Publicado em 7 de fevereiro de 2022 às 16:02
- Atualizado há 4 anos
A ONU tão adorada pela esquerda, que os irmãos fiquem sabendo, afirmou que "a igreja cristã é inimiga dos direitos humanos". O plano da organização, portanto, é virar uma "religião mundial" e impor "leis humanitárias, e não espirituais, para que o mundo não esteja sujeito à doutrina cristã". Falso, claro. Mas é o que diz um vídeo apócrifo que circula entre fiéis de Carapicuíba (SP).>
E o que dizer do Lula possuído? "E eu estou falando com o demônio e o demônio está tomando conta de mim", diz áudio que também passeou por igrejas locais.>
Ele já foi desmentido por mais de uma agência de checagem de fatos. A Lupa, por exemplo, mostrou que a fala do ex-presidente petista foi recortada e tirada de contexto, dando a impressão de que ele batia um papo com o capeta.>
O que Lula disse, na verdade, era justamente um alerta contra fake news que coalham o debate público. "E nas redes sociais do bolsonarismo eles estão dizendo que eu tenho relação com o demônio, que eu estou falando com o demônio e o demônio estava tomando conta de mim.">
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Essa é uma "soft", leve, ironiza Sérgio Ribeiro, fiel da Igreja A Serviço do Rei Jesus e petista que já foi prefeito de Carapicuíba.>
Ele envia à reportagem mais de 50 conteúdos inverídicos ou distorcidos que ricocheteiam por grupos de WhatsApp com evangélicos da cidade. Sempre com o aviso de "encaminhado com frequência" que acompanha mensagens muito repassadas no aplicativo.>
A infestação de fake news nos celulares escancara como religiosos pró-Jair Bolsonaro (PL) usam a máquina do ódio contra os dois candidatos vistos como ameaças à reeleição do presidente.>
Lula é o alvo preferencial, mas o ex-juiz Sergio Moro, tido como o adversário que mais periga tirar Bolsonaro do segundo turno, também está na mira.>
"As pesquisas mostram que Lula e Bolsonaro praticamente empatam no público evangélico. A estratégia da mentira deve se intensificar por causa disso", afirma Luis Sabanay, reverendo presbiteriano na coordenação nacional do Núcleo Evangélico do PT.>
São mentiras ou deturpações forjadas com base em valores morais, diz. Há ainda tentativas de instigar o pudor cristão, emulando um Brasil sob ataque de progressistas lascivos.>
Caso deste texto exportado do site De Olho News, com clara intenção de chocar mentes pudicas: "Homem faz tatuagem no ânus em protesto a Bolsonaro".>
No começo do mês, o site da campanha lulista compilou desinformações contra o pré-candidato. O texto atribui, por exemplo, à "inveja dos bolsonaristas" a retomada de uma notícia falsa que varreu as redes em 2021, sobre a participação do ex-presidente no Fórum Econômico Mundial de 2003.>
"Segundo a falsificação de bastante mau gosto, ao longo do evento, o então mandatário estava embriagado e tinha se urinado e por isso precisou ser retirado 'discretamente' de seu painel.">
Outra fake news recorrente foca o eleitorado católico. O áudio, creditado ao padre Marcelo Rossi, alerta sobre os riscos de um eventual governo de esquerda --a assessoria do clérigo nega a veracidade do conteúdo.>
"Se você ama a liberdade religiosa, a família e o Brasil, ouça com atenção o que esse religioso revela", diz mensagem que acompanha a mídia. Nela, um homem diz que o Brasil vive uma crise moral e que os valores da igreja "já estão sendo desprezados".>
Caso Lula seja eleito, já era, diz. "Não será como da primeira vez, você não vai ver o Lulinha paz e amor. Vai ser o Lulinha revolucionário que vai tentar implantar o modelo político que ele acha que é melhor para o Brasil.">
Populares são também opiniões, vendidas como fato, sobre a incompatibilidade entre servir a Cristo e ser esquerdista.>
"Se você se diz cristão e ainda vota na esquerda, há apenas duas possibilidades: ou você não segue realmente os ensinamentos do cristianismo ou os segue e ainda não entendeu o que a esquerda é verdadeiramente", diz texto publicado pela Igreja Universal em janeiro.>
Vai na mesma toada André Valadão, pastor que nas últimas semanas recebeu em sua igreja nos Estados Unidos o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o ministro Fábio Faria (Comunicações) e o foragido Allan dos Santos, do site Terça Livre.>
Querido por jovens evangélicos, ele tem uma caixinha de perguntas e respostas no Instagram. Eis que um seguidor se apresentou como cristão, eleitor do Lula e pró-aborto. "E tudo bem, Jesus me ama e aceita e não estou pecando", concluiu. "'Cê' não é crente de jeito nenhum, não é mesmo", respondeu Valadão.>
O secretário de comunicação do PT, Jilmar Tatto, diz que o partido dispõe de uma central para reunir denúncias de fake news que, se necessário, são encaminhadas para uma equipe jurídica. "É possível ver de onde essas notícias falsas estão vindo. E elas não têm a ver com disputa política, são mentiras.">
O PT planeja lançar um programa voltado só para evangélicos na TV da legenda no YouTube. A iniciativa será replicada em redes sociais e, segundo Tatto, é uma maneira de combater essas notícias falsas.>
O partido também discute a produção de pequenos vídeos, a partir de março, para desmentir falsidades. A ideia é fazê-los na medida para as redes sociais.>
Na avaliação de petistas, os ataques podem ter aumentado neste começo de ano após levantamentos apontarem que esse eleitorado não é tão fiel a Bolsonaro quanto querem fazer acreditar pastores próximos ao presidente.>
Pesquisa Datafolha de dezembro mostrou que, para 43% dos evangélicos, Lula foi o melhor presidente que o Brasil já teve. Isso é mais do que o dobro do montante (19%) que prefere Bolsonaro.>
O canhão digital tem também em sua reta Moro, persona non grata no bolsonarismo desde que saiu da Esplanada e passou a criticar o ex-chefe. A intensidade dos ataques escalou após o ex-juiz oficializar sua disposição de enfrentar Bolsonaro nas urnas, o que pode provocar uma cisão no eleitorado antipetista.>
Repercutiu em templos um vídeo em que o pastor Silas Malafaia equipara Moro ao discípulo que traiu Jesus. "Além de ser Judas, é um covarde, porque esperou um momento difícil de Bolsonaro [...] para tentar sair em glória e se ferrou.">
Outro rótulo que correntes virtuais tentam colar nele mexe com o brio conservador do eleitor. "Comece pregando o Evangelho para o abortista Moro", dizia um comentário em post da Anajure (Associação Nacional de Juristas Evangélicos).>
Fundador da entidade, Uziel Santana hoje coordena a campanha morista no campo evangélico.>
Moro diz ser, pessoalmente, contra o aborto. Já politicamente, advoga pela manutenção da atual lei, que permite a mulheres abortar em caso de risco de morte da mãe, anencefalia do feto e estupro.>
"Infelizmente, existe uma máquina de promoção de fake news contra Moro porque a aceitação dele entre pastores, líderes e fiéis têm sido ampla", diz Santana. "Espero que essa máquina não seja usada por nenhum líder cristão, pois isso seria um péssimo testemunho para todos.">
Historicamente, as desinformações relacionadas à moralidade religiosa "afetam fortemente ambientes religiosos", diz Magali Cunha, editora-geral do Bereia, coletivo que analisa potenciais inverdades que abordem conteúdos sobre religião --em pouco mais de dois anos, foram 285 checagens.>
Vide a mamadeira com bico em formato de pênis supostamente distribuída em creches paulistanas, mais infame notícia falsa a atingir a campanha do presidenciável Fernando Haddad (PT) em 2018.>
Cunha aposta, contudo, que em tempos de crise econômica, quando a população se vê às voltas com fome e desemprego, "estas pautas perdem força de afetação".>
Nas eleições municipais de 2020, por exemplo, já arrefeceram um bocado. "Neste caso, o acionamento do imaginário do inimigo e da perseguição a cristãos, como o tema da cristofobia, tende a ser mais explorado.">
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