Publicado em 5 de setembro de 2024 às 16:13
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quase 25% da alimentação de crianças brasileiras de até cinco anos é composta por ultraprocessados, segundo relatório do Enani (Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil), divulgado nesta quinta-feira (5). O consumo desses produtos, que passam por diversas modificações industriais, pode causar obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.>
A pesquisa mostra que biscoitos doces e salgados são os alimentos ultraprocessados mais consumidos por crianças. Em seguida, farinhas instantâneas, que são usadas para fazer mingau, chocolates, sorvetes, gelatinas e bebidas lácteas, como achocolatados e iogurtes.>
O estudo do Ministério da Saúde foi conduzido pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) entre fevereiro de 2019 e março de 2020. Nesse período, foi avaliada a rotina alimentar de 14.505 crianças menores de 5 anos em 123 municípios do Brasil e no Distrito Federal.>
Enquanto 24,7% da alimentação de crianças de até cinco anos é composta por alimentos ultraprocessados, os alimentos in natura, como legumes e carnes, ainda estão em primeiro lugar, com 48,4%. Depois aparece o leite materno, com 15,4%.>
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De 2 a 5 anos, o consumo de ultraprocessados por dia sobe para 30,4%. Em crianças de seis meses a dois anos, o percentual também é considerado alto: 20,5%. "Se são consumidas mil calorias por dia, 205 são de ultraprocessados, o que é muito alto, porque nessa faixa etária a recomendação é zero", afirma a professora Elisa Lacerda, professora e pesquisadora da UFRJ.>
Para Lacerda, o consumo de ultraprocessados é grande devido a facilidade de acesso a esses alimentos, que são amplamente vendidos em supermercados com preços baixos. Além disso, ela aponta que a publicidade desses alimentos também é muito forte, o que atrai as crianças e faz com que os pais comprem.>
Como a pesquisa do Enani é domiciliar, não foi possível verificar a presença de ultraprocessados na merenda oferecida nas escolas públicas. Pelo Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar), essas instituições podem comprar somente 20% de alimentos processados (industrializados com adição de sal, açúcar e conservantes) e ultraprocessados (com aditivos químicos).>
Um estudo de 2023 feito pelo Nupems (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) da USP levantou os dados sobre as merendas das escolas públicas e apontou os biscoitos como vilões da alimentação infantil. O item era o quinto mais comprado, atrás apenas da carne bovina, frango, leite em pó e banana.>
Pesquisadora do Enani, Natália Oliveira destaca que os impactos negativos do consumo elevado de ultraprocessados à saúde é grande em todas as idades, mas a preocupação maior na infância é a obesidade. Segundo projeção do Atlas 2024 da Federação Mundial da Obesidade (World Obesity Federation), o Brasil pode chegar a 20 milhões de crianças e adolescentes obesos em 2035.>
"Crianças até cinco anos estão formando o hábito alimentar, conhecendo os alimentos. Quanto mais diversificada for a alimentação, como frutas e legumes, a chance dessa criança se adaptar e buscar sempre esses alimentos é sempre maior", diz.>
A nutricionista Caroline Romeiro, assessora técnica do CFN (Conselho Federal de Nutrição) afirma que alguns alimentos ultraprocessados, vendidos como saudáveis, são amplamente consumidos pelas crianças.>
"É muito comum encontrar pão em bisnaguinhas, minibolos, iogurtes, que são alimentos usados nos lanches das crianças, mas que a lista de ingredientes é extensa e cheia de aditivos", lembra.>
CONSUMO DE AÇÚCAR>
O estudo de alimentação e nutrição infantil mostra que entre crianças de seis meses a dois anos, 60,6% da alimentação é composta por doces e açúcares. Já na faixa etária de 2 a 5 anos, o percentual sobe para 80,4%.>
A oferta de alimentos com alto teor de açúcar no início da vida também pode favorecer preferências alimentares não saudáveis e levar ao excesso de peso e a doenças associadas.>
A exclusão dessas comidas, no entanto, precisa ser feita aos poucos, afirmam os especialistas.>
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