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É neurologista da Infância e Adolescência e mestre em Análise do Comportamento

Transtornos do Espectro Autista: diagnóstico precoce pode fazer a diferença

O diagnóstico é totalmente clínico, realizado pelo médico capacitado e baseado numa avaliação do neurodesenvolvimento, além de avaliações do comportamento e socialização em todos os ambientes que o indivíduo está envolvido

  • Thiago Gusmão É neurologista da Infância e Adolescência e mestre em Análise do Comportamento
Publicado em 05/04/2024 às 12h21

Uma importante definição do Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo Associação Americana de Psiquiatria (APA), 2013, refere como um conjunto de anormalidades do comportamento, caracterizado por prejuízo da interação e da comunicação social, acompanhado por um repertório restrito e repetitivo de comportamentos, atividades e interesses.

Devido à grande variabilidade nos níveis de suporte relacionados aos prejuízos nas habilidades sociais, comunicação e padrões de comportamento, tornou-se mais apropriado o uso do termo Transtornos do Espectro Autista, pela classificação internacional do DMS V (2013).

O autismo desperta grande interesse de estudos nas últimas décadas por sua causa ainda ser desconhecida, com forte componente genético e fatores ambientais, mas também devido a sua elevada prevalência (2,2 % da população americana). Para cada 36 crianças que nascem nos EUA, uma será classificada com o TEA. Esses dados são referentes a crianças de 8 anos de estados americanos, segundo CDC 2023.

O aumento da prevalência do TEA está associado a um maior reconhecimento pela equipe médica e terapêutica sobre Transtornos Globais do Desenvolvimento e do autismo, maior conhecimento das condições médicas associadas ao TEA e a uma avaliação mais criteriosa desses profissionais quanto ao diagnóstico precoce e também tardio.

O diagnóstico atualmente é totalmente clínico, realizado pelo médico capacitado e baseado numa avaliação do neurodesenvolvimento, além de avaliações do comportamento e socialização em todos os ambientes que o indivíduo está envolvido.

Não há até o momento no mundo qualquer exame de imagem ou laboratorial que diagnostique o autismo. O transtorno deve se manifestar antes dos 3 anos e permanece ao logo da vida. Sabendo que, quanto mais precoce o diagnóstico, melhores são as chances de evolução da criança para uma vida mais funcional na vida adulta.

O grande conjunto de sinais e sintomas apresentados precocemente nas crianças são abordados nas três grandes áreas abaixo:

1. Comprometimento qualitativo da interação social: isolamento social ou comportamento social impróprio como gritos/choros imotivados/agressivo, Indiferença afetiva ou demonstrações impróprias de afeto (não reconhece face tristeza/alegria), padrões de contato visual restrito e /ou expressões faciais atípicas (olhar canto de olho/ visão de outro ângulo de um objeto), interesses sensoriais atípicos, incapacidade de servir-se de atenção conjunta, preferência a atividades solitárias ou que envolvem os outros apenas como auxílio mecânico)

2. Comprometimento qualitativo da comunicação verbal e não verbal: atraso na aquisição / regressão da linguagem, ou total ausência dela; falta do desenvolvimento de uma linguagem comunicativa; inabilidade em iniciar ou manter uma conversação apropriada; não compreensão das sutilezas da linguagem (pragmática); timbre, entonação, velocidade, ritmo e ênfase anormais; ecolalia (repetições de palavras ou frases de modo imediato ou tardio), apatia ao diálogo e pouca alternância da prosódia

3. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, atividades e interesses: não utilizam simbolicamente os brinquedos; apego intenso a objeto inanimado; podem ter extraordinária capacidade para perceber detalhes insignificantes com preocupação persistente com partes de objetos; marcada resistência a mudanças e insistência em determinadas rotinas; estereotipias comportamentais, anormalidades de postura; baixa tolerância a sons altos; hipersensibilidade ao toque, cheiro, sabores

Imagem Edicase Brasil
Crianças com autismo podem apresentar sinais nos primeiros anos de vida . Crédito: (Imagem: vetre | Shutterstock)

A maioria desses indivíduos com o TEA continuarão a precisar de algum apoio médico ou terapêutico ou serviços adicionais ao longo de sua vida adulta. Isso é particularmente preocupante, uma vez que nos Estados Unidos o custo estimado do tratamento em crianças ultrapassa os US$ 60 bilhões. Quando nos referimos à população adulta com o transtorno do espectro autista, esse número fica ainda maior, sendo estimado quase US$ 170 bilhões.

Sabemos que a intervenção precoce com apoio de uma equipe multidisciplinar com psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e pedagogas são de extrema importância para a real evolução dessa criança que necessita de um suporte maior de estímulos para se desenvolver. Sendo assim, quanto mais precoce o diagnóstico e o encaminhamento às terapias (independentemente se for TEA ou não), maior chance essa criança terá de ser um adulto funcional.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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