Publicado em 27 de setembro de 2023 às 08:38
A fase clínica inicial de um tratamento que treina as células de defesa humanas para melhor combater câncer hematológico -mais especificamente, leucemia linfoide aguda B e linfoma não Hodgkin B- foi autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).>
A pesquisa desenvolvida pela Fundherp (Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto) em parceria com o Instituto Butantan usará as chamadas células CAR-T para buscar a remissão dos cânceres hematológicos citados acima em pacientes "recidivados e refratários (ou seja, em casos de reaparecimento da doença ou de resistência ao tratamento padrão)", diz, em nota, a Anvisa.>
A sigla CAR-T corresponde à expressão "receptores quiméricos de antígenos de células T". As células T já são naturalmente responsáveis por atacar e matar células cancerosas, além de atrair outras células para a ofensiva.>
Para o treinamento, as células de defesa do paciente são coletadas e, apos modificações genéticas nelas, são reintroduzidas na pessoa. O treinamento em questão envolve um vírus que, funcionando como uma espécie de cavalo de troia, leva para os linfócitos T do paciente genes de interesse -fazendo assim a modificação genética citada.>
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Segundo a Anvisa, a aprovação realizada faz parte de um projeto de colaboração para impulsionar terapias avançadas disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde). Fundherp e Butantan foram selecionados a partir de um edital no início deste ano.>
A Anvisa afirma ter um plano de acompanhamento até 2024 para monitorar o desenvolvimento do tratamento. "Se os resultados forem bons, o objetivo é registrar o produto rapidamente para que as pessoas tenham acesso a uma opção de tratamento segura, eficaz e de alta qualidade disponível no SUS", diz, em nota, a agência regulatória.>
A agência diz ainda que, desde 2020, houve registro de três produtos de terapias tipo CAR-T no país, direcionadas a tratar leucemias, linfomas e mielomas. Houve ainda dois registros para tratamento de doenças genéticas raras.>
A Anvisa afirma que, no momento, há mais de 40 ensaios clínicos relacionados a terapias avançadas, como os CAR-T, em andamento.>
O primeiro teste nacional ocorreu na USP de Ribeirão Preto, em 2019. O tratamento foi realizado no aposentado mineiro Vamberto Luiz de Castro, 62, morador de Belo Horizonte, diagnosticado com linfoma não Hodgkin de células B.>
O mineiro tinha sido considerado como paciente terminal e sofria com fortes dores e perda de peso.>
Vale destacar que, nesse caso, não se tratava de um ensaio clínico tradicional, com inúmeros voluntários e objetivando o teste da segurança de uma terapia. O teste se encaixava no chamado uso compassivo.>
De toda forma, os resultados em Castro chamavam a atenção, com sintomas sumindo e exames de sangue normalizando.>
Porém, poucos meses depois do uso da terapia, Castro morreu em um acidente doméstico, uma queda que provocou traumatismo cranioencefálico grave.>
As células CAR-T são células do sistema imune (conhecidas como linfócitos T) extraídas do paciente. Elas são geneticamente modificadas para reconhecer e atacar as células tumorais e, depois, reintroduzidas no paciente. Assim, tornam-se mais eficazes em identificar o foco de câncer e atacá-lo.>
A técnica deriva dos estudos com terapia celular, que tiveram início na década de 1950 com o transplante de medula óssea. De maneira similar, a terapia CAR-T consiste em "transplantar" o sistema imune do paciente modificado de forma a ajudá-lo na resposta imunológica. Adicionalmente, as células CAR-T carregam a informação do alvo a ser atacado, no caso as células tumorais.>
A terapia CAR-T experimental usa células do próprio paciente, mas existem pesquisas com células modificadas de doadores (chamado "alo-CAR-T", derivado de "outro"). No momento, não há nenhuma autorização para uso de células de doadores no Brasil.>
Em geral, pacientes com um câncer muito agressivo, ou que estão com alguma debilitação do sistema imunológico, têm maior dificuldade de gerar uma resposta imune própria, por isso a terapia CAR-T pode ser uma importante aliada.>
Como a terapia só é utilizada para o chamado uso compassivo, quando não há mais nenhum tratamento disponível, as respostas costumam ser variadas. >
Atualmente, a terapia CAR-T tem obtido sucesso no tratamento de alguns tipos de câncer do sistema sanguíneo, como linfomas, leucemias e mielomas, mas não há comprovação de eficácia contra tumores sólidos. Nesses casos, as quimioterapias, radioterapias ou tratamentos como imunoterapia tendem a surtir mais efeito.>
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