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Foi presidente da Aracruz e da Fibria, articulou a criação da Ibá e atua na Royal Swedish Academy of Engineering Sciences (Suécia)

O aquecimento global e os caminhos do Espírito Santo

Com planejamento, zoneamento florestal, segurança jurídica e bom ambiente de negócios, Estado poderia atrair novos projetos para mitigar mudanças climáticas

  • Carlos Aguiar Foi presidente da Aracruz e da Fibria, articulou a criação da Ibá e atua na Royal Swedish Academy of Engineering Sciences (Suécia)
Publicado em 11/06/2021 às 08h41
Tecnologia tem ajudado a aprimorar licenciamento ambiental
Espírito Santo emitiu em 2019 cerca de 30 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Crédito: ejaugsburg/ Pixabay

Um assunto que interessa a todos, ou pelo menos já deveria estar entre os temas prioritários de qualquer um, é o aquecimento do planeta, que vem acontecendo paulatinamente e pode causar uma situação de calamidade mundial. Um assunto tão importante quanto uma nova e mais letal pandemia ou uma guerra nuclear.

O aquecimento da Terra é resultante do aumento da concentração de CO2 na atmosfera e de outros gases de efeito estufa, o que provoca mudanças climáticas. Entre as consequências temos, por exemplo, a elevação dos mares e, portanto, o risco de desaparecimento de partes importantes de continentes, além da intensificação de eventos como tormentas, tempestades, furacões, grandes incêndios, secas severas etc.

Tudo isso já existia, mas o aquecimento vem tornando estes eventos naturais mais críticos, frequentes e menos previsíveis. O Acordo de Paris está no ar e todos os países precisam trabalhar na direção da redução das emissões de gases de efeito estufa.

Espírito Santo, neste cenário, emitiu em 2019 cerca de 30 milhões de toneladas de CO2 equivalente, segundo o SEEG (Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa). A maior fatia (34%) tem origem no setor de energia, que compreende transportes, produção de combustíveis, geração de eletricidade para segmentos residencial, agropecuário, comercial e público; 32% vem de processos industriais; que se somam aos 16% produzidos a partir da agropecuária, principalmente gado de corte e de leite. Também são contabilizados 11% das mudanças no uso da terra e 7% de resíduos sólidos.

O Estado ocupa a 17ª posição em emissões no Brasil, com 1,5% do total. Para ser um protagonista na mudança, o Espírito Santo tem inúmeros caminhos, incluindo a redução do consumo de energias de vários tipos, em especial aquelas de origem fóssil, com sua substituição pela produção de energias solar e eólica; o aumento das eficiências energéticas das indústrias; e a redução do desmatamento e das queimadas. Além de reduzir as emissões, outro caminho é aumentar o sequestro de carbono da atmosfera.

Conhecemos pelo menos cinco maneiras de retirar o carbono da atmosfera:

1. Florestas: removem carbono naturalmente, via fotossíntese, estocando-o nas árvores e no solo. É uma alternativa em que o Espírito Santo tem know-how, experiência de mais de 50 anos de plantios e manejos, escolas e pode atrair outros investimentos.

2. Modelos de Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF): acumulam carbono nos solos, melhorando a qualidade da terra e aumentando a sua produtividade. Esse modelo permite integrar vários stakeholders e criar renda para o produtor rural.

3. Bioenergia e novos materiais: seria possível utilizar as terras degradadas para plantio de árvores para a produção de energia. Poderia incluir também os resíduos florestais e da agricultura, como é realizado na Espanha. Além disso, novos produtos estão sendo desenvolvidos a partir da madeira, incluindo tecido, biomateriais para substituição do plástico, entre outros.

4. Novas tecnologias a partir do oceano: nosso Estado é pequeno, mas tem uma riqueza e um potencial ainda pouco explorado que é o mar e sua extensão costeira para além do turismo, pesca e aquaviários. Uma tecnologia que já está em desenvolvimento pelo mundo alavanca a fotossíntese em plantas de áreas costeiras, desenvolve o fitoplâncton, incluindo a adição de certos minerais para aumentar a estocagem de carbono capturado. Nossas universidades podem se especializar nesses assuntos e inovar.

5. Captura direta do ar: uma tecnologia já em pleno desenvolvimento, ainda cara, que requer calor, energia e água (um recurso cada vez mais escasso), mas já em uso na geração de energia elétrica na Escócia e Inglaterra.

Dessas cinco alternativas, o Espírito Santo pode com alguma facilidade se movimentar rapidamente nas duas primeiras – florestas e ILPF –, pois possui cerca de 400 mil ha de terras degradadas, que seriam muito úteis para uso como florestas plantadas, gerando a redução imediata de CO2 e podendo atrair novos investimentos em projetos de celulose, MDF, indústria de biocombustível, trazendo oportunidades de empregos e alavancando os nossos portos, ainda pouco utilizados.

Como as florestas plantadas no Estado tem um desenvolvimento bastante consolidado, têm o potencial para sequestrar cerca de 40 tCO2 eq/ha/ano. Se assumirmos um plantio de 250 mil hectares e recuperação de outros 150 mil hectares com nativas, podemos sequestrar até 15 milhões de toneladas de CO2 eq/ano, mais de um terço do que foi emitido.

Mudanças na postura do Espírito Santo nos tornaram menos atrativos aos vários projetos que surgiram no segmento no Brasil, como a Veracel; uma das três fábricas que foram para Três Lagoas (MS) ou uma das duas fábricas no Uruguai. Poderíamos atrair esses projetos usando terras que estão atualmente improdutivas, aumentando o PIB do Estado e reduzindo as nossas emissões. Neste momento dois grandes projetos estão em construção em São Paulo e em Minas Gerais, com investimentos de mais de R$ 35 bilhões. Pelo menos um deles poderia ter vindo para o ES.

E o que é preciso? Basta que o Estado avalie a importância desse assunto, decida o quanto precisa reduzir suas emissões e estude como modernizar suas leis ambientais e adote políticas para atrair tais investimentos, dando melhor destinação às terras degradadas do seu Noroeste e do Sul do Estado, onde teremos novos portos. Com um bom planejamento, zoneamento florestal, segurança jurídica e bom ambiente de negócios, podemos atrair novos projetos. Em um mundo acelerado e com grandes desafios ambientais, o plantio de árvores é uma das melhores alternativas para desenvolver novos produtos e mitigar as mudanças climáticas no Espírito Santo e no mundo, pois conhecimento, tecnologia e condições de clima e solo já temos.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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