Publicado em 4 de agosto de 2020 às 14:36
Com projeção de perda de até R$ 31 bilhões no orçamento da educação, municípios temem não ter dinheiro para a volta às aulas presenciais. A reabertura das escolas depende da compra de materiais de higiene e saúde, mas as cidades enfrentam queda de arrecadação e ausência de recursos emergenciais da União. >
Relatório do Movimento Todos Pela Educação e do Instituto Unibanco indica que, apesar da redução orçamentária, os municípios tiveram neste ano um aumento dos custos por aluno já que tiveram de investir emergencialmente nas atividades a distância e em estratégias para o auxílio alimentação. O custo médio adicional foi de R$ 770 por estudante.>
O relatório indica uma redução de R$ 31 bilhões dos R$ 154 bilhões disponíveis somente nos recursos dos municípios, quando se considera uma retração de 20% na carga tributária vinculada à educação.>
Para uma reabertura segura das escolas, as secretarias terão de garantir o distanciamento entre alunos, equipamentos de proteção individual, materiais de limpeza e higiene. Além de manter atividades a distância para os estudantes que não retornarem presencialmente.>
>
O estudo destaca ainda que 55% dos municípios não iniciaram ou estão em fase inicial de planejamento para o retorno das aulas presenciais. O levantamento foi feito pela FNP (Frente Nacional de Prefeitos), com 82 secretarias municipais de educação. Apenas 15% já iniciaram ações concretas para a retomada, o que inclui a compra de materiais.>
"A situação dos municípios é mais complicada e complexa, por ser uma rede mais fragmentada e mais frágil do ponto de vista do financiamento e gestão de recursos. Não é só a falta de dinheiro, mas a falta de coordenação e orientação do Ministério da Educação para as redes de ensino provoca esse desalinhamento", disse Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação.>
Desde o início da pandemia, o Ministério da Educação não criou medidas de apoio de financiamento às redes de ensino. Procurada, a pasta não respondeu se planeja alguma ação de auxílio aos municípios na volta às aulas.>
A única ação desenvolvida pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) foi a autorização do Ministério da Saúde para transferência de R$ 454 milhões para as escolas públicas comprarem materiais de higiene.>
O recurso, no entanto, representa pouco mais de R$ 10 por aluno, já que a rede pública tem cerca de 40 milhões de estudantes nas etapas da educação básica (da educação infantil ao ensino médio).>
Em Novo Gama, em Goiás, havia previsão de retorno gradual das aulas a partir desta segunda (3). A retomada foi adiada para setembro depois do aumento de casos de coronavírus na região. O município ainda não conseguiu comprar os materiais necessários para a reabertura das escolas.>
"Tivemos queda de 25% nos repasses do Fundeb (principal mecanismo de financiamento da educação básica) e só recebemos esse recurso da Saúde, que é muito pequeno diante do que precisamos comprar. Vamos precisar de mais tempo para planejar essas compras", disse Maria da Guia de Almeida, secretária do município.>
Em Atibaia, no interior de São Paulo, a prefeitura está fazendo um levantamento de ações para economizar recursos no orçamento da educação e fazer as compras necessárias ao retorno das aulas em 8 de setembro, conforme o plano do governador João Doria (PSDB). Eventos, compras de livros e materiais já foram suspensos. O dinheiro ainda é insuficiente para a aquisição dos epis.>
"Recebemos esse recurso de R$ 10 por aluno, que é irrisório. Precisamos comprar máscaras, álcool em gel, termômetros, contratar mais equipes de limpeza para as escolas, transporte escolar. São várias as ações necessárias para a volta segura e esse recurso é insuficiente", disse a secretária Márcia Bernardes.>
Em Estrela, no Rio Grande do Sul, a queda na disponibilidade de recursos também preocupa o planejamento para a reabertura das escolas. Com a previsão de retomada em setembro, o município deve iniciar as licitações nas próximas semanas.>
"Estamos com muita dificuldade pela falta de recursos. Voltar às aulas presenciais vai exigir um investimento alto, não é só dar máscara aos alunos e colocar álcool em gel nas salas", disse o secretário Marcelo Mallmann.>
Ricardo Henriques, superintendente do Instituto Unibanco, afirmou que é preciso a articulação de diversas áreas para que a retomada das aulas presenciais seja possível com segurança no país. Ele destacou a urgência da aprovação do projeto de lei, em tramitação na Câmara, que prevê um pacote anticolapso financeiro das redes de educação - com montante previsto de R$ 31 bilhões.>
"Sem material de higiene, equipamento de proteção, não tem como retornar às aulas. É preciso que essa ação seja coordenada. O Ministério da Educação, da Economia ou o da Saúde precisam prever esse recurso para as redes de ensino, tem que ser uma agenda governamental", disse.>
Henriques destacou ainda que a ausência do Ministério da Educação na coordenação da volta às aulas levou os governos estaduais a assumir a responsabilidade do planejamento para a reabertura das escolas. "Diante de uma situação tão complexa e incerta, como a pandemia, é natural que os municípios esperem essa orientação, parâmetros de segurança. Como não há esse suporte da União, os estados assumiram essa tarefa".>
Cruz destacou que as redes municipais são responsáveis pela maior parte das matrículas nos anos iniciais da educação básica (educação infantil e ensino fundamental). Para ela, o prejuízo na aprendizagem nestes anos pode ter consequências graves para a vida escolar dos estudantes.>
"Quanto mais se demora para coordenar uma reação e um planejamento para garantir o ensino aos estudantes nesse contexto, pior e mais duradouros serão os efeitos da crise da pandemia na educação. A crise nos municípios tem um efeito bola de neve para a educação básica, para toda a trahetória escolar dos alunos", disse.>
Apesar de a maioria das redes afirmar que mantem as atividades escolares a distância, as desigualdades educacionais no país têm se agravado com a situação. Diversas famílias vivem em condições precárias, sem acesso à internet e às tecnologias necessárias (como computador e celular) para participar das aulas.>
O levantamento da FNP identificou que 22% dos municípios não estão realizando nenhuma atividade educacional de forma remota, nem conseguindo estabelecer comunicação com as famílias.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta