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CPI da Covid ouve advogada de médicos da Prevent Senior

CPI da Covid ouve advogada de médicos da Prevent Senior

Bruna Morato é representante dos médicos dque realizaram denúncias contra a empresa. Falas devem servir para aprofundar apurações sobre supostas irregularidades em unidades da operadora

Publicado em 28 de setembro de 2021 às 12:15

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MATEUS VARGAS E MARCELO ROCHA

CPI da Covid ouve nesta terça-feira (28) a advogada Bruna Morato, representante dos médicos da Prevent Senior que realizaram denúncias contra a empresa. As falas devem servir para aprofundar apurações sobre supostas irregularidades em unidades da operadora e possível elo entre o governo federal e entes privados para promover tratamento sem eficácia para Covid-19.

Um dossiê entregue à CPI por 15 médicos que trabalharam na Prevent, representados pela defensora, aponta que pacientes e parentes não eram consultados sobre a administração de medicamentos do chamado "kit Covid".

Bruna Morato, advogada de médicos da Prevent, em depoimento na CPI da Covid
Bruna Morato, advogada de médicos da Prevent, em depoimento na CPI da Covid. (Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Em particular, o documento menciona suposta mudança nos prontuários do médico Anthony Wong e Regina Hang, mãe de Luciano Hang.

Os senadores do grupo majoritário da CPI já trabalham internamente com a possibilidade de adiar por mais tempo a conclusão das atividades da comissão, em previsões que variam do meio ao fim de outubro. O principal motivo é a evolução da apuração envolvendo a Prevent Senior.

À reportagem o relator Renan Calheiros (MDB-AL) fez uma avaliação no domingo (26) de que a CPI terá, no máximo, mais duas semanas de depoimentos. "Da minha parte, tão logo tenhamos o último depoimento, apresentarei o relatório", afirmou.

Outro integrante da comissão, Otto Alencar (PSD-BA) afirmou que a investigação parlamentar se dedicará a fechar "a ponta da Prevent Senior" no tempo que lhe resta.

"Acho que podemos concluir na primeira semana de outubro. Renan tem trabalhado nos fins de semana e já tem o relatório praticamente pronto", disse Alencar.

Integrantes da CPI dizem acreditar que merece atenção a possível relação da Prevent com o governo Bolsonaro, principalmente pela suspeita de o Ministério da Saúde ter usado um protocolo da operadora para incentivar a utilização do chamado "kit Covid", com remédios ineficazes contra a doença.

LUCIANO HANG SERÁ OUVIDO NA QUARTA

O empresário Luciano Hang, dono das Lojas Havan, deve ser ouvido nesta quarta-feira (29). A convocação do empresário não foi consenso nos bastidores do grupo majoritário da CPI. Alguns senadores avaliam que Hang tem pouco a acrescentar na apuração e que a sessão pode virar só um palco para que ele defenda o que chama de tratamento precoce.

Há a percepção, porém, de que os depoimentos voltarão a colocar em evidência o gabinete paralelo, suposta estrutura de aconselhamento de Bolsonaro para temas da pandemia, fora da estrutura do Ministério da Saúde.

O depoimento do dono das lojas Havan ganhou força, após a convocação, por documentos divulgados pela TV Globo que indicam que Hang financiou o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos graças à ajuda do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Hang, Eduardo e o blogueiro negaram este financiamento. O canal Terça Livre, de Allan dos Santos, é investigado em dois inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal) por disseminar fake news e incitação ao crime contra autoridades.

Hang também teve reuniões durante a pandemia com integrantes do governo para pressionar pela flexibilização da venda de vacinas contra Covid-19 ao setor privado, no momento de escassez de doses ao SUS.

A proposta encabeçada por ele e pelo empresário Carlos Wizard era de doar parte das vacinas à rede pública.

O dossiê entregue à CPI indica que o prontuário médico da mãe de Hang cita como causa da sua morte a consequência de uma pneumonia bacteriana, e não a Covid, motivo pelo qual foi internada.

O documento, com cerca de 2.000 páginas, foi elaborado pela Prevent Senior, operadora que controla o hospital em que Regina Hang morreu.

Além disso, o prontuário, obtido pelo jornal Folha de S.Paulo, também relata que a paciente recebeu tratamento precoce com medicamentos ineficazes contra a doença, como azitromicina, hidroxicloroquina, prednisona e colchicina, antes de morrer.

Em nota divulgada à imprensa, Hang disse que fez "tudo o que podia" e que, "como qualquer filho", quando sua mãe ficou doente, "foi para a guerra com todas as armas que tinha". O empresário disse também ter "total confiança nos procedimentos adotados pelo Prevent Senior e que tudo que era possível foi feito".

Renan afirmou na semana passada que a comissão tem provas de que Hang pediu para que os médicos que trataram sua mãe não divulgassem que ela teria sido medicada com o "kit Covid".

Em depoimento à CPI da Covid, o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista Júnior, negou as acusações do dossiê.

Afirmou que não se tratava de estudos e sim de uma simples observação com o uso dos medicamentos do "kit Covid". Ele acusou ainda dois ex-médicos de acessarem e alterarem as planilhas para prejudicarem a empresa.

Por outro lado, na denúncia mais grave na percepção dos senadores, Batista Júnior reconheceu que um protocolo da Prevent orientava a reclassificação do chamado CID, o código de diagnóstico da doença, para excluir dos prontuários a Covid-19, passando a considerar que os pacientes, depois de determinado tempo de internação, estavam com outros problemas de saúde.

Batista Júnior disse, porém, que atestados de óbito não foram alterados.

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse à Folha de S.Paulo acreditar que o relatório final da comissão será robusto o suficiente para não ser engavetado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, próximo a Bolsonaro.

"Está achando que o cara [Aras] vai matar isso no peito [engavetar] e vai dizer: 'Não, espera aí, eu mato isso no peito e vou resolver'? Não é assim, não", afirmou.

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