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É advogado, doutor em Direito da Cidade (Uerj), mestre em Direito Tributário (Ucam), pesquisador e professor visitante na Florida State University e procurador municipal de Vitória (ES)

Indústria de jogos: as vantagens da legalização e o prejuízo da proibição

A legalização do jogo responsável no Brasil geraria aproximados 500 mil novos postos de trabalho. Isso sem falar em arrecadação de tributos. Apenas o jogo do bicho — o ilegal mais amado pelos brasileiros — movimenta quase R$ 12 bilhões ao ano

  • Luiz Henrique Antunes Alochio É advogado, doutor em Direito da Cidade (Uerj), mestre em Direito Tributário (Ucam), pesquisador e professor visitante na Florida State University e procurador municipal de Vitória (ES)
Publicado em 07/03/2023 às 15h32

Em setembro de 2020, tive a oportunidade de conceder uma entrevista a um site especializado na indústria do jogo. O tema da conversa foi: “A regulação do jogo será um motor inestimável na recuperação das cidades brasileiras pós-Covid-19”. Pois bem. Já estamos em 2023, e o governo federal, na gestão anterior, nada fez. O novo governo tem a decisão pela frente.

É preciso recordar que jogo responsável gera emprego, renda e tributos. A regulação eficiente é a fórmula do sucesso, enquanto a proibição conduz a clandestinidade, empregos informais, evasão de tributos e corrupção.

Desde 1946, o jogo está proibido no Brasil. Na ocasião, foram perdidos 53,2 mil postos de trabalho, a maioria desses empregos não era nem sequer nos ambientes de “jogo”, estritamente falando. Milhares de profissionais foram demitidos, sendo a maior parte deles artistas e trabalhadores de hotelaria e restaurantes. Em 2004, quando se deu o fechamento dos bingos, o país perdeu 120 mil postos de trabalho. Com o passar do tempo, a indústria do jogo se torna ainda mais geradora de empregos.

Em termos de Produto Interno Bruto (PIB), o jogo legalizado gera incremento substancial. O Japão regulou os cassinos, tendo acréscimo de 1% no PIB — um PIB de 5 trilhões de dólares. Sem esquecer que outros jogos (como o Pachinko) envolvem de 3% a 4% do PIB naquele país.

Vamos atualizar alguns dados. A legalização do jogo responsável no Brasil geraria aproximados 500 mil novos postos de trabalho. Isso sem falar em arrecadação de tributos. Apenas o jogo do bicho — o ilegal mais amado pelos brasileiros — movimenta quase R$ 12 bilhões  ao ano. Somado com bingos, caça-níqueis e outras apostas ilegais, chega a R$  20 bilhões. Sem nenhum imposto recolhido. Eis o fruto da manutenção da proibição. Perda de receita e com trabalhadores condenados à informalidade. As apostas esportivas são outro nicho que precisa de melhor tratamento. Mesmo se defendida a legalização pela Lei 13756, ainda falta a regulamentação.

Os sistemas de regulação e compliance na indústria do jogo no exterior já alcançaram maturidade suficiente para afastar qualquer estereótipo de vínculo com atividades criminosas ou a ideia de uso de drogas. Outra preocupação no mundo é impedir a movimentação de lavagem de dinheiro para cartéis ou atividade terroristas, por exemplo. Há regras seguras no direito comparado para tais fiscalização e combate.

A legalização traz arrecadação com a cobrança pela concessão de licenças. Além da taxa de concessão ou autorização, há a tributação. Os principais interessados são os municípios, pois se trata de tributação de serviços (ISS é imposto municipal).

Toda essa receita poderia, muito bem, contemplar aumentos da despesa pública, como a oriunda da criação do Piso da Enfermagem, ou recuperar áreas atingidas por desastres ambientais, como foi o caso do Rio Doce, fato que tão drasticamente afetou o Espírito Santo.

Jogo legalizado é solução. O problema é a clandestinidade.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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