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Ficou provado que não houve interesse do governo na vacina, diz Omar Aziz

Ficou provado que não houve interesse do governo na vacina, diz Omar Aziz

Para o presidente da CPI da Covid, a maior parte dos erros cometidos pelo presidente Bolsonaro são consequência do mau aconselhamento, embora ele não possa usar esse fato para se eximir das responsabilidades

Publicado em 16 de maio de 2021 às 13:56

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Senador Omar Aziz (PSD-AM). Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Senador Omar Aziz é presidente da CPI da Covid. (Edilson Rodrigues/ Agência Senado)

Após a conclusão da segunda semana de depoimentos na CPI da Covid, o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), considera que já está provado que o governo do presidente Jair Bolsonaro negligenciou inicialmente a compra de vacinas.

"Não houve nenhum interesse na compra da vacina no primeiro momento", afirmou em entrevista à reportagem na sexta-feira (14), quando o Brasil ultrapassava 430 mil óbitos e 15,5 milhões de pessoas infectadas pelo Sars-CoV-2 desde o início da pandemia, no ano passado. "Se apostou muito na imunização de rebanho e kit cloroquina, ivermectina", disse.

Para o presidente da CPI, a maior parte dos erros cometidos pelo presidente Bolsonaro são consequência do mau aconselhamento, embora ele não possa usar esse fato para se eximir das responsabilidades.

"O governo errou desde o primeiro momento. Não apostou no isolamento, não apostou na máscara, no álcool em gel, na vacina, uma série de coisas que poderiam ter ajudado a salvar pessoas. E continuam apostando na cloroquina."

Por outro lado, Aziz aponta que pessoas que orientaram o chefe do Executivo devem também ser responsabilizadas.

Pergunta - Qual o balanço que o sr. faz dos depoimentos após essas duas semanas?

Omar Aziz - Nós chegamos em um momento que, pelas informações que colhemos, poderíamos ter tido vacina bem antes do planejado e uma quantidade bastante grande.

A carta e as informações prestadas pela Pfizer foram o maior avanço na comprovação de omissões do governo?

OA - Acho que avançamos muito. O pior é que a carta endereçada pela Pfizer não foi só ao presidente. Mas muita gente do poder mesmo, do alto escalão do governo, recebeu essa carta, e a gente não entende por que nenhum deles se prestou a dar uma ligada, mandar alguém procurar saber a oferta das vacinas.

Isso foi em agosto, [então veio] setembro, outubro, novembro. Se tivéssemos feito isso em agosto, em dezembro nós teríamos começado a vacinar as pessoas. Nós estamos agora no dia 14, 15 de maio, quer dizer, olha só o que nós perdemos de tempo na vacinação. Então avançamos nesse sentido.

Após esse período de trabalhos de investigação e de depoimento, o que já está provado?

OA - Que não houve nenhum interesse na compra da vacina no primeiro momento, que se apostou muito na imunização de rebanho e kit cloroquina, ivermectina. E hoje mesmo eu recebo uma matéria [sobre] um cara chamado Hélio Angotti Neto, chefe da área de ciência, tecnologia, inovação e insumos, no dia 27 de julho de 2020, defendendo a cloroquina. Esse cara vai ser chamado para depor. Isso é muito sério.

O STF não deveria ter concedido o habeas corpus para permitir que o general Eduardo Pazuello (ex-ministro da Saúde) se cale [ao falar sobre si mesmo] durante o depoimento?

OA - Não, é lógico que não. Acho que o ex-ministro Pazuello é a pessoa que pode nos dar mais informações, porque começou com ele. Veja bem, quando a Pfizer procura o Brasil, em setembro, ele foi uma das pessoas que recebeu a carta. Por que não respondeu? Deram ordem pra ele não responder? É isso que queremos saber. Não era política do Ministério da Saúde adquirir vacina?

O sr. fala que o governo não teve interesse na vacina, mas apostou, por exemplo, na cloroquina. Esse foi um dos erros do governo Bolsonaro?

OA - Esse é o erro. Não apostar na ciência. O governo errou desde o primeiro momento. Não apostou no isolamento, não apostou na máscara, no álcool em gel, na vacina, uma série de coisas que poderiam ter ajudado a salvar pessoas. E continuam apostando na cloroquina.

Vocês perguntam "essa CPI vai dar em pizza?" A massa que está sendo feita não é da pizza, não. Tem que pegar do início. Omissão do governo e os problemas que aconteceram no estado do Amazonas. O próprio Ernesto [Araújo, ex-ministro de Relações Exteriores] tem telegramas que a Folha publicou procurando cloroquina. Eu quero saber quantos telegramas ele mandou atrás de vacina.

Durante os depoimentos, apontaram tentativa de interferência na questão da cloroquina, o comportamento pessoal do presidente foi criticado e há a história da negligência por meses para adquirir vacinas. Podemos dizer que há digital do presidente?

OA - Não posso falar isso, dar essa opinião, porque estaria sendo prematuro e fazendo pré-julgamento. Acho que temos que trabalhar muito ainda para que se possa ver realmente sobre o que o presidente tomou conhecimento, quais foram os aconselhamentos. Eu digo isso porque eu já fui governador. Você faz autocrítica nos seus pensamentos, não tem jeito, ninguém é dono da verdade. Você se aconselha com pessoas especialistas em áreas. Mas, às vezes, com a pessoa errada.

O fato de o presidente ter se aconselhado com pessoas erradas exime a responsabilidade dele?

OA - Veja bem, sempre falo uma coisa: você pode errar por omissão e você pode errar por obediência. Eu acho que não dá pra eximir. Eu acho que nós fomos na contramão do mundo. Você não viu uma liderança mundial pregando imunização de rebanho, pregando cloroquina. Você viu todos os líderes mundiais aprovando e apoiando o lockdown.

Então um dos problemas é esse aconselhamento paralelo, que a CPI vem chamando de ministério paralelo?

OA - Esse alguém é tão culpado como ele. Você pode ser induzido ao erro. Agora, todos nós, seres humanos, mesmo induzidos ao erro, cometendo o erro, a gente pode fazer autocrítica, principalmente o chefe da nação.

Mas ele não fez...

OA - Veja bem, não fez em alguns pontos, como aglomeração, usar a máscara, que isso até desmoraliza o ministro da Saúde dele. Por isso que eu disse, olha, o Marcelo Queiroga está gastando dinheiro com propaganda à toa. Não precisa gastar dinheiro com propaganda, pedindo para usar máscara, não fazer aglomeração, usar álcool em gel. Porque o maior propagandista do Brasil, que deveria apoiar essas campanhas de universidade da saúde, faz o contrário. É esse apelo que faço ao presidente. Que possa, nesse momento, pelo menos apoiar uma campanha do governo dele, apoiar o ministro da Saúde.

O que a comprovação da existência do ministério paralelo pode representar em termos de culpa? Especialistas podem ser responsabilizados?

OA - Com certeza. O Conselho Federal de Medicina emitiu uma nota sobre a cloroquina. O ministro Queiroga faz mais de uma semana que esteve na CPI e até agora o Conitec [grupo de incorporação de tecnologias] não se posiciona. Enquanto está acontecendo isso no Brasil, nós iremos responsabilizar todos os membros do Conitec por morte através de cloroquina que está acontecendo. Isso será feito na CPI. Ou ele se posiciona, ou serão indiciados pela CPI e denunciados como coautores da morte das pessoas.

O sr. disse durante a sessão que, se prendesse Fabio Wajngarten (ex-secretário de Comunicação do Planalto), a CPI acabaria. Por quê?

OA - Simples, o Fabio prestou um grande serviço à CPI. Ele sairia dali, iria na delegacia e diria: "não, eu não menti para a CPI, eu menti para a revista Veja". Iria ser solto e acabou. Ninguém nunca ia saber para quem ele falou a verdade. Esse é um ponto.

Agora a gente vê, perguntaram quem esteve na sala da reunião com a Pfizer e ele omitiu alguns nomes por medo, porque ele não precisaria nem omitir o nome do Carlos Bolsonaro. O Carlos Bolsonaro passou, entrou e saiu. Não tem crime aí. O Carlos Bolsonaro não cometeu nenhum crime entrando na sala.

Depois da audiência com Wajngarten, o governo chegou a procurar o sr.?

OA - Não, nunca o governo me procurou para nada. É tudo mentira que diz aí que o governo tentou me cooptar. Pelo contrário, a minha relação com o governo é com os membros que apoiam o governo lá, mais nada. Até porque minha conduta tem sido muito isenta.

O sr. afirmou durante a sessão que Wajngarten mentiu e que Queiroga mentiu até mais do que ele. Essa postura de evitar prisões, mesmo em flagrante mentira, vai se manter?

OA - Veja bem, o Wajngarten pode ter omitido e mentido, mas levou a maior contribuição que nós tivemos na CPI até agora, que é a carta da Pfizer. Agora, ele omitiu um monte de coisa, não se preparou para responder, estava muito nervoso.

O fato de ele não ter sido preso não é um salvo conduto para a pessoa chegar e mentir na CPI?

OA - Não, não creio nisso. Eu achei naquele momento que não era necessário fazer isso.

O sr. falou da carta que foi endereçada a outros integrantes do governo, não só ao presidente. A CPI deve convocar o Hamilton Mourão, o Braga Netto?

OA - Depende do depoimento do ministro Pazuello. É um alerta que eu faço. Porque a pessoa mais interessada em comprar vacina tinha que ser o ministro da Saúde. Vai depender, se ele falar a verdade lá por que que ele não ligou, por que ele não procurou a Pfizer.

Porque esse pessoal recebeu essa carta, mas não vejo... O Braga Netto, por exemplo, ele era presidente da comissão lá do [coronavírus]. A única pessoa que não vai ser convocada, que não pode ser convocada, é o presidente da República. O presidente não está sendo investigado, o presidente não vai ser convocado.

Não é possível que uma carta chegue a seis pessoas importantes do governo e ninguém deu importância na hora que o mundo estava atrás de vacina. E essa tese de dizer, "ah, não, a Pfizer ainda não tinha aprovação na Anvisa". A da Índia nós já fizemos um acordo e também não tem [aprovação da Anvisa].

O Carlos Bolsonaro vai ser convocado?

OA - Por enquanto não. Se houver fato determinante, sim.

A CPI vai convocar governadores?

OA - Se tiver fatos correlatos, sim, com certeza.

O Datafolha mostrou que a maioria da população apoia a CPI, mas acha que ela vai ser só encenação.

OA - Pesquisa é momento.

RAIO-X

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Omar Aziz, 62 - Presidente da CPI da Covid, o senador está em seu segundo mandato pelo estado do Amazonas. Engenheiro de formação, começou na política no início dos anos 1990, ao ser eleito deputado estadual. Foi também governador, vice-governador e vice-prefeito de Manaus. É filiado ao PSD.

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