Publicado em 15 de fevereiro de 2020 às 21:23
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou em entrevista neste sábado (15), no Rio de Janeiro, que o ex-capitão da PM Adriano Nóbrega, morto no domingo (9), era um herói na época em que foi homenageado pelo senador Flavio Bolsonaro (sem partido).>
Essa foi a primeira manifestação do presidente sobre a morte do miliciano ligado ao seu filho mais velho. Ele foi morto no município de Esplanada (BA), ao ser alvo de operação que envolveu as polícias baiana e fluminense. >
Investigações apontam que Adriano atuava em diferentes atividades ilegais: milícia, jogo do bicho, máquinas caça-níqueis e homicídios profissionais.>
Adriano foi homenageado por Flávio em 2005 com a Medalha Tiradentes, mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio. Bolsonaro também disse que foi ele quem determinou que Flávio condecorasse o ex-policial militar.>
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"Não tem nenhuma sentença transitada em julgado condenando capitão Adriano por nada, sem querer defendê-lo. Naquele ano ele era um herói da Polícia Militar", afirmou.>
Adriano estava detido quando foi homenageado por Flávio Bolsonaro. Em janeiro de 2004, ele foi preso preventivamente, acusado pelo homicídio do guardador de carro Leandro dos Santos Silva, 24. >
O então policial chegou a ser condenado no Tribunal do Júri em outubro de 2005, mas conseguiu recurso para ter um novo julgamento, foi solto em 2006 e absolvido no ano seguinte.>
O ex-policial foi citado na investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro que apura se houve "rachadinha" no gabinete de Flávio quando ele era deputado estadual. Segundo o MP-RJ, contas de Adriano foram usadas para transferir dinheiro a Fabrício Queiroz, então assessor de Flávio e suspeito de comandar o esquema de devolução de salários. >
Queiroz e Adriano trabalharam juntos no 18º Batalhão da PM. Foi por meio de Queiroz que familiares de Adriano foram contratados como assessores no gabinete de Flávio: a mulher do ex-capitão, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, de 2007 até novembro de 2018, e a mãe dele, Raimunda Veras Magalhães, de abril de 2016 a novembro de 2018. >
Em 2005, enquanto estava preso preventivamente pelo homicídio de um guardador de carros, Adriano foi condecorado por Flávio com a Medalha Tiradentes. Flávio já havia homenageado o hoje ex-policial dois anos antes. O então deputado estadual apresentou uma moção de louvor em favor de Adriano. >
Adriano também foi defendido por Jair Bolsonaro, então deputado federal, em discurso na Câmara dos Deputados, em 2005, por ocasião da condenação por homicídio. O ex-capitão seria absolvido depois em novo julgamento.>
Na entrevista deste sábado, Bolsonaro também disse que conheceu Adriano em 2005, mas que nunca teve contato com ele. Acrescentou que quem o matou foi a PM da Bahia, "do PT". Afirmou, ainda, que não tem relação com a milícia do Rio.>
Questionado se também havia pedido que Flavio empregasse em seu gabinete na Alerj a mãe e a mulher de Adriano, Bolsonaro respondeu que encerraria a conversa. "Vocês estão passando para o absurdo", disse. Flávio, em seguida, assumiu o microfone.>
"Homenageei centenas e centenas de policiais militares e vou continuar defendendo, não adianta querer me vincular com a milícia, não tem absolutamente nada com milícia. Condecorei o Adriano há mais de 15 anos.">
A Folha de S.Paulo, então, voltou a perguntar sobre os parentes de Adriano empregados no gabinete de Flávio. Bolsonaro rebateu: "Fica quieta, vai, deixa ele falar. Educação".>
A mãe do ex-PM, Raimunda Veras Magalhães, e a mulher dele, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, deixaram o gabinete de Flávio, a pedido, no mesmo dia, em 13 de novembro de 2018. Elas ocupavam um mesmo cargo e ganhavam R$ 6.490,35 mensais cada uma. >
Raimunda é um dos ex-servidores de Flávio citados em relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que identificou movimentações financeiras atípicas de seu ex-assessor Fabrício Queiroz. Ela repassou R$ 4.600 para a conta de Queiroz.>
Depois da intervenção do pai, Flávio continuou: "Como posso adivinhar depois de 15 anos o que ele [Adriano] vai fazer hoje?". Afirmou que a imprensa insiste no assunto porque não tem o que falar de um governo que está dando certo. >
O senador disse, ainda, que Adriano pode ter sido torturado. "Para falar o que? Com certeza nada contra nós, porque não tem o que falar contra nós. Não temos envolvimento nenhum com milícia", afirmou.>
Bolsonaro viajou ao Rio neste sábado (15), onde participou da inauguração da alça que ligará a ponte Rio-Niterói à Linha Vermelha e de um megaevento da Igreja Internacional da Graça de Deus, em Botafogo, na zona sul.>
No primeiro, esteve acompanhado do juiz Marcelo Bretas, do senador Flávio Bolsonaro (sem partido), dos ministros Augusto Heleno e Tarcisio Freitas e do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos).>
É a segunda vez em menos de um mês que o presidente vai ao Rio participar de uma solenidade com Crivella. O prefeito, que acumula altos índices de rejeição, tenta costurar o apoio de Bolsonaro à sua campanha pela reeleição. Por enquanto, o presidente ainda não se manifestou a favor de qualquer candidato. ?>
SUSPEITAS>
A suspeita de que Adriano da Nóbrega tenha sido morto com tiros disparados a curta distância foi classificada como "infundada" pela Secretaria da Segurança da Bahia, enquanto a defesa do miliciano avalia ter sido reforçada a tese de "queima de arquivo". >
A revista Veja obteve fotos feitas após a autópsia do corpo do ex-capitão, morto em Esplanada (BA) no último domingo (9) em operação policial. Dois especialistas ouvidos pela reportagem analisaram as imagens e consideraram haver indícios de que Adriano tenha sido atingido a curta distância.>
Em nota, a Secretaria da Segurança da Bahia, ligada ao governo Rui Costa (PT), qualificou as informações de "infundadas" e afirmou que as fotografias apresentadas pela revista não são oficiais.>
"Dessa forma, os peritos não podem afirmar se foram de alguma forma manipuladas ou não e, portanto, não podem se manifestar sobre as mesmas.">
Segundo a secretaria, Adriano foi morto após reagir à ação policial. Ela diz que as lesões por arma de fogo "não foram feitas com proximidade". >
A pasta afirma que a distância dos disparos foi de pelo menos um metro, embora ainda não seja possível fixá-la com exatidão. "É impossível afirmar distância dos disparos, sem a reprodução destes, promovida com a mesma arma e munição similar, contra um anteparo." ?>
PERGUNTAS SEM RESPOSTA>
- Por que Adriano estava escondido na Bahia?>
- Por que Leandro Guimarães deu abrigo a Adriano em sua fazenda?>
- Por que Adriano deixou a fazenda de Leandro para se esconder no sítio de Gilsinho? Ele ficou sabendo que a polícia planejava uma operação? Se sim, como?>
- A casa onde Adriano foi morto tinha um colchonete, alguns móveis e alimentos, sinais de que pode ter sido preparada para receber alguém. Alguém ajudou Adriano a se esconder? >
- Se Adriano estava em um terreno cercado e com chances mínimas de fuga, por que a polícia, em vez de invadir a casa, não fez um cerco, reduzindo as chances de confronto e morte?>
- Se a Secretaria de Segurança Pública da Bahia vai investigar as circunstâncias da morte, ?por que o local onde Adriano foi morto não foi protegido ou isolado, evitando contaminação?>
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