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É secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social

Jovens no crime. Esse problema é de quem?

Que a sociedade brasileira vive em um abismo econômico e social não é novidade para nenhum de nós, mas quando ele se torna palpável, invade os noticiários e perturba a ordem pública, muitos têm dificuldade em ouvir as verdades que precisam ser ditas

  • Alexandre Ramalho É secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social
Publicado em 29/06/2023 às 13h53
Pelo menos três edifícios ficaram com as marcas da violência que se instaurou neste domingo (25) em Vitória
Troca de tiros em Gurigica no domingo (25) atingiu prédios em Bento Ferreira. Crédito: Leitor | A Gazeta

203. Essa é a quantidade de vezes em que a polícia foi confrontada por criminosos armados nos primeiros cinco meses deste ano. A média é de mais de um confronto por dia.

14 a 29 anos. Essa é a faixa etária da maior parte dos homicidas e traficantes presos ou apreendidos no Espírito Santo.

A criminalidade juvenil ultrapassou todos os limites.

Quando falamos em criminalidade juvenil, não trabalhamos com achismos. Que a sociedade brasileira vive em um abismo econômico e social não é novidade para nenhum de nós, mas quando ele se torna palpável, invade os noticiários e perturba a ordem pública, muitos têm dificuldade em ouvir as verdades que precisam ser ditas.

O Brasil deve aos nossos jovens, indubitavelmente aos mais pobres. Historicamente, nossa nação peca pelo baixo investimento em educação de qualidade e políticas de valorização social. O resultado a longo prazo é a realidade que vivemos hoje, uma juventude pobre, sem instrução básica e sequestrada pelo tráfico de drogas, portando armas pesadas, confrontando o aparato policial do Estado de forma inconsequente, morrendo e matando sem qualquer vestígio de comoção, senso de responsabilidade ou visão de futuro.

Comoção há para pais e mães que veem seus filhos dentro de caixões, como presenciei pessoalmente em Linhares, nesta semana. Seres humanos, que já sofrem tanto com a pobreza, com a falta de oportunidades, se veem reféns ao perderem seus filhos para a criminalidade.

Do outro lado está o cidadão honesto e trabalhador que paga seus impostos e está subjugado por uma criminalidade juvenil extremamente violenta. Um idoso morto por uma bala perdida no leito de um hospital é o que poderíamos enxergar de mais absurdo no cotidiano de quem lida com segurança pública.

O fiel da balança, quando o conflito está conflagrado, não é menos humano que os lados já citados. Policiais saem de casa todos os dias, deixando suas famílias para garantir a segurança de toda uma sociedade. São eles que vão ao encontro do perigo, se colocando em risco diariamente. Com treinamento, técnica, mas sem peito de aço. Com braços, pernas e coração, como qualquer ser humano.

A pergunta que fica: para onde, então, nossa sociedade está caminhando? Sem um debate verdadeiro, o futuro é temerário. Não podemos esquecer da dívida histórica, ao mesmo tempo em que não podemos nos esquivar de adotar medidas enérgicas e urgentes para impedir que mais jovens sejam enredados por grupos criminosos que lucram com a barbárie social.

A longo prazo, as políticas sociais precisam ser pensadas para oferecer às novas gerações a chance de enxergar as oportunidades que existem além dos muros da miséria. Mas hoje, para salvar o que nos resta de civilidade, é urgente que se amplie o debate acerca da criminalidade juvenil envolvendo todos os atores. Precisamos do Poder Judiciário e do Ministério Público, de cujos avais as polícias dependem para aplicar a lei.

Mais que isso, a segurança pública necessita da mobilização imediata do Poder Legislativo federal, para que possamos reformular a legislação penal lenta, ultrapassada e extremamente benevolente que, hoje, baliza (quase impedindo!) o trabalho de todo o aparato de segurança. Sem uma mudança legislativa urgente, continuaremos reféns dessa realidade absurda, em que jovens aterrorizam trabalhadores, confrontam a polícia e destroem suas famílias. Uma realidade que só interessa ao crime organizado.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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