Publicado em 28 de agosto de 2020 às 11:00
No Brasil, apenas 12% do efetivo da Polícia Militar é formado por mulheres. São 357.501 pessoas do sexo masculino e 46.180 do sexo feminino entre praças e oficiais, segundo dados da Pesquisa Perfil das Instituições de Segurança Pública. >
Na avaliação de especialistas, essa diferença representa um problema e tem como uma das justificativas a limitação de vagas para mulheres em concursos públicos em alguns Estados.>
A pesquisa foi realizada pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Publicada desde 2014, pela primeira vez está sendo disponibilizada através de um painel com os seguintes temas: efetivo, estrutura, atividades, equipamentos e capacitações.>
A maior diferença está no Ceará, as mulheres representam 4% (782) do total do efetivo. Em seguida está o Pará com apenas 6% (974) do efetivo formados por pessoas do sexo feminino. Já nos estados do Piauí, Mato Grosso, Santa Catarina e Paraná o efetivo feminino corresponde a 8% do total.>
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Natália Pollachi, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, afirma que um dos fatores que levam a essa realidade começa durante a seleção dos candidatos nos concursos públicos. Em alguns estados, existe cota máxima de 20% para a aprovação de mulheres.>
"Outro argumento usado pelas corporações para chamar menos mulheres seria a falta de equipamentos menores, como coletes balísticos, pistolas. São justificativas que não fazem sentido. Como os equipamentos são de uso individual, diante de uma nova turma haveria a necessidade de apenas fazer uma compra adequada", afirma.>
Para Jacqueline Sinhoretto, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), outra justificativa do poder público para essa diferença é que a profissão requer força física.>
Na sua visão, esse pensamento é equivocado, porque o trabalho do policial deveria ser de inteligência e técnica na maior parte das vezes. Acrescenta ainda que não existe um trabalho que não possa ser realizado por mulheres.>
"O trabalho da polícia requer inteligência, é perceptível que quanto maior o nível de escolaridade exigido nos concursos públicos, maior o número de mulheres. Elas conseguem ter um desempenho melhor quando as provas são de conhecimento específico", relata.>
A gerente de projetos do Instituto Sou da Paz diz acreditar ser necessário aumentar a participação de mulheres nas forças de segurança, inclusive, nas esferas de decisão para que se possam evitar injustiças, garantir atendimento a problemas específicos e, gradualmente, eliminar as dinâmicas de violência pautadas pelo gênero.>
"No Brasil não há políticas afirmativas, mas editais com cotas máximas para mulheres, essa realidade precisa ser mudada", destacou.>
A Polícia Militar do Ceará (PMCE) informou, por nota, que no último concurso, realizado em 2016, o percentual de vagas destinado exclusivamente para mulheres foi de 5%. Atualmente, o percentual de vagas está em processo de mudança para 15%.>
O policiamento feminino teve início com a criação da Companhia de Polícia Militar Feminina, tendo sua implantação em 1994 com a publicação do edital que deu início ao processo de seleção através de concurso público, para recrutamento, seleção, matrícula e admissão aos Cursos de Formação de Oficiais, Sargentos e Soldados femininos.>
"As policiais são distribuídas nos mais diversos tipos e modalidades de policiamento de rua, assim como, ocupam funções de liderança e posições estratégicas.", informou.>
Já o Comando Geral da Polícia Militar de Mato Grosso disse que avalia o efetivo feminino considerável, mas reconhece que, em termos quantitativos, há deficiência em todo efetivo da Polícia Miltar de Mato Grosso, no masculino e feminino.>
"Para corrigir essa deficiência se faz necessária a realização de concurso público. Em razão da crise financeira e, mais recentemente, a pandemia da Covid-19, o estado ainda não realizou concurso para ingresso de novos policiais, femininos e masculinos", destacou em nota.>
A Polícia Militar de Roraima esclareceu, por nota, que no estado há 297 policiais militares mulheres e 1.274 policiais do sexo masculino. A diferença em relação aos dados do MJSP tem relação com a aposentadoria de 77 policiais.>
"Para compor o efetivo, está em andamento o concurso público para provimento de 400 vagas, que em setembro entrará para terceira fase", disse a nota, não esclarecendo a diferença por sexo.>
Os estados do Ceará, Pará e Piauí foram procurados por se tratarem dos entes da federação com menos quantitativo de mulheres, mas não se manifestaram.>
A Pesquisa Perfil das Instituições de Segurança Pública tem como base os dados coletados dos estados brasileiros em relação ao caráter administrativo, como recursos humanos, materiais, capacitação e valorização profissional. Os dados se referem ao ano de 2019.>
A pesquisa tem o objetivo de produzir, de forma integrada com os estados, informações em âmbito nacional que viabilizem a construção de políticas públicas para o fortalecimento das organizações do Sistema Único de Segurança Pública.>
Alessandro Moretti, diretor de Gestão e Integração de Informações da Senasp, diz que a nova ferramenta tem como objetivo conferir maior transparência e facilitar o acesso aos dados das instituições de segurança pública.>
"O que nós pretendemos com o painel é deixar a pesquisa mais clara e de fácil acesso para que as pessoas possam estudar os dados, até para despertar o debate. Além de auxiliar gestores na formulação, implementação, execução, acompanhamento e avaliação de políticas públicas", destacou.>
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