Publicado em 24 de maio de 2022 às 15:00
Uma pesquisa feita por cientistas americanos encontrou uma possível associação entre ser pré-diabético (quando o nível de açúcar no sangue está entre 100 e 125 miligramas por decilitro) e ter ataques cardíacos, mesmo em indivíduos jovens, com idade entre 18 e 44 anos.>
De acordo com o estudo, ter o diagnóstico de pré-diabetes pode indicar um risco 1,7 vezes maior de hospitalização por problemas cardíacos em comparação com aqueles com nível de açúcar no sangue normal (abaixo de 100 mg/dL).>
Apesar desse risco mais elevado, os pesquisadores afirmam que não foi encontrada uma associação entre pré-diabetes e a ocorrência de parada cardíaca ou infarto.>
Os resultados preliminares da pesquisa foram divulgados no dia 14 de maio no seminário Qualidade de Atendimento e Desfechos de Pesquisa Científica, organizado pela Associação Americana do Coração, em Reston, Virginia (EUA).>
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O levantamento analisou dados de 7,8 milhões de americanos com idade entre 18 e 44 anos hospitalizados em 2018 no país, de acordo com dados da Amostra Nacional de Internados, que reúne os dados públicos de internação nos Estados Unidos.>
Do total de pacientes analisados, 31.000 (0,4%) possuíam níveis de açúcar no sangue que os classificavam como pré-diabéticos. Entre eles, a taxa de incidência de ataque cardíaco era de 21,5 a cada mil indivíduos, enquanto nas pessoas com nível de sangue normal era de 3 a cada mil.>
Além disso, a prevalência de outros fatores de risco, como hipertensão, colesterol elevado (68,1% contra 47,3%) e obesidade (48,9% contra 25,7%) era maior nos pré-diabéticos. Os cientistas também observaram que os adultos pré-diabéticos internados para ataque cardíaco eram em sua maioria homens negros, hispânicos ou asiáticos, em comparação com outras etnias.>
Apesar dessa incidência aumentada de ataque cardíaco, os cientistas não encontraram maior ocorrência de infartos ou acidentes vasculares em pessoas com pré-diabetes em comparação com os não pré-diabéticos.>
"É possível que a pré-diabetes possa influenciar os resultados a médio ou longo prazo após um infarto do miocárdio, considerando que não é uma condição de saúde tão aguda quanto o diagnóstico de diabetes tipo 2", disse o pesquisador e autor do estudo Akhil Jain, do Centro Médico Católico de Misericórdia em Darby (Pensilvânia).>
Segundo Jain, se não tratada, a pré-diabetes pode progredir rapidamente para diabetes do tipo 2, que é um fator conhecido de risco cardiovascular. "Estudos futuros devem se concentrar mais em desfechos com pré-diabetes e indivíduos sem essa condição em pacientes hospitalizados que tiveram infarto para avaliar esse risco", explica.>
De acordo com ele, o estudo tem como objetivo indicar quais medidas de saúde pública e campanhas devem ser feitas para reverter o quadro e evitar novos diagnósticos de diabetes no futuro. "É essencial criar uma conscientização entre adultos jovens sobre a importância de realizar exames de rotina que podem indicar diagnóstico de pré-diabetes, controlar alimentação e realizar atividades físicas para prevenir ou atrasar o desenvolvimento de diabetes tipo 2 e a doença cardíaca que pode estar associada", disse.>
Nos EUA, segundo dados do Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês), 88 milhões de adultos possuem diagnóstico de pré-diabetes, o que equivale a mais de um terço da população. O Brasil não possui dados atualizados, mas uma estimativa de 2015 pela Sociedade Brasileira de Diabetes estima que cerca de 20% da população adulta era pré-diabética, ou 40 milhões de pessoas.>
Já a porcentagem de adultos vivendo com diabetes cresceu nos dois últimos anos, chegando a 9,14%, ou cerca de 15 milhões de pessoas.>
Para Paulo Lotufo, epidemiologista e professor titular da Faculdade de Medicina da USP, existe às vezes uma interpretação equivocada do que é pré-diabetes, pois, segundo ele, diversos mecanismos podem atuar para quebrar a chamada homeostase (equilíbrio) glicêmica no organismo, não somente o consumo de açúcar.>
"Basicamente, sabemos que quanto mais afastado do limite de glicemia que é considerado normal, de 60 mg/dL, aumenta-se o risco de ter diabetes, mas o nível de açúcar que pode ser classificado como pré-diabetes é algo questionável. De toda forma, sabemos que há um aumento do nível do açúcar acima de 100 mg/dL em pessoas que estão acima do peso, e mesmo em indivíduos jovens, aumentando o risco de doenças cardíacas", explica.>
De acordo com Lotufo, porém, é importante que as pessoas que possuem a chamada síndrome metabólica --colesterol alto, sobrepeso, nível glicêmico alto-- fiquem atentas e tentem reverter o quadro antes de chegar ao diabetes tipo 2, quando são necessários tratamentos com medicamentos.>
"É muito comum ver no atendimento de rotina clínica homens que chegam com sobrepeso, nível glicêmico elevado, colesterol e que ganharam peso muito rápido. A perda de peso nesses pacientes em pouco tempo já é suficiente para baixar a glicemia para um nível inferior a 100 mg/dL", explica.>
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