Publicado em 7 de julho de 2020 às 19:54
A maioria das escolas particulares do país diz ter perdido mais de 10% dos estudantes durante a pandemia do novo coronavírus. A queda em matrículas ocorre principalmente na educação infantil (para crianças de 0 a 5 anos), em que há dificuldade de se fazer o ensino remoto.>
O levantamento feito com 821 unidades de todo o país na última semana de junho mostra que 60,1% afirma ter perdido mais de 10% das matrículas Já 19,7% diz ter perdido mais de 30% dos alunos. Só 9,6% respondeu não ter tido nenhum cancelamento. A pesquisa foi feita pela Editora do Brasil.>
Além da saída dos estudantes, a inadimplência e os descontos em mensalidades resultaram na demissão de professores. Segundo estimativa da Fenep (Federação Nacional de Escolas Particulares), cerca de 300 mil docentes foram dispensados após a pandemia.>
Dona de uma escola de educação infantil há 14 anos, Ildener Cabral, 58, perdeu nos últimos 3 meses mais de 60% das matrículas. A escola Ovide Decroly, no Parque do Carmo, zona leste de São Paulo, tem hoje 26 das 72 crianças que estudavam na unidade antes da pandemia.>
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"Tentamos o ensino remoto, dei desconto para todas as famílias, mas mesmo assim não consegui manter as matrículas. Não sei mais o que fazer para a escola ficar aberta. Dos 15 funcionários, já demiti 5 e vou ter que dispensar mais", contou Ildener.>
Com a saída de cerca de 20% dos 92 alunos, Adriana Oliveira, dona da Escola Oliveira, em Jandira, na Grande São Paulo, disse ter medo de ir a falência. Com apenas 4 anos em funcionamento, a unidade, com mensalidades de R$ 520, não tinha nenhuma reserva.>
Para reabrir a unidade quando houver liberação do governo de São Paulo, ela pretende fazer um empréstimo para que possa realizar os investimentos necessários ao cumprimento do protocolo de saúde.>
"Vou ter de dar um jeito, porque hoje já está difícil pagar os salários dos funcionários que eu mantive", contou.>
As demissões, no entanto, não ocorreram apenas nas escolas de educação infantil. Professora de educação física no ensino fundamental, Gisele Chiavone, 37, foi demitida da escola em que trabalhava desde 2013.>
"Passaram as minhas aulas para outra professora e diminuíram a carga horária da disciplina para os alunos. Eles tinham educação física de forma remota duas vezes na semana e agora vai ser só uma vez. Não sei nem se os pais foram avisados", contou Gisele, que trabalhava na escola Ouro Preto, na Mooca, zona leste de São Paulo. A reportagem procurou a escola, mas não obteve resposta.>
Escolas de classe alta também começaram a fazer demissões antes mesmo do fim do semestre. Professora de educação infantil, Jéssica Rocha, 31, foi demitida da escola que trabalhava em Belo Horizonte. Com mensalidades a partir de R$ 2.200, a unidade decidiu liberar o pagamento das crianças de 0 a 3 anos e suspender temporariamente o contrato dos docentes dessas turmas.>
"Nosso contrato ficaria suspenso e receberíamos apenas o auxílio do governo federal, mas ainda assim cobraram que teríamos de gravar vídeos para enviarmos às famílias durante esse período de interrupção", contou Jéssica>
As escolas temem que, mesmo com a volta das aulas presenciais, muitas famílias não consigam matricular novamente as crianças na rede particular por causa da crise econômica.>
A situação deve pressionar os municípios para absorver essas crianças em suas redes de ensino. Com o orçamento de educação comprometido com a queda de ICMS e os investimentos emergenciais que foram feitos durante a pandemia, há temor que não haja vaga para todos.>
A maior preocupação dos secretários de educação é na fase da creche (dos 0 aos 3 anos), onde já havia fila de espera por vaga.>
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