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CPI: sócio da Belcher nega ajuda de Barros para negociar vacinas

CPI: sócio da Belcher nega ajuda de Barros para negociar vacinas

A CPI investiga o parlamentar por suposto envolvimento em indícios de irregularidades que resultaram no cancelamento do contrato para aquisição da vacina indiana Covaxin pelo Ministério da Saúde

Publicado em 24 de agosto de 2021 às 16:29

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O deputado federal Ricardo Barros (PP - PR)
O deputado federal Ricardo Barros (PP-PR). (Michel Jesus/Câmara dos Deputados)

 Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia do Senado, nesta terça-feira (24), o sócio da farmacêutica Belcher, Emanuel Cartori, disse que não teve ajuda do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) para ter acesso a autoridades do Ministério da Saúde para comercializar a vacina chinesa Convidencia, desenvolvida pela farmacêutica CanSino Biologics contra a covid-19.

“Ele [Ricardo Barros] não me ajudou em nada sobre a vacina, o Brasil todo soube da nossa vacina; para vacina, a gente não precisa nenhuma interferência política, ainda mais se tratando de uma dose”, afirmou o empresário.

A relação da Belcher com o deputado, que é líder do governo na Câmara dos Deputados,  foi um dos principais pontos explorados pelos senadores na comissão hoje. Ricardo Barros tem reduto eleitoral em Maringá, mesma cidade onde está sediada a farmacêutica. A CPI investiga o parlamentar por suposto envolvimento em indícios de irregularidades que resultaram no cancelamento do contrato para aquisição da vacina indiana Covaxin pelo Ministério da Saúde.

Sobre Ricardo Barros, o depoente disse que, por serem da mesma cidade, mantém apenas conversas periódicas com o parlamentar. Catori garantiu que, mesmo com a quebra de sigilo telemático solicitada pela CPI, os senadores não encontrarão nenhuma conversa dele com o parlamentar com tratativas sobre a vacina. O empresário também rechaçou a interpretação da cúpula da CPI de que Barros atuou como “facilitador político” da Belcher junto ao governo federal.

Questionado pelo vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a respeito de sua relação com Flávio Pansieri, advogado de Barros, o sócio da Belcher disse que Pansieri foi contratado pela empresa para atuar na "parte regulatória". Já a relação do advogado com Barros foi justificada como "mera coincidência" pelo depoente. Pansieri participou de reuniões com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da negociação de uma parceria entre a empresa farmacêutica e o Instituto Vital Brazil.

OUTRAS REUNIÕES

Emanuel Cartori confirmou aos senadores que, no dia 15 de abril, esteve com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o deputado federal Ricardo Barros. Esse encontro, segundo o empresário, foi uma “audiência coletiva" no ministério, por iniciativa da Frente Parlamentar da Indústria Pública de Medicamentos, coordenada por Barros. Segundo Cartori, também participaram mais empresas, além da Belcher, e não houve menção à vacina.

À CPI, Emanuel Cartori também relatou as tratativas com o grupo de empresários liderado por Luciano Hang, Carlos Wizard e Alan Eccel para a compra de 9 milhões de doses da vacina chinesa CoronaVac. Segundo ele, as doses seriam destinadas exclusivamente para doação, mas a negociação não avançou por causa do acordo de exclusividade entre a Sinovac e o Instituto Butantan.

CANSINO

Especificamente sobre audiência para tratar da vacina da CanSino, o empresário disse que a primeira comunicação formal da Belcher junto ao Ministério da Saúde com esse objetivo se deu de forma direta, a partir de um e-mail enviado à pasta em 12 de maio de 2021. Além de informações gerais sobre a vacina, o texto apresentava as credenciais formais da Belcher com poderes reais para exercer a regular representação da Cansino.

A partir desse e-mail e após a análise dessas documentações, o depoente explicou que a Belcher foi recebida em uma reunião presencial no Ministério da Saúde em 19 de maio de 2021, inicialmente com a equipe técnica do departamento de imunização. “Neste 19 de maio, a representação da Cansino, da Belcher, já era pública e notória e destaque na imprensa, pois, no dia anterior, no dia 18 de maio, apresentamos à Anvisa o pedido de autorização para o uso emergencial da vacina Convidecia”, ressaltou.

A intenção da Belcher era negociar a venda de 60 milhões de doses do imunizante chinês. Mas em 10 de junho, alegando razões de compliance, ou seja, de acordo com a lei e regulamentos, a CanSino revogou a relação com a empresa de Catori antes mesmo da primeira rodada comercial com o ministério. Emanuel Catori ficou em silêncio todas as vezes em que foi perguntado sobre o lucro que a empresa Belcher teria com a venda da vacina da CanSino.

DOCUMENTOS SIGILOSOS

No início da reunião desta terça-feira, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), informou que o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a comissão tome providências em relação ao vazamento de documentos sigilosos. Diante do pedido, Aziz afirmou que seus integrantes deverão assinar pedidos específicos de acesso aos documentos sigilosos. “ Se vazar algum documento, estará lá a assinatura do senador e ele será responsabilizado. Não está cerceado o acesso aos documentos, mas nós temos que tomar algumas providências”, disse.

O senador também disse que a CPI recorreu da decisão do ministro Edson Fachin que negou habeas corpus à comissão no inquérito da Polícia Federal sobre a suposta divulgação de documentos sigilosos no caso da compra da vacina indiana Covaxin.

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