Publicado em 16 de janeiro de 2020 às 19:21
O chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, Fabio Wajngarten, que é sócio da empresa de publicidade FW Comunicação e recebe, por meio da companhia, dinheiro de emissoras de TV e agências de publicidade contratadas pela própria secretaria e outros órgãos do governo Jair Bolsonaro (sem partido), se encontrou dezenas de vezes com clientes da sua empresa privada no exercício do cargo de chefe da Secom.>
Segundo informações do jornal "Folha de S. Paulo", que consultou a agenda pública e os relatos oficiais de viagens realizadas pelo chefe da Secom, desde que Wajngarten assumiu o cargo ele teve pelo menos 67 encontros com representantes de clientes e ex-clientes de sua empresa. Segundo os registros, 20 viagens foram custeadas com dinheiro público para parte dessas reuniões.>
A Secom é a responsável pela distribuição da verba de propaganda do Planalto e também por ditar as regras para as contas dos demais órgãos federais. No ano passado, gastou R$ 197 milhões em campanhas publicitárias.>
Conforme a Folha havia relevado em primeira mão na quarta-feira (15), o secretário detém 95% das ações da FW, , que tem contratos com ao menos cinco empresas que recebem do governo, entre elas a Band e a Record, cujas participações na verba publicitária da Secom vêm crescendo. >
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A legislação, no entanto, proíbe expressamente integrantes da cúpula do governo de manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões. Em entrevista à Folha, Fabio Liberman, nomeado em abril para administrar a FW, disse que a firma de fato teve negócios com SBT e Rede TV, mas os contratos se encerraram. >
Segundo apurou a Folha, nomes ligados às emissoras e afiliadas de TV Record, SBT, Band e Rede TV constam em 62 compromissos listados em sua agenda oficial e em suas viagens para fora de Brasília, custeadas com dinheiro público.>
Os outros 5 foram com integrantes da agência Artplan, agência contratada pelo governo e que, ao mesmo tempo, paga pelos serviços da empresa do chefe da Secom. >
A TV Globo, foco de críticas do secretário e do presidente Jair Bolsonaro, aparece em apenas três encontros, os últimos realizados em julho do ano passado, ocasião em que há registro de uma visita institucional de Wajngarten à sede da TV, no Jardim Botânico (RJ), para almoço com o vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo Globo, João Roberto Marinho. O secretário também teve uma agenda com representantes do Grupo RBS, que tem 12 emissoras locais afiliadas à Globo.>
Na lista de clientes ou ex-clientes estão as TVs Record e SBT, com 21 e 19 encontros, respectivamente. Seus donos, Edir Macedo (Record) e Silvio Santos (SBT), têm manifestado apoio a Bolsonaro. Os dois, por exemplo, subiram no palanque do desfile de Sete de Setembro, no ano passado, e se sentaram na primeira fila junto com o presidente da República.>
Entre os executivos dessas emissoras recebidos pelo chefe da Secom estão Guilherme Stoliar, presidente do Grupo Silvio Santos, e Luiz Claudio Costa, presidente da Record TV. Representantes de Band e Rede TV tiveram 11 encontros, cada um, com o chefe da Secom desde abril, entre eles Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes, e Marcelo de Carvalho, vice-presidente e cofundador da RedeTV. Record e Band possuem contrato em vigor com a empresa de Wajngarten. >
Wajngarten se encontrou com dirigentes ou representantes de emissoras e empresas em agendas oficiais no Planalto e durante viagens pagas pelo governo. O governo gastou R$ 147 mil em 44 viagens do chefe da Secom entre 8 de abril de 2019 e 15 de janeiro de 2020. Em 20 delas, ele se encontrou com executivos e outros funcionários de emissoras que tiveram ou têm contrato com a FW Comunicação. >
De 12 de abril, data em que Bolsonaro nomeou Wajngarten, a 31 de dezembro do ano passado, a Secom destinou à Band 12,1% da verba publicitária para TVs abertas, ante 9,8% no mesmo período de 2018. A Record obteve 27,4% e o SBT, 24,7%. No ano anterior, as duas haviam recebido, respectivamente, 23,6% e 22,5%. Já a líder de audiência Globo, sob Wajngarten, ficou com percentual menor (13,4%), contra 24,6% em 2018. >
Em nota enviada a Folha, a TV Band afirmou que a empresa FW Comunicação presta serviços ao mercado de comunicação há anos. "A Bandeirantes tem contrato desde 17 de dezembro de 2004. Os recursos de publicidade do governo federal destinados à Band em 2019 foram menores do que os recursos destinados em 2018", diz a emissora.>
A RedeTV, também em nota enviado ao jornal, informou que não mantém relações comerciais com empresas particulares do secretário. A emissora diz ainda que os contratos com a FW foram finalizados "anos antes" de Wajngarten ocupar cargo público. Sobre as agendas com o chefe da Secom, a emissora afirmou que "todos os encontros versaram sobre temas importantes para a comunicação do governo federal, no escopo das atividades do secretário.>
Ao jornal, o SBT afirmou que teve contrato com a FW até o primeiro semestre de 2019. O vínculo, segundo a assessoria da emissora, foi encerrado "por motivo de contenção de despesas". A emissora de Silvio Santos não se manifestou sobre os encontros entre Wajngarten e executivos e funcionários da empresa.>
O diretor de Comunicação na Rede Record, Celso Teixeira, afirmou em entrevista a Folha que os encontros entre representantes da empresa e o chefe da Secom foram institucionais e não trataram de assuntos privados ligados à FW. >
Wajngarten e a Artplan não responderam aos questionamentos do jornal. Anteriormente, o chefe da Secom afirmou não haver "nenhum conflito" de interesses em manter negócios com empresas que a secretaria e outros órgãos do governo Bolsonaro contratam. Todos os contratos existem há muitos anos e muito antes de sua ligação com o poder público, afirmou, por meio de nota da Secom.>
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