Publicado em 8 de janeiro de 2020 às 21:38
Um grupo de 117 juízes federais (dos quais cinco atuam na segunda instância) divulgou nesta quarta-feira (8) um abaixo-assinado contra a implantação do juiz das garantias, aprovada pelo Congresso no pacote anticrime e sancionada em dezembro pelo presidente Jair Bolsonaro. O grupo afirma que a figura, tal como foi criada, é inconstitucional. >
Para os magistrados, o juiz das garantias deprecia o juiz natural, porque pressupõe que ele é suspeito e parcial, causa tumulto nos processos penais e dificulta o combate à corrupção. A Justiça Federal tem 1.939 juízes em atividade no país.>
Entre os que assinam o abaixo-assinado está o relator da Lava Jato do Rio na segunda instância, Abel Gomes, e Fausto De Sanctis, que foi responsável por operações ruidosas no passado, como a Satiagraha, em torno do banqueiro Daniel Dantas, e a Castelo de Areia, sobre a Camargo Corrêa.>
"O juiz de garantias deprecia a figura do magistrado, pois já se parte da premissa genérica e indiscriminada de que o juiz natural seja presumidamente suspeito e não tenha condições de julgar um processo com imparcialidade, quando é o inverso", diz o texto que acompanha o abaixo-assinado.>
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"O juiz natural é quem mais conhece o caso concreto para fins de fazer o melhor julgamento, pois atua desde o início no processo, tem acesso às partes e aos elementos de prova, e tem mais condições de julgar de forma justa o litígio", prossegue o texto.>
Pela nova lei, o juiz das garantias será responsável por acompanhar os inquéritos, analisando pedidos de quebra de sigilo e de prisão provisória, por exemplo, até o recebimento da denúncia. Esse juiz não poderá atuar na fase posterior, da ação penal. Assim, caberá a um juiz supervisionar a investigação (o juiz das garantias) e a outro julgar o acusado (o juiz de instrução e julgamento).>
"Esta criação não estabelece garantia alguma, apenas exige a participação de mais um juiz para atuar no processo criminal, na fase de investigação, gerando, na prática, imenso tumulto processual. Macula o direito de defesa, já que o investigado terá que se reportar em cada fase a um juiz distinto, repetir toda a narrativa, o que vai de encontro à razoável duração do processo", afirmam os juízes federais.>
Na semana passada, um grupo de 50 juízes federais divulgou um manifesto em sentido oposto, em apoio ao juiz das garantias. Para eles, a nova figura concorre para "a preservação da imparcialidade do juiz de julgamento".>
Pelo menos 11 daqueles magistrados atuaram em processos derivados da Operação Lava Jato, como Flávio Antônio da Cruz, ex-juiz auxiliar de Sergio Moro na Justiça Federal em Curitiba, e Marcus Vinícius Reis Bastos, da Justiça Federal em Brasília.>
O juiz das garantias está previsto para entrar em vigor no próximo dia 23. Moro, ministro da Justiça do governo Bolsonaro, foi contra a implementação da nova figura.>
O tema tem dividido os integrantes do Judiciário. Associações da magistratura e partidos políticos ajuizaram ações no STF (Supremo Tribunal Federal) para questionar a constitucionalidade da nova lei. O processo está na mesa do presidente do tribunal, ministro Dias Toffoli, responsável pelo plantão durante o recesso do Supremo.>
Para os juízes federais que assinam o abaixo-assinado divulgado nesta quarta, o juiz das garantias viola os princípios constitucionais do juiz natural e da eficiência, o artigo 169 da Constituição, porque "foi criado sem que tivesse havido prévia dotação orçamentária", e fere a prerrogativa da inamovibilidade dos magistrados.>
Na última sexta (3), Toffoli, que também presidente o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), encarregado de regulamentar a implementação do juiz das garantias no país, afirmou que as mudanças não trarão novos custos nem aumentarão o trabalho no Judiciário.>
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