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É professora de Pneumologia e pesquisadora da Ufes

Síndrome Pós-Covid: é preciso atenção com os ditos 'curados'

Há um número incerto, mas crescente, de pessoas que enfrentam sequelas ou doenças causadas pela Covid que permanecem sem diagnóstico. Em alguns casos, sintomas são debilitantes

  • Jéssica Polese É professora de Pneumologia e pesquisadora da Ufes
Publicado em 22/07/2021 às 02h00
Sobreviventes da Covid têm enchido os consultórios médicos com sintomas variados
Sobreviventes da Covid têm enchido os consultórios médicos com sintomas variados. Crédito: Teddy Rawpixel/ Freepik

O Brasil e o mundo respiram a esperança do fim próximo da pandemia, que se delineia com o aumento do número dos vacinados concomitante com a redução nos números de infectados e óbitos. São fortes evidências de que teremos dias melhores, mas ainda é preciso tomar todas as precauções que já orientamos desde o início da pandemia.

Um grupo que poucos discutem e que tem urgência em atenção refere-se aos "curados" da Covid-19. Nesse grande grupo de curados existem indivíduos doentes com uma síndrome recentemente denominada Síndrome Pós-Covid ou Covid crônica. Em número incerto, mas ainda crescente de maneira assustadora, estão indivíduos com sequelas ou doenças causadas pela Covid que permanecem sem diagnóstico e sem abordagem adequada.

Os sintomas variam da ordem psiconeurológica a sintomas físicos incapacitantes, causando enorme sofrimento físico e mental. Esses indivíduos possuem queixas de ansiedade, pânico, alterações no sono e sintomas depressivos, que são ainda piores naqueles que necessitaram de internação ou apresentaram quadros mais graves. Os traumas do isolamento e a perda de amigos e familiares, tornam o cenário pior num crescente de sintomas.

As alterações físicas incluem problemas cardiovasculares, pulmonares e musculares tão intensos que, às vezes, chegam a ser limitantes. Os estudos são claros em evidenciar a Síndrome Pós-Covid, que excede o quadro agudo em mais de seis meses. A pandemia submeteu os sistemas de saúde de todo o mundo a uma sobrecarga no funcionamento e, agora que a fase aguda já passou, não houve preparo para os sobreviventes.

Esses sobreviventes enchem os consultórios com sintomas variados, o que exige nova superação do sistema de saúde e de toda a cadeia envolvendo o atendimento público, privado e assistência social para os inválidos.

Na fase pós-Covid, é necessária a otimização do sistema de saúde direcionado a esses indivíduos curados, mas que ainda necessitam de cuidados para a franca recuperação e o retorno a suas atividades. Para isso, é preciso um direcionamento assertivo com a meta de reintegrar, diagnosticar, tratar e reabilitar os ditos "curados".

É essencial um atendimento multidisciplinar e ativo, com a finalidade de mitigar sofrimento, reduzir doenças secundárias à Covid aguda — como doenças metabólicas e cardiovasculares —, além de adequada assistência e amparo psicológico e psiquiátrico, com a finalidade de retornar esse indivíduo ao trabalho e a sociedade. Esse é o real ponto de partida para a recuperação brasileira pós-pandemia.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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