Publicado em 1 de dezembro de 2020 às 10:05
A estatal responsável por 40 hospitais universitários federais perdeu a chance de usar R$ 13,7 milhões no combate à Covid-19. A empresa não fez o empenho da verba - primeira fase do gasto, quando o governo se compromete com a despesa. >
O dinheiro foi liberado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) por meio de crédito extraordinário. Uma MP (medida provisória) editada pelo governo no início da pandemia, em 13 de março, garantiu os recursos.>
A verba destinada à estatal deveria garantir a compra de insumos para os hospitais universitários atenderem casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. A empresa é vinculada ao Ministério da Educação (MEC).>
A EBSERH, em nota, afirmou que não buscou o dinheiro porque não houve necessidade. Segundo a estatal, a estimativa de gastos feita no início da pandemia estava "sujeita a não ser concretizada em sua totalidade".>
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A MP com os recursos para a EBSERH caducou antes de o governo empenhar os gastos. Uma medida provisória tem validade de 60 dias, prorrogável por igual período. O Congresso precisa aprová-la em até 120 dias.>
Consultores de Orçamento da Câmara e do Senado ouvidos pela reportagem afirmaram que, caso uma MP caduque e não haja o empenho do gasto, o dinheiro não pode mais ser destravado. É o caso dos R$ 13,7 milhões da EBSERH.>
A MP não foi votada pelo Congresso e perdeu a eficácia em 10 de julho.>
A autorização inicial para despesas foi de R$ 168,8 milhões. Já o empenho, o compromisso de que haveria os gastos, foi de R$ 155,1 milhões. Como a MP expirou, a estatal não pôde usar a diferença.>
Até agora, do que foi empenhado, a EBSERH pagou R$ 127,9 milhões. O restante dos pagamentos deve ocorrer até o fim deste ano. Caso contrário, as despesas entram 2021 como restos a pagar.>
A mesma estatal gastou apenas R$ 17,4 milhões (24,8%) de R$ 70 milhões autorizados para reestruturação dos hospitais, de forma a gerar novos leitos na pandemia. O dinheiro também se destina à compra de equipamentos.>
Esse crédito extra também foi garantido por meio de uma MP. Neste caso, diferentemente do texto anterior, a MP foi aprovada pelo Congresso e virou lei.>
Assim, a EBSERH poderá empenhar gastos até 31 de dezembro - até agora, ela o fez com 36% do total disponível, ou R$ 25,2 milhões.>
Segundo a gestão da estatal, os empenhos relacionados à segunda MP só começaram a ser feitos em julho, quando esgotou o prazo da primeira medida.>
"O valor total empenhado, até o prazo de eficácia da primeira MP, foi plenamente suficiente e adequado para apoiar os hospitais em suas necessidades, não deixando nenhum paciente sem atendimento, seja nas enfermarias, seja nas UTIs dos hospitais universitários federais", disse a estatal, em nota.>
Gastos são liberados somente após análise da destinação dos itens a serem adquiridos, uma vez que os recursos devem se enquadrar em ações de combate à pandemia, conforme a empresa. "A EBSERH já descentralizou R$ 503,5 milhões exclusivamente ao combate à Covid-19.">
No último dia 24, reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) também deixou de gastar recursos aprovados para contratação temporária de 5.000 profissionais de saúde, pagamentos a 85,2 mil agricultores familiares (com foco na doação de alimentos a milhões de famílias com insegurança nutricional na pandemia) e para testes rápidos e hospitais de campanha em presídios.>
No caso dos profissionais de saúde, que deveriam atuar em regiões fortemente impactadas pela pandemia, o Ministério da Saúde só gastou efetivamente R$ 15,8 milhões (4,6%) dos R$ 338,2 milhões autorizados. A maioria das pastas que dispunham dos recursos alegou não ter havido demanda de estados e municípios.>
Integrantes do Tribunal de Contas da União (TCU) e consultores do Congresso apontam uma falta de gestão do governo na pandemia e problemas no planejamento e execução dos gastos federais.>
O senador Humberto Costa (PT-PE) pediu, com base na reportagem publicada pela Folha de S.Paulo, que o Ministério Público junto ao TCU investigue a paralisação do dinheiro. O pedido está em fase de análise.>
Ministros do TCU não veem uma irregularidade imediata, do ponto de vista orçamentário, mas um possível problema de gestão. Procuradores que atuam no tribunal de controle e fiscalização apontam que o represamento de um crédito aberto por uma MP desvirtua o requisito constitucional de uma medida do tipo, que é a urgência.>
Para Vinícius Amaral, consultor de Orçamento no Senado, o cenário de baixa execução orçamentária em ações cruciais na pandemia pode indicar uma "série de problemas" no planejamento e na execução da resposta do governo federal à pandemia.>
"Especialmente graves são os casos em que o montante empenhado é ínfimo", afirmou.>
Amaral disse que o Executivo recebeu do Legislativo todos os instrumentos orçamentários e financeiros para a execução das ações de forma plena.>
"É claro que em um contexto de pandemia, é possível que alguns órgãos tenham superestimado os recursos de que necessitariam. O que precisa ser analisado é se a demanda social foi adequadamente atendida", afirmou Amaral.>
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