Publicado em 20 de julho de 2023 às 19:28
BRASÍLIA - No depoimento à Polícia Federal realizado na quarta-feira (19), o senador Marcos do Val (Podemos-ES) voltou a afirmar que o ex-deputado Daniel Silveira se reuniu com ele e o então presidente Jair Bolsonaro (PL) "para tratar sobre a possível gravação do ministro Alexandre (de Moraes) com a finalidade de invalidar as eleições" em um encontro de cunho supostamente golpista que também envolveria pessoas "Cinco Estrelas". Muitas das afirmações de Do Val se contrapõem ao depoimento dado à PF pelo próprio ex-presidente na semana passada.>
O senador foi ouvido por três delegados federais que integram os quadros da Coordenação de Inquéritos dos Tribunais Superiores, unidade da PF que conduz investigações sensíveis envolvendo alvos com foro privilegiado.>
Em oitiva no dia 12 de julho sobre a suposta trama golpista, Bolsonaro negou que qualquer plano de gravar Moraes tivesse sido discutido na reunião com Silveira e do Val. "Nada foi falado sobre o ministro Alexandre de Moraes", alegou. >
Do Val, no entanto, deixou claro que Silveira falou sobre a proposta "na presença do ex-presidente Jair Bolsonaro", ainda que o ex-presidente, segundo o senador, não tenha se manifestado durante a conversa.>
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No dia 12, Bolsonaro disse ainda não saber se a iniciativa da reunião foi de do Val ou de Silveira e que "não teve contato anterior" com do Val. O senador, no entanto, afirmou que foi o próprio ex-presidente que realizou o convite, com participação de Silveira.>
Segundo do Val, a responsabilidade de idealizar e marcar a reunião foi de Daniel Silveira, assim como foi o próprio ex-deputado que o procurou "insistentemente". Contudo, quando Silveira o abordou às portas do Plenário do Senado Federal, ele "já estava ao telefone com o ex-presidente Jair Bolsonaro". Silveira teria, então, afastado o telefone e dito a do Val que o "zero um" precisava falar com ele. Foi então que, por telefone, Bolsonaro teria lhe convidado para a reunião.>
Marcos do Val voltou a reforçar, em seu depoimento na quarta-feira (19), que os únicos envolvidos na reunião que supostamente trataria de uma trama golpista foram ele, Bolsonaro e Silveira. Acrescentou, contudo, que o ex-deputado pretendia envolver mais gente.>
Questionado pela PF se haveria a colaboração de outras pessoas na "missão", Do Val disse que Silveira não falou sobre isso durante a reunião, mas logo na sequência teria enviado mensagem por WhatsApp dizendo "Irmão, essa missão está restrita a três pessoas e só irá ficar, provavelmente, com mais cinco após concluída. Cinco estrelas". O senador disse não saber o que o ex-deputado quis dizer com esse termo e afirmou que não quis perguntar.>
Ele voltou a informar, no entanto, que Silveira disse "já possuir equipamentos de escuta e transmissão e um carro para captar áudio, mas não referiu de onde viriam esses equipamentos".>
Apesar de ter entrado em contradição com Bolsonaro, do Val claramente buscou afastar a culpa do ex-presidente durante seu depoimento. Ele afirmou ter ficado claro que durante a reunião, Silveira estava tentando convencer tanto ao próprio senador quanto ao ex-presidente. Além disso, afirmou que "pela expressão de surpresa do ex-presidente, acredita que apenas Daniel Silveira sabia do que seria tratado na reunião".>
Do Val ainda foi indagado sobre o que entende significar a mensagem "coisa de maluco" que recebeu do ex-presidente em fevereiro, depois de enviar prints a ele com sua conversa com Silveira e Moraes. Ele respondeu que "Bolsonaro se referia à 'missão' de Daniel como algo absurdo".>
No depoimento de quarta-feira (19), Marcos do Val voltou a contradizer a si mesmo.>
A primeira declaração dada pelo senador sobre a suposta trama golpista aconteceu em fevereiro, em entrevista à revista Veja. Na ocasião, o senador acusou Bolsonaro de tê-lo convidado a participar da trama golpista. Apenas mais tarde, quando questionado pela polícia, do Val voltou atrás e protegeu o ex-presidente, afirmando que o responsável teria sido Daniel Silveira e que Bolsonaro teria ficado em silêncio.>
Questionado sobre a contradição em entrevista à emissora Globo News, o senador admitiu ter mentido à imprensa disse que teria usado a "estratégia da persuasão" na primeira declaração para atrair a atenção da imprensa.>
No entanto, no depoimento de quarta (19), ele deu uma nova explicação para as acusações contra o ex-presidente. Segundo ele, a entrevista teria sido feita em um momento em que estaria "sofrendo enorme pressão de eleitores" que acreditavam que ele não apoiaria a candidatura de Rogério Marinho (PL), candidato de Bolsonaro, à presidência do Senado. Ele disse que naquele momento sua filha teria recebido ameaças e que isso teria sido o "gatilho" que o levou a acusar o ex-presidente durante a entrevista à Veja.>
Nesta quarta (19), afirmou que "percebendo que havia feito essas acusações infudadas, em um momento de raiva, resolveu desdizê-las em várias manifestações posteriores". Seria a razão a razão de suas constantes contradições.>
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