Publicado em 27 de outubro de 2021 às 14:26
Em busca de uma vaga na corrida presidencial do ano que vem, o governador João Doria (PSDB-SP) pretende chegar à COP26 como um antípoda ambiental de Jair Bolsonaro.>
Na manga, um novo fundo de R$ 100 milhões para a Fapesp (Fundação de Amparo à Pequisa do Estado de São Paulo) dedicado exclusivamente à pesquisa na região da Amazônia. >
O valor, diz a secretária Patrícia Ellen (Desenvolvimento Econômico), pode chegar a R$ 500 milhões, a depender da finalização do edital e de sua modelagem, que permitirá o aporte de recursos privados e de outras fundações semelhantes. >
"Nós já somos um contraponto ao governo Bolsonaro, que isolou o país. O Brasil não tem compromisso com a descarbonização, nós temos", afirmou Doria em Dubai, onde integra uma missão empresarial antes de embarcar no sábado (30) para Glasgow (Escócia), que sediará a reunião do clima da ONU. >
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Doria já fez reuniões com os oito governadores que estarão na COP26, buscando montar uma agenda comum. Segundo Ellen, um detalhe do edital é único: ele exige a presença de ao menos um pesquisador ou instituto da região para ser aprovado. "Isso estimulará o ecossistema da ciência na região", afirmou. >
Doria quer ser candidato a presidente pelo PSDB, onde enfrenta prévias contra o governador Eduardo Leite (RS). Desde o ano passado, ao apostar na produção local da vacina contra a Covid-19, adotou uma defesa pública da ciência ante o negacionismo de Bolsonaro no trato da pandemia. >
A postura foi vitoriosa no caso das vacinas, até hoje combatidas pelo presidente, mas foi arranhada por críticas eventuais a decisões de liberalização de medidas para tentar conter a circulação do vírus. >
O maior problema que o tucano teve, ao menos em termo retórico, foi quando em 2020 seu governo propôs tomar o superávit de universidades estaduais e da própria Fapesp para ser integrado ao Tesouro estadual. >
Houve uma grita enorme na comunidade científica e, ao fim, o governador teve de recuar da ideia, em outubro. Desde então, concentra esforços para superar o episódio. >
No orçamento deste ano, o governador apresentou o maior nível de investimento histórico em ciência e tecnologia do estado, 40% maior do que em 2020, chegando a R$ 1 bilhão. >
Mais um contraponto explorado pelo time de Doria: o Ministério da Economia tosou R$ 600 milhões da pasta da Ciência e Tecnologia, 90% do que era destinado à pesquisa. >
Com a projeção internacional negativa do Brasil sob Bolsonaro, particularmente no quesito ambiental, abriu-se uma grande oportunidade para São Paulo. O fundo é o mais vistoso item dessa agenda, que inclui também um programa importante localmente, mas sem impacto internacional relevante, o da despoluição do rio Pinheiros. >
Ela será apresentada como caso local de iniciativa em prol do ambiente, algo essencial num mundo em que fundos de investimento perguntam antes se governos e empresas estão rezando segundo a cartilha ESG (sigla inglesa para ambiente, sustentabilidade e governança). >
Doria e seus secretários têm repetido o mantra acerca do tema, e sua defesa do tema sob uma ótica nacionalista gerou até uma cena inusitada na entrevista coletiva ocorrida em um hotel em Dubai. >
Uma assessora lhe deu uma latinha de Pepsi que, no melhor estilo do astro português Cristiano Ronaldo, Doria recusou. >
"Aqui é Brasil, aqui é guaraná", disse. Sem o refrigerante da Ambev por perto, acabou bebendo suco de laranja da Natural One. Em junho, o jogador do Manchester United (ING) causou comoção ao recusar uma Coca-Cola, patrocinadora da Eurocopa que disputava por Portugal, e pediu uma água. >
Enquanto Ronaldo foi acusado de hipocrisia por esnobar um anunciante, Doria foi claro e lembrou que tanto a Ambev quanto a Natural One estão entre as principais patrocinadoras da Missão Dubai, paga por empresas privadas organizadas pela agência paulista InvestSP. >
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