Publicado em 29 de julho de 2022 às 11:28
SÃO PAULO - O registro da primeira morte por varíola dos macacos no Brasil nesta sexta-feira (29) é um indicativo de que é importante aumentar os esforços para conter a alta disseminação do vírus monkeypox no país, afirmam especialistas. >
Para Julio Croda, médico infectologista e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, o anúncio acende um alerta importante. "Até o momento não tínhamos paciente grave. Agora, inclusive, temos um óbito.">
A morte foi de um homem de 41 anos imunossuprimido e com histórico de comorbidades, incluindo câncer. Segundo o Ministério da Saúde, o paciente "ficou hospitalizado em hospital público em Belo Horizonte, sendo depois direcionado ao CTI [terapia intensiva]. A causa do óbito foi choque séptico, agravada pela monkeypox". A Secretaria da Saúde de Minas Gerais também confirma que o paciente já estava em acompanhamento para "outras condições clínicas graves".>
Clarissa Damaso, virologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e assessora do comitê da OMS (Organização Mundial da Saúde) para pesquisa com vírus da varíola, diz que pessoas imunossuprimidas têm maior risco para quadros graves da doença.>
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"Essa morte é algo que já prevíamos que poderia acontecer. Sabemos que grupos de gestantes, crianças e pessoas com imunossupressão são aqueles que devemos prestar maior atenção porque pode haver complicações muito graves da infecção por monkeypox.">
O óbito também eleva a preocupação para o grau de disseminação que a doença apresentou nos últimos dias. Informações do Ministério da Saúde desta sexta apontam 1.066 casos da doença. Em 9 de julho, havia 218 diagnósticos confirmados no país.>
"Temos que intensificar os esforços para conter essa doença", afirma Damaso.>
Em todo o mundo, os casos estão concentrados em homens que fazem sexo com outros homens com múltiplos parceiros sexuais. No entanto, o vírus pode infectar qualquer pessoa e, desse modo, atingir grupos com maior risco.>
"Nós sabemos que a transmissão deve se expandir para outros grupos e para contato domiciliares. Já temos casos confirmados em crianças", diz Croda.>
O infectologista ainda diz que a morte é um sinal de alerta para um melhor preparo do Brasil no que diz respeito à vacinação contra a varíola dos macacos. "É importante entender qual seria o grupo prioritário da vacina. Em relação à gravidade, talvez sejam as pessoas imunossuprimidas", diz.>
O país não conta com imunizantes e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou nesta segunda (25) que a vacinação deve ser restrita a grupos prioritários, como profissionais da saúde.>
A pequena capacidade de fabricação das vacinas contra a varíola dos macacos é outro problema apontado pelos especialistas. "Há muito poucos fabricantes no mundo e eles não têm uma produção nessa escala que precisamos atualmente", explica Damaso.>
Ela também ressalta que não existem indicações para a vacinação em massa. As recomendações normalmente apontam para profissionais de saúde. Pessoas que tiveram contato com infectados também podem receber o imunizante porque ele consegue barrar a evolução da infecção mesmo após a exposição ao vírus.>
A vacina Jynneos, da farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, é o único imunizante licenciado no mundo para a varíola dos macacos. Ela já foi aprovada para prevenção da doença por importantes agências internacionais, como o FDA (Agência de Drogas e Alimentos dos EUA) e a Comissão Europeia.>
Outra possibilidade é a utilização de vacinas que foram desenvolvidas para prevenção da varíola comum. Um desses casos é a ACAM2000, que está sendo utilizada contra monkeypox nos Estados Unidos.>
Nesta sexta (29), a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgaram recomendações para evitar a infecção por monkeypox. As organizações explicam que os sintomas comuns à varíola dos macacos, como as lesões na pele dos pacientes, podem ser confundidos por outras doenças.>
"A SBU e a SBI recomendam que, diante de suspeita, que se acione a vigilância epidemiológica de cada região para orientações quanto à coleta de amostra e análise laboratorial, e, sempre que possível, seja feito um registro fotográfico das lesões", afirmam as sociedades em nota.>
Medidas para prevenção também devem ser tomadas, como higienização constante das mãos com álcool 70% ou água e sabão, diminuir o número de parceiros sexuais e isolamento em caso de suspeita da infecção.>
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