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Chefe da Secom de Bolsonaro se encontrou 67 vezes com clientes de sua empresa

Chefe da Secom de Bolsonaro se encontrou 67 vezes com clientes de sua empresa

Agenda pública de Fabio Wajngarten mostra que desde que ele assumiu o cargo teve dezenas de reuniões com representantes de clientes e ex-clientes de sua empresa FW Comunicação

Publicado em 16 de janeiro de 2020 às 19:21

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Fabio Wajngarten, secretário especial de Comunicação Social (Secom) da Secretaria de Governo da Presidência. (Marcelo Camargo/Agência Brasil )

O chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, Fabio Wajngarten, que é sócio da empresa de publicidade FW Comunicação e recebe, por meio da companhia, dinheiro de emissoras de TV e agências de publicidade contratadas pela própria secretaria e outros órgãos do governo Jair Bolsonaro (sem partido), se encontrou dezenas de vezes com clientes da sua empresa privada no exercício do cargo de chefe da Secom.

Segundo informações do jornal "Folha de S. Paulo", que consultou a agenda pública e os relatos oficiais de viagens realizadas pelo chefe da Secom, desde que  Wajngarten assumiu o cargo ele teve pelo menos 67 encontros com representantes de clientes e ex-clientes de sua empresa. Segundo os registros, 20 viagens foram custeadas com dinheiro público para parte dessas reuniões.

 A Secom é a responsável pela distribuição da verba de propaganda do Planalto e também por ditar as regras para as contas dos demais órgãos federais. No ano passado, gastou R$ 197 milhões em campanhas publicitárias.

Conforme a Folha havia relevado em primeira mão na quarta-feira (15), o secretário detém 95% das ações da FW, , que tem contratos com ao menos cinco empresas que recebem do governo, entre elas a Band e a Record, cujas participações na verba publicitária da Secom vêm crescendo.

A legislação, no entanto, proíbe expressamente integrantes da cúpula do governo de manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões. Em entrevista à Folha, Fabio Liberman, nomeado em abril para administrar a FW, disse que a firma de fato teve negócios com SBT e Rede TV, mas os contratos se encerraram.

ENCONTROS COM EXECUTIVOS DE SBT, RECORD E BAND NA LISTA

Segundo apurou a Folha, nomes ligados às emissoras e afiliadas de TV Record, SBT, Band e Rede TV constam em 62 compromissos listados em sua agenda oficial e em suas viagens para fora de Brasília, custeadas com dinheiro público.

Os outros 5 foram com integrantes da agência Artplan, agência contratada pelo governo e que, ao mesmo tempo, paga pelos serviços da empresa do chefe da Secom.

A TV Globo, foco de críticas do secretário e do presidente Jair Bolsonaro, aparece em apenas três encontros, os últimos realizados em julho do ano passado, ocasião em que há registro de uma visita institucional de Wajngarten à sede da TV, no Jardim Botânico (RJ), para almoço com o vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo Globo, João Roberto Marinho. O secretário também teve uma agenda com representantes do Grupo RBS, que tem 12 emissoras locais afiliadas à Globo.

Na lista de clientes ou ex-clientes estão as TVs Record e SBT, com 21 e 19 encontros, respectivamente. Seus donos, Edir Macedo (Record) e Silvio Santos (SBT), têm manifestado apoio a Bolsonaro. Os dois, por exemplo, subiram no palanque do desfile de Sete de Setembro, no ano passado, e se sentaram na primeira fila junto com o presidente da República.

Entre os executivos dessas emissoras recebidos pelo chefe da Secom estão Guilherme Stoliar, presidente do Grupo Silvio Santos, e Luiz Claudio Costa, presidente da Record TV. Representantes de Band e Rede TV tiveram 11 encontros, cada um, com o chefe da Secom desde abril, entre eles Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes, e Marcelo de Carvalho, vice-presidente e cofundador da RedeTV. Record e Band possuem contrato em vigor com a empresa de Wajngarten.

R$ 147 MIL DE DINHEIRO PÚBLICO PARA BANCAR ENCONTROS

Wajngarten se encontrou com dirigentes ou representantes de emissoras e empresas em agendas oficiais no Planalto e durante viagens pagas pelo governo. O governo gastou R$ 147 mil em 44 viagens do chefe da Secom entre 8 de abril de 2019 e 15 de janeiro de 2020. Em 20 delas, ele se encontrou com executivos e outros funcionários de emissoras que tiveram ou têm contrato com a FW Comunicação.

De 12 de abril, data em que Bolsonaro nomeou Wajngarten, a 31 de dezembro do ano passado, a Secom destinou à Band 12,1% da verba publicitária para TVs abertas, ante 9,8% no mesmo período de 2018. A Record obteve 27,4% e o SBT, 24,7%. No ano anterior, as duas haviam recebido, respectivamente, 23,6% e 22,5%. Já a líder de audiência Globo, sob Wajngarten, ficou com percentual menor (13,4%), contra 24,6% em 2018.

REPERCUSSÕES

Em nota enviada a Folha, a TV Band afirmou que a empresa FW Comunicação presta serviços ao mercado de comunicação há anos. "A Bandeirantes tem contrato desde 17 de dezembro de 2004. Os recursos de publicidade do governo federal destinados à Band em 2019 foram menores do que os recursos destinados em 2018", diz a emissora.

A RedeTV, também em nota enviado ao jornal, informou que não mantém relações comerciais com empresas particulares do secretário. A emissora diz ainda que os contratos com a FW foram finalizados "anos antes" de Wajngarten ocupar cargo público. Sobre as agendas com o chefe da Secom, a emissora afirmou que "todos os encontros versaram sobre temas importantes para a comunicação do governo federal, no escopo das atividades do secretário”.

Ao jornal, o SBT afirmou que teve contrato com a FW até o primeiro semestre de 2019. O vínculo, segundo a assessoria da emissora, foi encerrado "por motivo de contenção de despesas". A emissora de Silvio Santos não se manifestou sobre os encontros entre Wajngarten e executivos e funcionários da empresa.

O diretor de Comunicação na Rede Record, Celso Teixeira, afirmou em entrevista a Folha que os encontros entre representantes da empresa e o chefe da Secom foram institucionais e não trataram de assuntos privados ligados à FW. 

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Wajngarten e a Artplan não responderam aos questionamentos do jornal. Anteriormente, o chefe da Secom afirmou não haver "nenhum conflito" de interesses em manter negócios com empresas que a secretaria e outros órgãos do governo Bolsonaro contratam. “Todos os contratos existem há muitos anos e muito antes de sua ligação com o poder público”, afirmou, por meio de nota da Secom.

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