Publicado em 23 de janeiro de 2021 às 10:03
- Atualizado há 5 anos
Uma ex-assessora do deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), candidato à presidência da Câmara, é investigada por suspeita de participar de uma operação de caixa dois em campanha do MDB no interior de São Paulo, em 2016. >
Baleia Rossi, que era presidente do diretório estadual do partido na ocasião, foi citado na denúncia anônima que deu origem à investigação, o que levou a Promotoria a enviar ofício para a Polícia Federal também apurar o caso.>
A jornalista Gislaine Faria Spagnollo, que trabalhou para o gabinete de Baleia Rossi tanto na Assembleia Legislativa de São Paulo como na Câmara dos Deputados, foi alvo de uma denúncia anônima enviada para o Ministério Público de Pederneiras.>
Entre as acusações está a de que sua empresa, a SG.COM Comunicação Organizacional e Eventos, omitiu da Justiça Eleitoral pagamentos que recebeu de um contrato assinado com a campanha de Vicente Juliano Minguili Canelada (MDB), eleito prefeito naquele ano na cidade do interior paulista.>
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A denúncia inclui um contrato assinado entre a SG.COM e Vicente Canelada no valor de R$ 22,5 mil para assessoria da campanha do emedebista. O registro deste gasto na Justiça Eleitoral, porém, foi de apenas R$ 5.000.>
O dossiê, entregue ao Ministério Público em setembro de 2018, também cita uma pesquisa eleitoral encomendada para Vicente Canelada e não registrada pela campanha. Estão anexos ainda recibos da hospedagem de Gislaine em hotel da cidade, também não descritos nas contas eleitorais, e a acusação de que material impresso da campanha foi registrado oficialmente em quantidade inferior ao que na realidade teria sido feito e distribuído pelo candidato.>
A Promotoria avaliou que há indícios de irregularidades e também comunicou a PF, por haver menção ao deputado. A denúncia anônima cita Baleia Rossi, mas sem apresentar provas do suposto envolvimento.>
A acusação é de que dinheiro do gabinete do parlamentar teria custeado a atuação de Gislaine, que, além de trabalhar para o mandato do emedebista, também trabalhou na Candoca filmes, produtora de Paulo Luciano Tenuto Rossi, conhecido como Palu, irmão do deputado.>
Na Candoca, Gislaine fez campanhas eleitorais de candidatos do MDB, como Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que disputou o governo, e Gabriel Chalita, que tentou a prefeitura da capital paulista.>
Paulo Luciano Tenuto Rossi é réu desde o ano passado em ação penal eleitoral em São Paulo acusado de receber da Odebrecht R$ 1 milhão em dinheiro vivo pago durante a campanha de 2014 por trabalhos em sua outra empresa, a Ilha Produção Ltda, que pertencia também a Vanessa da Cunha Rossi, esposa de Baleia.>
Palu está com parte de seus bens bloqueados em decorrência desse processo, juntamente com Paulo Skaf. Eles são acusados de corrupção, lavagem de dinheiro e caixa dois.>
Gislaine Spagnollo era da confiança de Baleia Rossi e não deixou a assessoria do deputado nem mesmo quando foi para a campanha em Pederneiras. Ela trabalhou simultaneamente para o gabinete do deputado e para campanha de Vicente Canelada. Do parlamentar ela recebia cerca de R$ 7.000 mensais.>
Em janeiro, quando Vicente Canelada assumiu a prefeitura, ela foi nomeada para cargo na comunicação do município e durante três meses acumulou ganhos do gabinete de Baleia Rossi e do Executivo de Pederneiras.>
Gislaine diz que foi contratada por Vicente Canelada após encontro dele com Baleia Rossi, que era o presidente estadual do partido. "Ele [Vicente Canelada] já tinha encontrado comigo em outras ocasiões por conta do deputado e me convidou para trabalhar para ele", disse Gislaine. Ela nega que Rossi tenha intermediado a contratação.>
A jornalista disse à reportagem que ainda não foi intimida pela Polícia Federal. A investigação começou no início de 2019. Ela nega ter feito caixa dois de campanha e diz que o documento de R$ 22,5 mil assinado entre a SG.COM e Vicente Canelada apresentado na denúncia anônima era, na verdade, um pré-contrato e que durante as negociações o valor caiu para R$ 5.000.>
A assessoria do deputado Baleia Rossi disse que Gislaine Spagnollo prestou serviços de assessoria em comunicação e divulgação do mandato do deputado até abril de 2017.>
"Ao que consta, o caso em questão não envolve nenhuma irregularidade sobre esses serviços prestados ao deputado", diz a nota. "Como prestadora de serviços, Gislaine soube dividir suas tarefas até abril de 2017. Ela nunca teve vínculo funcional com o gabinete.">
A promotora do caso, Roseny Zanetta Barbosa, diz que a PF ainda está verificando se houve a prática de caixa dois na campanha de Vicente Canelada. "[A investigação é para saber] quem participou dela, quem foi beneficiado com ela, esses são responsabilizados criminalmente", disse a promotora.>
"E é nisso que pode haver o envolvimento do Baleia Rossi. Se eles [policiais federais] conseguirem averiguar a origem desse dinheiro, se saiu mesmo do Baleia e veio camuflado para a campanha do Vicente sem ser declarado na Justiça Eleitoral", diz Roseny Barbosa.>
A promotora diz que, caso sejam encontradas provas de envolvimento do deputado federal em esquema de caixa dois de campanha, a investigação será remetida ao STF (Supremo Tribunal Federal), já que o parlamentar tem foro especial.>
Gislaine Spagnollo pediu que a reportagem citasse que seu ex-marido e ex-sócio na SG.COM, Paulo Garefa, também é investigado no mesmo caso. Ela suspeita que Garefa tenha sido o autor da denúncia anônima.>
"Vou pedir uma gentileza para você que cite, além do meu nome, o nome do meu sócio na época, que hoje não é mais. Vou te dar o nome completo dele, Paulo Sérgio Garefa. Porque se ele era meu sócio, ele também estava sendo investigado", diz a jornalista.>
"Estou pedindo, por favor, para acrescentar o nome dele. A empresa era nossa. Eu era detentora de 50% e ele também. SG, inclusive, significa Spagnollo e Garefa", diz Gislaine.>
Paulo Garefa, o ex-marido, diz não ter conhecimento sobre a investigação. "Desconheço qualquer inquérito que envolva meu nome e repudio todo tipo de ação ou prática ilegal ou criminosa. Por motivos de foro íntimo, não mantenho relações ou contatos, pessoais ou profissionais, com minha ex-sócia e seus clientes.">
O ex-prefeito Vicente Canelada, que não se reelegeu em 2020, não atendeu o telefonema da reportagem e nem respondeu as mensagens enviadas no seu celular.>
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