Publicado em 2 de outubro de 2020 às 16:52
Ao escolher seu indicado para a vaga aberta de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente Jair Bolsonaro decidiu por um nome que prestigia a chamada ala garantista da corte e, de quebra, agrada o ministro Gilmar Mendes, relator do processo que pode implicar sua família. >
Foi o próprio presidente que levou o juiz federal Kássio Nunes, 48, para receber o aval do magistrado na casa dele em um jantar na última terça-feira (29). O encontro também contou com a participação do ministro Dias Toffoli, ex-presidente do Supremo.>
No encontro, Bolsonaro disse que gostaria de valorizar a magistratura e tinha a intenção de indicar o integrante do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região).>
O presidente chegou ao encontro com o "prato feito", como relatou um membro do STF em reservado, e sem abrir margem para a indicação de um nome de preferência dos ministros. Deixou aberta, no entanto, a margem para que Gilmar e Toffoli pudessem eventualmente criticar Kássio depois.>
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Entre parlamentares e advogados, a avaliação é a de que Bolsonaro tirou um nome da cartola que lhe deva gratidão e seja fiel aos seus interesses no STF.>
A indicação também consolida uma mudança de paradigma de Bolsonaro, antes um apoiador da Lava Jato e agora um crítico dos métodos da operação depois que se viu atingido por outras investigações.>
Kassio tem dito que terá uma atuação garantista no tribunal, ou seja, com uma visão de mais respaldo às alegações dos réus.>
Bolsonaro anunciou em live nas redes sociais nesta quinta-feira (1º) a indicação de Kássio para o lugar de Celso de Mello, que anunciou na semana passada que antecipará sua aposentadoria para 13 de outubro. Inicialmente, ele sairia do tribunal em 1 de novembro, quando completa 75 anos. A oficialização saiu no Diário Oficial desta sexta (2).>
Bolsonaro tem ciência de que a escolha deixa insatisfeito o novo presidente do STF, ministro Luiz Fux, que não foi consultado sobre Kássio, mas preferiu priorizar a relação com quem pode influenciar o futuro das investigações que já atingem seus parentes.>
Segundo pessoas próximas a Bolsonaro, a indicação do juiz federal contou com a chancela de Flávio e de Frederick Wassef, ex-advogado da família. Além deles, uma terceira pessoa teria chancelado o nome: Maria do Carmo Cardoso, juíza federal do TRF-1.>
Em maio, como mostrou a coluna Lauro Jardim, de O Globo, a magistrada desferiu críticas a Celso de Mello quando o ministro pediu que a PGR avaliasse se deveria pedir busca e apreensão do celular de Jair Bolsonaro num procedimento de praxe.>
"É o mesmo que rasgar a Constituição da república! Estou, deveras, estarrecida com a postura do 'decano'", escreveu ela em uma postagem do perfil de Flavio Bolsonaro nas redes sociais.>
Na mesma live, o presidente antecipou uma característica do próximo ministro que poderá indicar no ano que vem, para a vaga de Marco Aurelio Mello, que também se aposentará compulsoriamente aos 75 anos.>
"Temos uma vaga prevista para o ano que vem também. Esta segunda vaga vai ser para um evangélico", afirmou Bolsonaro.>
Os dois nomes reivindicados por religiosos para ocupar uma cadeira no STF são André Mendonça, ministro da Justiça, e William Douglas, juiz federal no Rio de Janeiro. Este último também tem o respaldo do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente.>
Apesar da afirmação de Bolsonaro, interlocutores do presidente e integrantes do Supremo acreditam que caso a insatisfação de Fux com a possível indicação de Kássio tenha reflexos na relação entre os Poderes, o presidente pode mudar sua posição em nome de uma relação o presidente do STF.>
O chefe do Executivo pode amenizar a situação prestigiando o presidente do Supremo na escolha da vaga de Marco Aurélio. O efeito disso seria colocar em risco a cadeira do ministro "terrivelmente evangélico", como Bolsonaro já prometeu, com esse termo.>
A segunda vaga à disposição de Bolsonaro abrirá em julho do ano que vem. A aposta é a de que o presidente voltará a avaliar o cenário de momento para escolher o novo integrante do STF. Fux ainda será o presidente da corte.>
O preferido de Fux é o ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Luís Felipe Salomão. O ministro tem o respaldo de outros magistrados do STF. Na avaliação de membros do Judiciário, caso confirmada a indicação de Kássio agora, o nome de Salomão fica fortalecido para o lugar de Marco Aurélio.>
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