Publicado em 7 de julho de 2020 às 20:00
Funcionários do MEC (Ministério da Educação) indicam que a definição das datas do Enem só deve ocorrer após a escolha do novo ministro.>
A falta de um ministro ainda reflete na demora na escolha de novos membros do CNE (Conselho Nacional de Educação), órgão responsável por deliberações importantes da área.>
Abraham Weintraub foi demitido no dia 18 de junho, e o país segue sem titular da pasta desde então. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chegou a nomear Carlos Alberto Decotelli para o cargo no último dia 25, mas falsidades em seu currículo fizeram com que ele nem sequer tomasse posse.>
Desde o ano passado, a pasta é alvo de assédio de diferentes alas de influência dentro do governo, e cada grupo insiste em emplacar um indicado que atenda suas agendas. Bolsonaro disse que pode decidir o futuro do MEC ainda nesta terça-feira (7).>
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Com uma gestão marcada por ataques constantes a pessoas e grupos considerados adversários, Weintraub legou ao MEC uma escassa agenda educacional.>
Projetos lançados por ele ficaram parados. A nova política de alfabetização é a única dentro do MEC com maior consolidação apesar das críticas e das dúvidas que restam sobre sua implementação.>
A pasta também tem se mostrado ausente quanto aos efeitos da pandemia na educação básica e teve participação tímida nas discussões no Congresso para a renovação do Fundeb, principal mecanismo de financiamento da educação básica e que vence neste ano. Espera-se do novo ministro envolvimento no tema. Está prevista para este mês a análise da PEC (proposta de emenda à Constituição) na Câmara, e depois o tema segue para o Senado.>
Principal porta de entrada para o ensino superior público, o Enem ainda está sem data para ocorrer. O MEC fez uma consulta com participantes, que indicaram preferência em fazer a prova em maio de 2021.>
Mas se antes a opinião dos participantes definiria as novas datas, somente depois da consulta é que o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) divulgou que haveria uma nova rodada de conversas com entidades educacionais para a tomada de decisão final.>
Instituições que representam secretários de Educação e universidades públicas e privadas já foram consultadas. Técnicos do Inep disseram à reportagem que o instituto aguarda a escolha do novo ministro para a definição --Weintraub, por exemplo, era contra adiar o exame, previsto inicialmente para novembro deste ano. Nesta sexta (10), expiram os mandatos de 12 dos 24 conselheiros do CNE (dois cargos são cativos de secretários do MEC). A nomeação é atribuição do presidente da República, mas os nomes são indicados pelo MEC. Sete mandatos a vencer referem-se à Câmara de Educação Básica e do conselho. O restante é da Câmara de Educação Superior. Dessa forma, o órgão pode ficar sem quórum na Câmara de Educação Básica para definições das pautas caso não haja a formalização das nomeações.>
Weintraub havia elaborado uma lista com alunos do escritor Olavo de Carvalho e de empresários do setor privado de ensino superior para o CNE. Um deles é o do controlador da Unisa (Universidade de Santo Amaro), Antonio Veronezi, que é próximo de Weintraub e de membros do governo.>
A Unisa foi beneficiada por uma decisão atípica da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), órgão do MEC, para aprovação de um novo doutorado, como a Folha de S.Paulo revelou em novembro de 2019.>
Questionada, a Presidência da República pediu que as dúvidas sobre o CNE fossem encaminhadas ao MEC. A pasta não respondeu aos questionamentos até a publicação desta reportagem.>
Desde a saída de Weintraub, o MEC divulgou resultados da consulta com alunos sobre as datas do Enem, instituiu comitê para o acompanhamento da educação a distância nas instituições federais de educação profissional e também um protocolo de segurança sanitária para essas unidades.>
A pasta ainda fez divulgação de relatório de acompanhamento das metas do PNE (Plano Nacional de Educação). Na avaliação de interlocutores do MEC, são sinais de que a máquina continua em funcionamento.>
Em nota encaminhada à Folha de S.Paulo na semana passada, o MEC afirmou que trabalha no levantamento de informações e indicadores necessários à regulamentação do novo Fundeb, "a fim de viabilizar a operacionalização tempestiva do novo modelo de financiamento a partir do ano de 2021, caso a proposta seja efetivamente aprovada".>
O texto atual prevê aumento da complementação da União no Fundeb dos atuais 10% para 20%, de modo escalonado. O governo sempre foi contra e Weintraub defendia chegar a somente 15%.>
O Ministério da Educação afirmou em nota que segue suas ações normalmente. "Não há qualquer ação ou política do Ministério que esteja comprometida neste período de transição de ministro". Segundo a pasta, o plano é divulgar as datas do Enem nesta semana ou começo da semana que vem. "O processo de definição é técnico", diz o texto.>
Sobre o CNE, o MEC afirma que "trabalha junto com o Planalto na definição final" e que as nomeações devem ser divulgadas "nos próximos dias".>
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