Publicado em 3 de setembro de 2020 às 17:14
Em clima de campanha eleitoral, o governo Jair Bolsonaro preparou um cronograma de inaugurações de obras de infraestrutura que, em sua maioria, foram iniciadas nos governos de Lula e Dilma Rousseff (PT). >
Das 33 obras que promete inaugurar no segundo semestre, 25 foram planejadas pelos petistas, 2 começaram a ser executadas no governo Michel Temer (MDB) e 6 saíram do papel no atual governo, sendo que algumas já eram discutidas nas gestões passadas.>
As obras rodoviárias representam mais da metade do pacote de entregas, mas apenas uma das 18 intervenções foi inteiramente conduzida pelo atual ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas -a construção da ponte sobre o rio Paranaíba, na BR-235/PI, entre as cidades de Santa Filomena, no Piauí, e Alto Parnaíba, no Maranhão. O restante fez parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criado pelo governo do PT em 2007.>
É o caso da duplicação da BR-116, tanto na Bahia quanto no Rio Grande do Sul, da duplicação de diversos trechos da BR-101, englobando Alagoas, Sergipe e Espírito Santo, da construção da BR-230, no Pará, conhecida como rodovia Transamazônica, ou mesmo da construção da ponte do Abunã, que ligará Rondônia ao Acre sobre o rio Madeira.>
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Bolsonaro tem tratado essas obras como feitos de seu governo. E, apesar da pandemia do novo coronavírus, está rodando o país em inaugurações agendadas pelos ministérios da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional.>
O cronograma foi encomendado pelo Palácio do Planalto para turbinar a imagem do presidente e aproveitar a onda de popularidade ocasionada pelo pagamento de R$ 600 do auxílio emergencial. Segundo o Datafolha, Bolsonaro atingiu seu maior patamar de aprovação, com 37% de ótimo/bom.>
O levantamento feito pela reportagem trata apenas de obras da pasta de Tarcísio de Freitas. O ministro é frequentemente elogiado por Bolsonaro, como na última quinta (27), quando o presidente disse que queria os R$ 50 bilhões gastos no pagamento do auxílio "nas mãos de Tarcísio".>
Em outubro de 2019, em uma audiência na comissão do Meio Ambiente, no Congresso, o ministro defendeu a iniciativa de entregar obras que começaram em outros governos.>
"Sempre se questiona ou se critica a falta de continuidade dos governos. E aqui hoje disseram: 'Ah, você terminou obra que era de outro presidente, outro governo'. Que bom! Que bom que nós estamos encarando a infraestrutura desta forma. Eu tenho orgulho disso. Terminamos obras de outros governos, sim. O Brasil não pode ser reinventado a cada quatro anos", disse.>
Todas as cinco obras aquaviárias previstas pelo ministério para este ano foram iniciadas em 2014: são as instalações portuárias públicas de pequeno porte no Pará.>
O presidente já disse que tem a intenção de visitar ao menos dois estados por semana. Essa postura reflete uma cobrança recorrente de seus novos aliados do centrão, insatisfeitos com a capitalização política de governadores adversários a partir de obras com recursos federais.>
A agenda de Bolsonaro, entretanto, tem provocado constrangimento entre governadores. "Não há obras iniciadas por ele. Nenhum programa novo. Ele só está visitando obras alheias e mudando nome de programas já existentes", criticou o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B).>
Das seis reformas iniciadas pelo atual governo, cinco são do setor aéreo e ganharam velocidade, em parte, pelas circunstâncias da pandemia.>
Até 5 de setembro, a pista principal do aeroporto de Congonhas estará totalmente interditada. A intervenção recebeu R$ 11,5 milhões. Além da recuperação da pista, a reforma do aeroporto prevê a remodelação da fachada do terminal de passageiros e a reconstrução do pátio de aeronaves.>
Destaque também para as obras nos aeroportos de Santarém (PA) e Foz do Iguaçu (PR) -este recebeu a visita de Bolsonaro na última quinta-feira. Iniciadas em fevereiro, as obras da pista do Aeroporto Internacional Cataratas atingiram 40%. O valor do contrato é de R$ 53,9 milhões, oriundos de um termo de convênio firmado entre a Itaipu e a Infraero.>
Apesar de os trabalhos nos aeroportos de Santa Maria (RS) e Navegantes (SC) terem sido encaminhados em 2019, a discussão se arrastava desde os governos passados.>
Bolsonaro também herdou obras iniciadas na gestão de Dilma no setor aéreo. As reformas nos aeroportos de Manaus e Bonito, por sua vez, tiveram início no governo Michel Temer (MDB).>
Em nota, o Ministério da Infraestrutura disse que entende a sua atuação como "questão de Estado, e não de governos". "O planejamento da infraestrutura nacional é, essencialmente, uma política de longo prazo e, por isso, a atual gestão escolheu como um dos pilares de sua atuação a concentração de recursos para a conclusão de obras em andamento ou paralisadas antes de abrir novas frentes".>
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