Publicado em 5 de agosto de 2020 às 15:07
Com a movimentação antecipada pela sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pisou no freio e decidiu? por ora evitar gestos que possam influenciar na briga pelo comando da Câmara dos Deputados. >
O presidente disse a assessores próximos que, neste momento, passará a acompanhar as articulações políticas como um mero observador.>
Bolsonaro, porém, não descartou a possibilidade de mudar de posição e apoiar um dos candidatos na véspera do pleito, em fevereiro do ano que vem. O próximo presidente da Casa estará no comando durante o período eleitoral de 2022, quando Bolsonaro deve disputar a reeleição ao Planalto.>
Até então, segundo deputados bolsonaristas, o presidente trabalhava de forma discreta para fortalecer o líder do PP, o deputado Arthur Lira (AL), em um aceno na tentativa de consolidar uma base aliada.>
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Bolsonaro, apesar de ter afirmado que se ausentará da disputa, não esconde a intenção de querer um nome de sua confiança no lugar de Maia, ou seja, alguém que atue na aprovação de pautas de interesse do governo.>
O recuo estratégico do presidente foi sugerido por integrantes da equipe ministerial após a saída do DEM e do MDB do chamado blocão.>
Apesar de a debandada ser tratada como um fato corriqueiro por líderes políticos envolvidos no processo, o episódio levou o Palácio do Planalto a fazer contas e irritou parlamentares do PP e PL, que seguem no grupo.>
A ira de deputados do PP foi tamanha que eles sugeriram a auxiliares do presidente que avaliassem retirar cargos que os dois partidos dissidentes têm no governo federal para retaliá-los caso não votem com o Planalto.>
Bolsonaro, no entanto, decidiu não mexer nenhuma peça do xadrez. Juntos, DEM e MDB somam 63 deputados. A avaliação de assessores palacianos é simples: se decidir atacar essas duas siglas, o presidente corre o risco de perder votos necessários para atingir a maioria na Câmara.>
O que acalma o Executivo é uma leitura pragmática: até agora, na pauta econômica, as duas siglas têm votado majoritariamente com o governo.>
A avaliação foi reiterada pelo ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) aos líderes do MDB, Baleia Rossi (SP), e do DEM, Efraim Filho (PB).>
Nas últimas semanas, Ramos teve sucesso em manter o apoio dos dois partidos e conseguiu vitórias para o governo, como a aprovação de alterações na lei dos portos e da medida provisória que prevê repasse de R$ 3 bilhões para o setor cultural.>
Em outras pautas, como nas de costumes, porém, o apoio não é tão garantido. Logo, qualquer tipo de retaliação a MDB e DEM poderia fragilizar uma relação que, agora, ficou mais distante.>
Bolsonaro tem também preocupação com as votações de vetos presidenciais. Embora conte com pouca inclinação do presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), para marcar a votação dos vetos, o presidente irritou parlamentares com recentes canetadas.>
Uma em especial, a do marco legal do saneamento, levou parlamentares a defenderem a derrubada do veto presidencial, sob argumento de que o governo quebrou acordo feito para a aprovação do texto.>
Na lista de vetos cuja derrubada preocupa o governo estão o da desoneração da folha de pagamentos de 17 setores e o que destina R$ 8 bilhões ao combate à pandemia do coronavírus.>
Além disso, o recuo de Bolsonaro se deve a uma avaliação de líderes partidários de que Maia tem obtido sucesso em garantir apoio, tanto na esquerda como no centro, para eleger um candidato de seu grupo político.>
O deputado ainda não definiu um nome, mas até mesmo integrantes do governo avaliam que hoje é grande a chance de o parlamentar emplacar um aliado no posto.>
A ponderação é a de que, caso Bolsonaro siga abraçando a candidatura de Lira, ele pode repetir o erro de sua antecessora Dilma Rousseff (PT) e se ver em maus lençóis caso o líder do PP seja derrotado.>
No início de 2015, a petista apoiou o nome de Arlindo Chinaglia (PT), que acabou derrotado por Eduardo Cunha (MDB). No final daquele ano, o emedebista autorizou a abertura de processo de impeachment de Dilma.>
"Eu acho que é melhor deixar que a Câmara resolva qual é a melhor solução para ela. Toda vez, em um passado recente, que um presidente andou se metendo nisso aí, não foi bom", disse à reportagem o vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB).>
O blocão foi montado no início deste ano para definir a formação da Comissão Mista de Orçamento. Era composto por PL, PP, PSD, MDB, DEM, Solidariedade, PTB, PROS e Avante.>
Inicialmente, o PSL também fazia parte, mas desembarcou. Além dele, o Republicanos, partido do centrão, n?ão compõe o bloco. Ao todo, o blocão tinha 221 parlamentares, dentre eles muitos do centrão, ligados a partidos como PP, PTB, Solidariedade e PL.>
O Palácio do Planalto sonhava em ter entre 250 e 300 deputados, mas pode acabar tendo nas mãos pouco mais do que o necessário para livrar Bolsonaro de um eventual pedido de impeachment.>
A notícia de que DEM e MDB decidiram desembarcar do blocão veio à tona no final de julho. Além deles, PROS e PTB devem deixar o grupo. A ideia é formar um outro bloco oficial com o PSL.>
Embora fosse esperada e tenha sido minimizada tanto por Maia como por Lira, a saída desses atores do grupo irritou integrantes do centrão. O próprio líder do PP relatou a pessoas próximas ter visto no timing do movimento uma tentativa de enfraquecê-lo.>
Apesar de negarem, DEM e MDB têm o objetivo de minar os apoios a Lira e fazer um aceno em direção à oposição. Hoje, os partidos contrários a Bolsonaro reúnem 133 votos.>
Com eles, o grupo tem mais chance de formar maioria na Casa e fazer o sucessor de Maia. Lira é visto como potencial candidato à sucessão do atual presidente da Câmara.>
O deputado do PP levou o peso do bloco para a negociação com o governo em um momento de fragilidade de Bolsonaro por causa da demora em reagir ao avanço da pandemia e do impacto do caso Fabrício Queiroz.>
Ao apostar em Lira, o governo federal tentou, na avaliação de integrantes do Planalto, enfraquecer a liderança de Maia e, de quebra, criar um cenário favorável para ter um sucessor do presidente da Câmara mais favorável à agenda bolsonarista.>
?Para assessores de Bolsonaro, o controle da pauta por Maia e erros estratégicos de articulação política deram sobrevida ao presidente da Câmara e o recolocaram como protagonista na Casa, o que é atestado agora com a movimentação de DEM e MDB.??>
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