Publicado em 3 de março de 2021 às 20:24
- Atualizado há 5 anos
Uma ala comum precisou ser convertida em 28 leitos de UTIs para abrigar pacientes graves com Covid-19 no Hospital Moinhos de Vento (HMV), o principal da rede privada de Porto Alegre. A unidade atingiu lotação de 142% nas vagas de UTI da capital gaúcha, que vive situação grave na pandemia. Também nesta quarta-feira (3), o hospital recebeu um contêiner para abrigar corpos das vítimas. >
O hospital tem, originalmente, 66 leitos de UTI. Do total de 94 casos graves atualmente no hospital, 85 são de Covid-19. Outros três doentes confirmados no serviço de emergência do HMV estavam à esperam de leito para tratamento intensivo.>
O HMV apresentou o índice mais alto de ocupação de UTI em Porto Alegre nesta quarta-feira (3), na pior semana da cidade em toda a pandemia de Covid-19.>
Um desses pacientes na UTI é o marido de Fernanda Tavares, que é funcionário de uma grande rede de supermercados de Porto Alegre e tem 48 anos. Ele recebeu diagnóstico positivo para Covid-19 na segunda-feira (1º), mas os sintomas se agravaram na madrugada de terça. Chegou à emergência do HMV às 6h desta quarta com falta de ar e dor no peito. Às 15h, ainda aguardava leito para ser transferido à UTI.>
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"Estou muito agoniada, sem informação alguma. Não sei nada do estado de saúde dele", disse Fernanda. Ela teve Covid-19 no início de janeiro, mas não precisou ser internada.>
O marido de Maria de Lourdes Stephânia conseguiu um leito de UTI por volta das 16h. Com oxigenação de 91% e metade dos pulmões comprometidos pela pneumonia, o homem de 67 anos deu entrada na emergência do HMV às 9h já na categoria vermelha -a mais grave do serviço de emergência. "Rezo para que dê tudo certo. Pelo menos ele conseguiu leito", diz ela.>
O hospital recebeu no início da tarde um contêiner frigorífico com capacidade para armazenar oito corpos, que será usado para desafogar o necrotério do local. No final de semana, segundo relato de funcionários, houve 12 óbitos para uma capacidade de apenas três corpos no necrotério do hospital. A contratação do contêiner foi anunciada na terça-feira pelo superintendente médico do HMV, Luiz Antônio Nasi.>
Na rede pública, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) estava com lotação de 109,6% na terça (2). Com capacidade para 167 doentes, a unidade tinha 183 pacientes, 100 deles com confirmação de Covid-19. Além disso, havia 24 casos suspeitos e outros 42 com testes positivos aguardando leito de UTI no serviço de emergência do hospital.>
Outros oito hospitais do sistema de saúde de Porto Alegre apresentaram índices de ocupação de UTI de 100% ou superior. Havia 942 pacientes internados em terapia intensiva para um total de 924 vagas no sistema. Dois em cada três desses pacientes são casos confirmados ou suspeitos de Covid-19.>
"As equipes estão totalmente estressadas. Para ter uma ideia, quem atua na UTI está evitando até tomar água para não ter de ir ao banheiro durante os plantões, tamanha a exigência dos atendimentos", relatou o intensivista José Beltrame Neto, do HCPA.>
A sala de recuperação de cirurgias do Clínicas foi transformada em UTI para pacientes com outras enfermidades. Com isso, todas as cirurgias eletivas estão suspensas.>
O Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul (IGP) também decidiu alugar quatro contêineres frigoríficos como medida preventiva ao aumento no índice de mortes por Covid-19 registrado no estado.>
Juntos, os quatro contêineres têm capacidade para armazenar 32 corpos e serão usados caso o sistema funerário de Porto Alegre entre em colapso. Na manhã de terça-feira, o Departamento Médico Legal (DML), gerido pelo IGP, tinha 34 corpos armazenados na sua câmara fria -quatro a mais que a capacidade do equipamento.>
Em abril de 2020, no início da pandemia, o órgão já havia alugado cinco contêineres frigoríficos diante da possibilidade de um aumento nas mortes, que não ocorreu. Os depósitos foram devolvidos dois meses depois sem terem sido usados.>
Neste ano, porém, o ritmo de óbitos está mais acelerado. O Sindicato dos Estabelecimentos Funerários do Rio Grande do Sul informou que a demanda por sepultamentos vem registrando aumento expressivo nos últimos dias em Porto Alegre.>
A Central de Óbitos de Porto Alegre informou que o pico de mortes ocorreu no dia 26 de fevereiro, com 66 sepultamentos em Porto Alegre. Nesta semana, os registros já indicam 153 óbitos na capital, 20% acima da média registrada nas últimas semanas de janeiro.>
No final da tarde, o Hospital publicou uma nota em que desmente um vídeo divulgado em redes sociais que mostra uma situação normal no HMV.>
"O Hospital Moinhos de Vento esclarece que o vídeo gravado nas dependências da instituição e que sugere que a situação vivida é tranquila não reflete a realidade. Além de captado sem autorização, traz informações imprecisas. O hospital registrou hoje [quarta] os mais altos índices de internações e agravamento de casos", diz a nota.>
O hospital confirma que abriu leitos de terapia intensiva "de retaguarda" e fechou a tenda de atendimento a pacientes com suspeita de infecção devido à gravidade dos casos. "Direcionamos para o atendimento da emergência, que só recebe casos classificados como vermelho e laranja", diz o texto.>
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