Publicado em 4 de janeiro de 2023 às 20:31
BRASÍLIA, DF- Marina Silva tomou posse como ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática nesta quarta-feira (4) e afirmou que o país terá o desafio de cumprir com o Acordo de Paris, de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025, com relação ao que era em 2005.>
A ministra também revelou o primeiro nome do primeiro escalão da pasta: o ambientalista João Paulo Capobianco foi escolhido para ser secretário-executivo, cargo que já ocupou nas outras gestões de Marina à frente do ministério.>
"O Brasil tem desafio para honrar o compromisso do Acordo de Paris", disse. Trata-se de uma área em que houve retrocesso devido ao aumento das emissões de carbono decorrentes do desmatamento, que se acirrou nos últimos quatro anos.>
No governo Bolsonaro (PL), o Brasil aumentou, em vez de reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Em 2021, por exemplo, o aumento foi de mais de 12% com relação ao ano anterior.>
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Ela ainda comemorou o retorno do Serviço Florestal e da ANA (Agência Nacional de Águas) para o guarda-chuva do Meio Ambiente, órgãos que foram transferidos para outras pastas pelo ex-ministro bolsonarista Ricardo Salles. E ressaltou a criação de um conselho de questões ambientais na estrutura da Presidência.>
Exaltou ainda o esforço da sociedade civil e de servidores no combate ao desmonte da área na gestão Bolsonaro, e lembrou o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips como sintoma simbólico desse processo.>
"O estrago só não foi maior por conta de organizações, servidores públicos e parlamentares que se colocaram à frente de todo esse processo de desmonte. Sobretudo servidores públicos e também setores do Judiciário, que junto com essa sociedade corajosa, se colocaram à frente como verdadeiros anteparos da resistência da luta ambiental", disse Marina.>
"Basta de perseguição e assédio institucional. Vocês merecem e serão respeitados", acrescentou, com relação aos servidores, e disse ainda que o combate ao racismo ambiental será um dos paradigmas de sua gestão.>
Finalmente, ela disse também que, além de combater atividades como o garimpo ilegal e o desmatamento, o país tem como meta recuperar 12 mil de hectares de área degradada.>
"Que a gente deixe de ser o pior cartão de visitas para nossos interesses estratégicos e passe a ser o melhor. Se as pessoas querem produtos de base sustentável, aqui deverá ser o endereço", completou.>
A posse de Marina aconteceu no Palácio do Planalto, diante de um salão lotado, com fila de dezenas de pessoas — grande parte delas acabou ficando para fora, pela ocupação do local. Estiveram no palco, ao lado de Marina, o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, a primeira-dama, Janja, e a ministra da Mulher, Cida Gonçalves, entre outras autoridades e pessoas da área ambiental.>
Rui Costa reforçou que a questão ambiental será transversal no governo e que representantes da pasta atuarão desde o início da concepção de propostas, não só revisando a viabilidade delas, como acontece atualmente.>
"Não há tema mais relevante que o da sustentabilidade, o tema da vida e da humanidade", acrescentou Alckmin.>
"Papagaios e periquitos agora se encontram em festa" ao saber que a política ambiental está no mais alto escalão de prioridades do governo, disse Marina.>
Marina Silva retorna à pasta após quase 15 anos e sob um cenário de enfraquecimento da fiscalização nos últimos anos e empoderamento do crime na Amazônia, com organizações articuladas e atuantes na exploração de ouro em terras indígenas, grilagem e esquemas de madeira ilegal.>
Por outro lado, a pauta ambiental recebeu especial protagonismo de Lula durante a campanha presidencial, alçada a uma das principais pautas do então candidato, como oposição a Bolsonaro. O tema esteve presente em todos os importantes discursos do petista, inclusive nos de posse, quando prometeu lutar pelo desmatamento zero.>
Uma das novidades de sua pasta será a uma secretaria especial voltada exclusivamente para controle e combate ao desmatamento. Ela também propôs a criação da Autoridade Climática, autarquia que deve ser fundada apenas em março, e conseguiu que o nome da pasta recebesse o adendo de "Mudança Climática" -a sigla MMA, no entanto, foi mantida.>
Nos primeiros atos após empossado, o presidente também reestabeleceu instâncias do Meio Ambiente que haviam sido retiradas da pasta na gestão anterior.>
Dentre outras coisas, um conjunto de seis medidas serviu para restabelecer o Fundo Amazônia, abrir espaço para a reestruturação do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e revogar a decisão que flexibilizava as leis de combate ao garimpo ilegal.>
Lula ainda assinou outro decreto que, entre outros pontos, restabelece o PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal). A medida já havia sido anunciada pela ministra Marina Silva em seu primeiro dia após ter sido destacada para chefiar a pasta.>
O texto ainda determina que existam planos próprios para os biomas cerrado, caatinga, pampa e Pantanal, além de criar uma Comissão Interministerial Permanente de Prevenção e Controle do Desmatamento -instância essa que será responsável por monitorar a aplicação das estratégias de combate à destruição da floresta.>
Também o Serviço Florestal e o CAR (Cadastro Ambiental Rural), que sob Bolsonaro passaram a ser competência do Ministério da Agricultura, retornaram para o Ministério do Meio Ambiente.>
Marina Silva foi ministra entre 2003 e 2008, durante todo o primeiro mandato e parte do segundo governo de Lula. Sua saída, à época, foi conturbada e gerou profundo desgaste com líderes do PT, partido que está na origem de sua militância política.>
Nascida num seringal no Acre, ex-empregada doméstica e historiadora, Marina tem 64 anos e ocupa cargos públicos há mais de 35 anos. Atuou com o líder seringueiro Chico Mendes e ajudou a fundar a CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Acre.>
Já foi vereadora, deputada estadual e senadora. Agora, volta a ser ministra do Meio Ambiente para tentar fazer reexistir uma política ambiental no país.>
Apesar da expectativa inicial, após o resultado das eleições, de que a pasta fosse uma das primeiras a ter sua chefia anunciada, o nome de Marina foi um dos últimos a ser definido.>
Isso porque, no caminho, o PT tentou que ela aceitasse chefiar a Autoridade Climática em um organograma no qual o órgão ficaria subordinado à Presidência - diferente do que a ex-ministra havia proposto a Lula, que era uma entidade sob o guarda-chuva do ministério.>
A intenção do partido, com essa estratégia, era alocar Simone Tebet no Meio Ambiente. Ambas são tidas como fundamentais aliadas na campanha eleitoral que derrotou Bolsonaro.>
Tebet, no entanto, respondeu ao PT que só aceitaria o cargo caso Marina não o quisesse. A ambientalista, por sua vez, se antecipou ao convite e deixou claro que não comandaria a autoridade.>
Dessa forma, a ex-ministra retomou o controle do Meio Ambiente, enquanto Tebet foi escolhida para ser chefiar o Planejamento.>
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