Publicado em 24 de março de 2021 às 16:55
- Atualizado há 5 anos
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou nesta quarta-feira (24), que considera "difícil" o Brasil obter dos Estados Unidos a liberação para compra de milhares de vacinas da AstraZeneca/Oxford estocadas e ainda não aplicadas contra a covid-19 no país. Ao falar em audiência na Câmara dos Deputados, o ministro também indicou que o Ministério da Saúde pode sofrer novos atrasos no fornecimento de doses do imunizante que são fabricadas na Índia. Ele não citou a quantidade exata. Mas disse que dificuldades na produção podem impactar o fornecimento de milhares de unidades já contratadas pelo governo federal.>
O chanceler disse que não poderia dar prazos para que o Brasil efetivamente receba uma parte das vacinas solicitadas ao governo norte-americano. Segundo Ernesto, apesar de apelos do Itamaraty e do Congresso ao governo Joe Biden, o excedente de vacinas "está se materializando devagar" nos EUA.>
Pressionada pela comunidade internacional, a Casa Branca anunciou ter 7 milhões de doses em estoque e já autorizou o envio de parte para o México (2,5 milhões) e o Canadá (1,5 milhões). Isso porque a vacina da AstraZeneca/Oxford ainda não obteve autorização de uso no país.>
"O Brasil está negociando para procurar receber uma parte desse excedente, mas por enquanto esse excedente é algo extremamente limitado, porque está sujeito à regulação dos Estados Unidos", disse o chanceler aos deputados.>
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Em paralelo, ele indicou que o governo tem "boa perspectiva" de conseguir "kits de intubação" e máquinas de produção de oxigênio nos EUA.>
Em relação às doses da AstraZeneca que seriam enviadas de fábricas na Índia, de onde veio o primeiro lote comprado pelo governo federal, há dúvidas se o Brasil continuará a ser abastecido. Segundo ele, há um problema generalizado na cadeia de insumos para fabricação e os países enfrentam um "mar revolto". O ministro diz que tenta conseguir as doses pendentes apesar da barreira dos insumos.>
"Existe na Índia um problema interno para a continuação do fornecimento de mais alguns milhões de vacinas que já estão contratadas por escassez de insumos, que são importados de outros países", explicou o ministro.>
Segundo ele, o Brasil já recebeu 4 milhões de doses, mas a Índia enfrenta desafios grandes para suprir vacinas internamente e o país proíbe a exportação do insumo farmacêutico ativo (IFA). O chanceler disse que a China enfrenta dificuldades e depende de outros componentes das vacinas fornecidos por fábricas dos EUA.>
"Estamos num mundo em que existem essas limitações para todos os países", disse o ministro.>
O chanceler afirmou que a China não proíbe, mas aplica controles sobre exportação de imunizantes e do insumo farmacêutico ativo, usado na produção das vacinas. Segundo o ministro, a demora é burocrática. "Nenhum problema com relação às exportações provenientes da China", disse.>
O ministro foi questionado sobre a posição do Brasil contra a quebra de patentes de vacinas até o fim da pandemia, na Organização Mundial do Comércio (OMC). Alinhado a países desenvolvidos que vetam a ideia, o Brasil se posicionou contra a proposta levantada pela Índia e África do Sul.>
Os dois países são parceiros do Brasil no Brics, bloco formado também por China e Rússia, e buscam a suspensão de patentes como forma de permitir a produção de forma genérica em diversos laboratórios ao redor do mundo. Isso, segundo os dois países, permitiria ampliar a oferta e o abastecimento de países pobres.>
O deputado Aécio Neves (PSDB-MG), presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, disse que a posição brasileira poderia levar países pobres ao "caos".>
"Não se verifica essa necessidade. Mesmo que se quebrassem patentes, o Brasil não teria capacidade de produção e levaria muito tempo para ter uma unidade de produção da Pfizer, por exemplo. A quebra generalizada de patentes não necessariamente se refletiria no aumento da oferta", rebateu o ministro.>
Araújo afirmou que o "desmantelamento" do sistema de patentes pode ter "consequências não-intencionais prejudiciais". Ele afirmou que o Brasil vai tentar mediar uma posição intermediária na OMC e argumentou que a suspensão geral de patentes não resolveria o problema, por causa da escassez de insumos usados na produção dos imunizantes.>
"O Brasil faz parte de um grupo de países que busca uma solução intermediária, factível. Tentamos criar essa ponte entre diferentes interesses, com a ideia de haver uma coordenação mundial, para haja uma produção mais coordenada sem a necessidade de uma quebra generalizada de patentes, que poderia desarticular todo um sistema propriedade intelectual, um sistema que funcionou bem e permitiu em tempo recorde que várias empresas chegassem com vacinas ao mercado e não há indícios de abuso de preços porque não há monopólio", disse o chanceler.>
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