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Projeto no Rio arrecada bicicletas para uso de crianças nas favelas

Projeto no Rio arrecada bicicletas para uso de crianças nas favelas

O projeto chamado Pedalada do Amanhã começou no início deste ano. Desde então, já foram arrecadadas e distribuídas mais de 30 bicicletas

Publicado em 3 de dezembro de 2020 às 08:33

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Casas na favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro
Projeto atende favela do Rio de Janeiro. (Diego Herculano/Folhapress)

Ciclistas treinando na rua, crianças atentas a cada manobra. Toda semana era assim no Morro dos Macacos, zona norte do Rio de Janeiro. A garotada da comunidade parava em peso para ver os treinos do Giro de Noel, grupo de pedal da região.

Quase ninguém ali tinha bike, mas a vontade de pedalar era muita. E foi notando esse ímpeto que Leandro Tavares, um dos membros do Giro, quis botar os pequenos no meio da brincadeira: assim nascia o Pedalada do Amanhã.

A ideia era levar a cultura da bike ao maior número de crianças possível. O primeiro desafio dessa empreitada era driblar a falta de recursos de boa parte das famílias. Por isso Leandro, que trabalha como entregador em um pet shop, reservou seu tempo livre para iniciar uma campanha de arrecadação de bicicletas.

"Meus amigos e eu começamos a passar nas casas perguntando quem tinha alguma sem uso na garagem. Mesmo que com defeito. Depois a gente consertaria", conta.

O projeto começou no início deste ano. Desde então, já foram arrecadadas e distribuídas mais de 30 bicicletas. O Pedalada do Amanhã também passou a receber capacetes, camisas de ciclismo e até livros e cestas básicas. "A gente sempre tenta doar a bike com o capacete. Daí a criança aprende que é importante circular com segurança", diz Tavares.

A iniciativa já ficou famosa na região. "Sempre que eu chego do trabalho, vem aquela molecada querendo bicicleta", conta. Para organizar tantos pedidos, o projeto tem uma lista de espera. Conforme as bikes vão chegando, são reformadas e entregues ao próximo da fila.

Mas o Pedalada do Amanhã vai além das doações. Já com 37 voluntários, que também integram o Giro de Noel, o projeto promove passeios de bike, que são especialmente pensados para cada faixa etária e capacidade física. Crianças pequenas, que ainda têm pouca resistência, participam de pedaladas mais curtas pelos bairros da cidade.

Os mais avançados percorrem trechos maiores. "Mas daqui a pouco vai estar todo mundo no mesmo nível", aposta o idealizador.

O projeto já tem ao menos 50 crianças assíduas às atividades organizadas ao ar livre. Os encontros geram um senso de pertencimento, uma identificação coletiva com a bike e muita paixão pelo esporte.

Outro ponto do projeto é acompanhar os atendidos. Os monitores questionam quando alguma criança falta, procuram saber se ele está estudando e, por meio da bike, reforçar valores como o respeito ao próximo. Os pequenos ainda aprendem a consertar as próprias bicicletas quando necessário.

A proposta tem papel recreativo, mas também revela talentos. Lucas Doerzapff Galindo, por exemplo, com apenas seis anos, já deixou muito adulto impressionado pela sua energia. "Esse até nos emociona. Nunca se cansa. Se deixar, ele atravessa o morro sem ver", conta Leandro.

Lucas já tinha sua própria bike e não precisou de uma doação ao entrar para o projeto, mas o Pedalada do Amanhã deu um significado novo à bicicleta em sua vida. Ele não perde nem sequer um passeio. "Adoro brincar, subir ladeira, descer ladeira e fazer manobra", diz.

"Meu filho é pequeno, mas corajoso", conta o pai, Carloman Dantas Galindo Junior. "Ele é pequenininho, mas se sobressai. O dia que o vi descer de bicicleta com as crianças maiores, fiquei até com medo."

Para Carloman, o projeto tem transformado a dinâmica de toda a comunidade e com bastante aceitação também fora do Morro dos Macacos. "Muita gente dos bairros da zona sul agora também chega para ajudar com doações."

A construção de uma memória afetiva com a bike merece ser citada. São vários os encontros que vão ficar na lembrança. Um deles foi uma pedalada de 46 km até a praia de Adão, em Niterói, com 40 crianças.

Já se passaram meses, mas a criançada não se esquece e anseia por mais aventuras. Se depender de Leandro, não vão faltar histórias. "O próximo passeio desses mais distantes vai ser em uma cachoeira. Vamos programar assim que der", adianta. Os pedalantes do amanhã agradecem.

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