Publicado em 14 de fevereiro de 2020 às 17:58
Os jornalistas Hugo Marques e Cristiano Mariz, da revista Veja, foram detidos e conduzidos a uma delegacia pela Polícia Militar da Bahia na manhã desta sexta-feira (14). >
Os repórteres estavam na cidade de Pojuca (a 90 km de Salvador), onde investigavam as circunstâncias da morte do miliciano Adriano da Nóbrega, ligado ao senador Flávio Bolsonaro e morto em uma ação policial no último domingo (9) em Esplanada (a 170 km da capital baiana).>
De acordo com o relato dos repórteres da Veja, eles estavam a caminho de uma das fazendas do pecuarista Leandro Guimarães quando foram cercados por duas viaturas da polícia.>
A intenção dos jornalistas era tentar entrevistar Leandro, fazendeiro que hospedou o miliciano por cerca de uma semana antes de ele seguir para o sítio do vereador Gilsinho de Dedé (PSL), onde acabou morto ao ser alvo de operação policial.>
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Mesmo após se identificarem como repórteres, os jornalistas foram revistados pelos policiais com armas em punho. Um dos soldados teria indagado por várias vezes: "Como é que vocês descobriram esse endereço?">
Em seguida, um policial apreendeu o gravador de um dos repórteres, no qual haviam sido gravadas diversas entrevistas da apuração sobre o caso. Eles ordenaram que os jornalistas os seguissem para uma delegacia no município vizinho de Pojuca.>
Os jornalistas ficaram cerca de 20 minutos na delegacia, onde foram liberados. O gravador foi devolvido.>
O episódio com os jornalistas ocorreu um dia após a revista ter revelado imagens do corpo do ex-capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro, indicando que ele teria sido morto com tiros disparados a curta distância, versão negada pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia.>
A publicação teve acesso a fotos feitas após a autópsia do ex-policial que mostram que ele também tinha um ferimento na cabeça e uma marca vermelha no lado esquerdo do peito.>
Em nota, a revista Veja disse lamentar a "postura autoritária" da Polícia Militar da Bahia e afirmou que a direção da Editora Abril "estuda as medidas cabíveis contra essa atitude de tentar constranger e limitar o trabalho da livre imprensa".>
"A direção da redação de Veja, por sua vez, como sempre fez ao longo de seus mais de cinquenta anos de história, não vai se intimidar com ameaças e medidas arbitrárias -e seguirá firme no seu compromisso de busca da verdade, doa a quem doer", diz a nota. >
A Secretaria da Segurança Pública da Bahia, ligada ao governo Rui Costa (PT), afirmou que moradores de uma localidade em Pojuca ligaram para a polícia informando que homens estavam rondando a região.>
"A Polícia Militar foi acionada, abordou o grupo e fez a condução até a Delegacia Territorial. Após se identificarem como jornalistas, foram liberados. Nenhum equipamento foi danificado, alterado ou ficou apreendido", disse, em nota, a secretaria.>
Apontado como chefe de milícia no Rio, Adriano morreu baleado com dois tiros, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública da Bahia. As perfurações causaram lesões no tórax, no pescoço e na clavícula, além de quebrar sete costelas.>
Homenageado duas vezes na Assembleia Legislativa do Rio pelo hoje senador Flávio Bolsonaro, Adriano é citado na investigação que apura a prática de "rachadinha" (esquema de devolução de salários) no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro. O miliciano teve a mãe e a mulher nomeadas para cargos quando Flávio era deputado estadual no Rio.>
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