Publicado em 16 de novembro de 2021 às 07:41
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estuda conceder um reajuste salarial a policiais, que compõem parte do seu eleitorado, no ano em que buscará se reeleger. Para isso, espera contar com o espaço no Orçamento aberto pela PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Precatórios, que dribla o teto de gastos. >
O governo ainda avalia quais carreiras seriam contempladas, mas ao menos três estariam já na lista, a pedido do chefe do Executivo: policiais federais, policiais rodoviários federais e policiais penais.>
O presidente comentou em Dubai, nesta segunda-feira (15), a possibilidade de atender demandas de servidores. "Daí dá para a gente atender [com a PEC dos Precatórios] os mais necessitados, dá para atender a questão orçamentária, pensamos até em obviamente, dado o espaço que está sobrando, atender em parte os servidores", disse, em entrevista à imprensa concedida durante participação na Expo 2020, exposição internacional que ocorre no emirado do Golfo Pérsico.>
Ainda que esteja num estágio inicial, auxiliares do presidente acreditam que o custo fique abaixo de R$ 2 bilhões. Mas o impacto e a porcentagem do reajuste dependem de uma decisão do presidente.>
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O cálculo de auxiliares palacianos e da equipe econômica leva em conta que boa parte do espaço no Orçamento com a PEC dos Precatórios já está tomada. A proposta permite ao governo gastar R$ 91,6 bilhões em 2022 sem a necessidade de cortar outras despesas.>
Dessa forma, caberá ao presidente decidir quanto e de onde vai querer tirar recursos no ano que vem. Na semana passada, ele também anunciou que pretende renovar a desoneração da folha de pagamento de 17 setores por mais dois anos.>
O prazo para decidir sobre o reajuste dos policiais depende do andamento da proposta no Congresso. E as alterações na proposta de Orçamento de 2022 devem ser encaminhadas junto com outras mudanças para deputados e senadores aprovarem.>
O Ministério da Economia estuda há pelo menos três meses a possibilidade de um aumento para servidores, que estão com salários congelados desde o começo do governo.>
O impacto fiscal decorrente de uma medida do tipo era estimado entre R$ 5 bilhões e R$ 15 bilhões no começo das discussões, de acordo com interlocutores da equipe econômica ouvidos pela reportagem.>
Desde o começo, no entanto, a equipe econômica manifestava a existência de dificuldades para um aumento maior e dizia que os valores para o aumento poderiam ficar abaixo de R$ 5 bilhões.>
Segundo relatos, foi constatado que não haveria espaço para valores muito altos. Cálculos a que auxiliares palacianos tiveram acesso mostrariam que um reajuste baixo, de cerca de 1%, para todas as carreiras do funcionalismo, custaria cerca de R$ 3 bilhões.>
No entendimento deles, conceder reajuste muito abaixo da inflação teria um impacto político mais negativo do que positivo. Assim, a ideia é contemplar carreiras menos numerosas. Ainda há possibilidade de outras também receberem o reajuste em estudo.>
O próprio presidente teria solicitado prioridade para as carreiras policiais. Nos últimos anos, elas têm se queixado de terem sido deixadas de lado por Bolsonaro, ao contrário das carreiras militares.>
Em mais um aceno a eles, em setembro, o governo federal lançou o programa de habitação para policiais. Elaborado pelo Ministério da Justiça, o Habite Seguro contou com R$ 100 milhões disponíveis em 2021, contemplando policiais que recebem até R$ 7.000 por mês.>
Bolsonaro também autorizou apenas concurso público para a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, neste ano, com três mil vagas.>
O drible no teto de gastos incluído na PEC dos Precatórios eleva o déficit nas contas públicas e o endividamento do país. O Brasil está no vermelho desde 2014, sua dívida passa de R$ 5,4 trilhões e os custos com juros são pagos pela sociedade como um todo.>
Apesar de dizer que a PEC vai permitir o aumento dos valores do Auxílio Brasil, o texto não diz para onde os recursos deverão ir. A oposição diz que a medida representa um cheque em branco em recursos públicos para Bolsonaro gastar. Governo e aliados têm interesse em outras despesas, como um auxílio para caminhoneiros e até recursos para emendas parlamentares.>
No caso dos servidores, a sinalização é feita após o governo não conseguir fazer avançar sua proposta de reforma administrativa. Bolsonaro já disse que, caso ela não seja aprovada neste ano, ficará para o presidente escolhido nas próximas eleições.>
O presidente voltou a dizer que a emenda dos precatórios não representa um estouro do teto, como afirma a maioria dos economistas. Na versão bolsonarista, ela foi feita para respeitar e disciplinar o limite de gastos.>
"Tínhamos previsto pagar em torno de R$ 30 bilhões [de precatórios] no ano que vem, passou para quase R$ 90 [bilhões]. Essa diferença tem que entrar no teto. Se entrar no teto, a gente para o Brasil. E nós não queremos romper o teto", afirmou.>
Parte da comitiva do presidente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, pintou mais cedo um cenário positivo para as contas públicas do Brasil, dizendo que ajudam a manter um nível de crescimento robusto.>
Ele disse que o Brasil, neste ano, deve atingir a marca de meio trilhão de dólares de corrente de comércio, que é a soma entre as exportações e as importações.>
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