é um "direito" de Doria. Mas a aliados ela afirma acreditar que a judicialização tem pouco efeito prático, sob o argumento de que a Justiça tem evitado entrar em questões internas dos partidos.

Em evento nesta segunda, Tebet afirmou que será a candidata de seu partido se o resultado da pesquisa indicar que ela é o nome mais competitivo. "Amanhã [terça] é um dia decisivo e vale para mim e vale para o governador João Doria. Se porventura ele não aceitar os resultados da pesquisa e eu for a escolhida, eu sigo firme e forte. Agora, se amanhã o resultado dos partidos for de que o candidato é um outro nome, obviamente que eu tenho que ceder e observar as regras", afirmou.

"Esse [reação de Doria] é um problema do PSDB. [...] Eu já disse que estou pronta para subir no palanque dessa frente democrática, independente de estar na cabeça de chapa ou de vice", afirmou.

Nesta segunda, Araújo ainda rebateu a entrevista de Aécio ao jornal Folha de S.Paulo em que o deputado o acusa de tirar protagonismo da sigla e atuar como "advogado" do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB). "Aécio Neves tem razão, sou advogado do governador de São Paulo, mas faltou uma vírgula [na fala de Aécio]. Sou advogado do governador de SP, de Raquel Lyra, pré-candidata ao governo de Pernambuco, de Pedro Cunha Lima, pré-candidato do PSDB na Paraíba, de Eduardo Riedel, de Mato Grosso do Sul, de Eduardo Leite, pré-candidato no Rio Grande do Sul e do senador Alessandro Vieira (SE)", disse.

"Presidente do partido é advogado dos interesses do partido nos estados em que disputamos", acrescentou.

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