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Paes deve reunir apoios críticos e Crivella fica isolado com Bolsonaro

Paes deve reunir apoios críticos e Crivella fica isolado com Bolsonaro

As siglas ainda não decidiram se vão aderir ao ex-prefeito carioca do DEM, mas sinalizaram uma rejeição ao atual mandatário do Rio de Janeiro

Publicado em 16 de novembro de 2020 às 19:17

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Eduardo Paes (DEM) a direita e  Marcelo Crivella (Republicanos) no lado esquerdo
Eduardo Paes (DEM) a direita e Marcelo Crivella (Republicanos) no lado esquerdo. (Montagem (Marcos Oliveira/ Agência Senado /Ricardo Borges/ Folhapress))

A rejeição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve levar ao ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) uma série de "apoios críticos" de membros das principais siglas no segundo turno da disputa no Rio de Janeiro.

O atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), não conseguiu sequer o apoio do vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara, Luiz Lima (PSL), que declarou neutralidade, e deve seguir apenas com o endosso do presidente.

Uma das principais lideranças de esquerda da cidade, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) defendeu o "voto crítico" em Paes a fim de impedir uma vitória de Bolsonaro na cidade. O PSOL ainda vai definir sua posição oficial.

"O Eduardo Paes não deixa de ser quem ele é, nem a gente muda de opinião sobre ele. Mas é muito importante derrotar o Crivella. Existe um sentimento na sociedade de que o Rio nunca passou por uma situação tão grave e tem responsável por isso. Não se trata de criar ilusão sobre Eduardo Paes, mas de ter a certeza do que representa o Crivella", disse Freixo, que defenderá esse posicionamento dentro do partido.

O PSB, que apoiou Martha Rocha (PDT), ainda definirá seu posicionamento no segundo turno. Mas o presidente regional da sigla, o deputado Alessandro Molon, afirmou que "é impossível" um apoio a Crivella.

"Não vejo nenhuma hipótese do PSB apoiar o candidato do Bolsonaro", afirmou Molon. O PSB compôs a chapa de Paes em 2018 na eleição para o governo estadual.

Martha, terceiro lugar na disputa, afirmou que não fará campanha a nenhum dos dois candidatos que a atacaram no primeiro turno. O presidente do PDT, Carlos Lupi, também disse que vai propor à sigla para que não endosse nenhuma candidatura no Rio de Janeiro.

"O partido, como instituição, não deixará que um militante seu use a sigla, a bandeira, a história para apoiar qualquer candidatura. Ninguém do PDT terá autorização para negociar cargo. De um lado estão o fundamentalismo religioso e o Bolsonaro, que sempre combatemos. E do outro lado está a covardia, o desrespeito e o jogo baixo, pequeno, que não aceitamos", disse Lupi.

Paes não fará movimentos explícitos para obter apoio dos adversários derrotados. Sua campanha avalia que isso pode nacionalizar a disputa, já que a razão de boa parte do "voto crítico" em seu favor se deve à intenção de derrotar Bolsonaro.

Ele quer evitar ter a imagem vinculada à de algum potencial adversário de Bolsonaro em 2022 para tentar manter a disputa como uma comparação das duas gestões municipais.

"Vou buscar apoio de todos os cariocas, sejam eles do campo ideológico à direita, esquerda. Vemos hoje uma enorme insatisfação com uma gestão de um prefeito despreparado, de uma pessoa que tem feito a população sofrer. Independente se a pessoa tem um viés mais de esquerda ou de direita, acho que ela quer que a cidade funcione", afirmou Paes.

A rejeição a Crivella fez com que nem o bolsonarista Luiz Lima, que ficou em quinto lugar, apoiasse o prefeito.

"Quero ainda dizer que os meus valores, os meus princípios e as minhas verdades não estão à venda. O seu voto não será um motivo para negociação. Não vou apoiar nenhum dos candidatos que chegaram ao segundo turno", afirmou Lima.

Paes deve centrar sua campanha na comparação entre a sua administração e a do atual prefeito, mal avaliada. Deve apostar na imagem de bom gestor.

"A cidade precisa de gestão, de alguém que dê solução para os problemas. O carioca sabe a tragédia que representa a gestão Crivella. Sua rejeição tem a ver com sua péssima administração", disse Paes na noite deste domingo, em entrevista à imprensa.

Crivella, por sua vez, apontará um suposto caos financeiro deixado por Paes como a causa de problemas em sua gestão, bem como destacar casos de corrupção na administração do adversário.

"Bom gestor é quem escolhe secretário que não rouba e não é preso", afirmou Crivella ao votar, em referência ao ex-secretário de Obras da gestão Paes, Alexandre Pinto, que confessou ter recebido propina e implicou o ex-prefeito no esquema de corrupção.

Crivella também pretende explorar ao máximo sua associação ao conservadorismo religioso. O objetivo é tentar aglutinar o eleitorado evangélico em torno de sua candidatura, estratégia que garantiu sua vitória em 2016 contra Freixo.

Para isso, ele terá de desfazer a neutralidade adotada por alguns líderes evangélicos no primeiro turno. O pastor Silas Malafaia é um dos que mantêm boa relação com Paes –que financiou por alguns anos a Marcha para Jesus– e evitou apoiar o bispo licenciado da Igreja Universal.

Na simulação de segundo turno divulgada pelo Datafolha no último sábado (14), Crivella e Paes estavam em empate técnico entre eleitores evangélicos (42% contra 38%, respectivamente).

Fora do segundo turno, as duas candidatas da esquerda fizeram avaliações distintas sobre a pulverização dos votos.

Martha afirmou que a pesquisa Ibope, que mostrava Benedita numericamente à frente dela no sábado (14), fez com que a petista absorvesse parte dos seus votos, inviabilizando sua ida ao segundo turno.

"Minha candidatura era a viável para tirar o Crivella do segundo turno", afirmou ela.

Benedita, por sua vez, afirmou que o resultado mostrou que o PT "não está morto no Rio".

"Não podemos ficar sem uma candidatura do nosso campo. O PT, além de ter feito aliança com o PC do B, demarcou nossa questão no ponto de vista da esquerda", afirmou ela.

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