Publicado em 23 de julho de 2021 às 14:26
No momento mais difícil do mandato, o presidente Jair Bolsonaro desencadeou nos últimos dias nova estratégia de comunicação, menos dependente das redes sociais e voltada a dar mais capilaridade ao discurso governista. >
Desde que deixou no domingo (18) o Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde se tratou de uma obstrução intestinal, o presidente concedeu cinco entrevistas. Uma à TV Brasil, emissora do governo federal, e quatro a rádios --uma delas ao programa Voz do Brasil, também estatal. >
Em geral, as entrevistas tiveram perguntas pouco críticas e um ambiente que deixou o mandatário confortável para defender --sem questionamentos-- pautas caras ao bolsonarismo, como o chamado tratamento precoce contra a Covid e a suposta falta de segurança das urnas eletrônicas. >
As conversas com as rádios deram ainda a Bolsonaro a oportunidade de divulgar obras do governo nos locais onde as emissoras estão, em um esforço de difusão de notícias positivas pelo país. >
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O presidente escolheu a TV Brasil para iniciar a nova rodada de entrevistas. >
Na noite de segunda-feira (19), ele aproveitou a conversa com a emissora para anunciar sua intenção de vetar o fundão eleitoral de R$ 5,7 bilhões aprovado pelo Congresso. >
A entrevista, sem contrapontos, ainda deu ao presidente a oportunidade de criticar governadores e ressaltar as transferências feitas pela União a estados para o combate da pandemia da Covid-19. >
Em uma emissora oficial, o presidente não se deparou com perguntas sobre denúncias de irregularidades que têm surgido na CPI da Covid. >
Com o avanço das investigações, o presidente se vê envolvido em uma crise política. A popularidade do mandatário tem caído em recentes pesquisas de opinião pública, como em levantamento Datafolha. >
Em determinado momento, a entrevistadora lhe perguntou sobre o que ele vinha percebendo no "contato mais direto com a população". >
"Só quem está no meio do povo e sabe o que ele sente e entende as suas necessidades", respondeu Bolsonaro. >
No dia seguinte, o presidente inaugurou uma sequência de entrevistas a rádios. Na manhã de terça-feira (20), ele falou com a rádio Itatiaia, com sede em Belo Horizonte. >
Além de reafirmar o veto ao fundão, Bolsonaro disse que o ministro da Economia, Paulo Guedes, exagerou na elaboração do projeto da reforma tributária. Está em debate no Congresso mudanças na taxação do IR (Imposto de Renda) e dividendos. >
Bolsonaro também divulgou na entrevista a realização de obras em Minas Gerais, como a duplicação da BR-381. "É uma obra de duplicação de Belo Horizonte a Governadores Valadares. Vai ajudar em muito aí a logística de Minas Gerais." >
O modelo foi repetido em outras entrevistas a rádios ao longo da semana: a mistura de temas de repercussão nacional, como a reforma ministerial, com notícias sobre as localidades das emissoras. >
Na noite de terça, ele apareceu na Voz do Brasil sob a justificativa de comemorar os 86 anos do programa. "Temos dificuldades com parte da grande mídia, temos dificuldades com uma CPI que está funcionando no Parlamento", disse. >
"O desgaste existe, mas temos a consciência, a tranquilidade que venceremos esta fase também", ele afirmou. >
Nesta quinta (22), Bolsonaro foi entrevistado pela rádio Banda B, que alcança Curitiba e região metropolitana. >
Na ocasião, ao ser questionado sobre seu relacionamento com o governador Ratinho Júnior (PSD), ele tratou dos investimentos de Itaipu Binacional no estado. >
Recorrer a rádios regionais não é uma estratégia nova para presidentes. >
O expediente foi amplamente usado por antecessores de Bolsonaro, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em razão da ampla capilaridade das emissoras. >
O petista mantém a estratégia de dar entrevistas a rádios inclusive atualmente, como provável adversário de Bolsonaro nas eleições de 2022. >
As últimas pesquisas de opinião apontam favoritismo de Lula. O ex-presidente ampliou vantagem nas intenções de voto para 2022 e cravou 58% a 31% no 2º turno, de acordo com pesquisa mais recente do Datafolha. >
Bolsonaro considera parte da imprensa de alcance nacional adversária do governo. Tradicionalmente, ele concentra sua comunicação nas redes sociais --ao falar com as rádios, transmite ao vivo as conversas em suas plataformas. >
Ele costuma fazer anúncios relevantes em seus perfis no Facebook e no Twitter. Divulga diariamente, por meio de um site bolsonarista, vídeos das conversas que mantém com apoiadores na frente do Palácio da Alvorada. >
Com a aproximação das eleições do ano que vem, conselheiros do mandatário avaliam que concentrar as aparições de Bolsonaro apenas nas redes sociais não é suficiente. >
Eles afirmam que o cenário eleitoral de 2022 indica uma disputa difícil e que o presidente precisa intensificar a divulgação de ações do governo em meios que tenham alcance pelo interior e por cidades de pequeno e médio porte. >
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