Violento ano velho, triste início de ano novo. Mal começou 2020 e o Espírito Santo já registrou mais dois casos de feminicídio. O primeiro deles envolvendo a autônoma Edina Martins de Souza Gimenez, morta com uma facada no peito, na manhã do primeiro dia do ano, no bairro Lagoa de Jacaraípe, na Serra, e o segundo, a balconista Shirley Simões, assassinada a tiros no último dia 9, em Guarapari.
Nos dois crimes, a polícia apontou os companheiros como suspeitos. As investigações revelaram também a mesma motivação: homens que não aceitaram o fim de seus relacionamentos. Uma questão doméstica, enraizada na velha cultura machista, e um desafio enorme para as autoridades da Segurança Pública, que têm apresentado números relevantes.
De acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), a Divisão Especializada de Atendimento à Mulher em 2019 contabilizou 1.299 prisões em flagrante, mais de 14 mil boletins de ocorrência e mais de 7,3 mil medidas protetivas de urgência.
Mas as mortes de Edna e Shirley reacendem a necessidade de reforço nesse enfrentamento.
De acordo com dados do Laboratório de Pesquisa sobre Violência Contra a Mulher no Espírito Santo (Lapvim/ES), divulgados pelo portal G1, as ações implementadas pelo Estado desde 2012 reduziram os crimes contra mulheres não-negras, mas não surtiram efeito para aquelas que mais sofrem com esse tipo de violência. O Estado está em segundo lugar no índice de violência contra mulheres negras.
Sobretudo nas regiões mais carentes do Estado, homens continuam cometendo as maiores atrocidades e barbaridades contra as mulheres. Somente em 2019, foram mais de 30 casos de feminicídio. Se nada for feito agora, quantas vão morrer em 2020? O que esperar das estatísticas deste ano?
As mulheres capixabas exigem uma ação mais presente, mais ampla, mais acolhedora, e o engajamento de toda a sociedade no combate à violência. Nesse sentido, é preciso enaltecer e valorizar iniciativas como a de A GAZETA, com a recente criação do projeto "Todas Elas", uma ferramenta para registrar e denunciar o feminicídio no Estado.
A Comissão da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Espírito Santo (OAB-ES) também está vigilante e de portas abertas para dar todo apoio necessário às mulheres que se sentirem ameaçadas. Está claro que, para vencer um problema tão grave e antigo, somente a união de esforços pode fazer a diferença.
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O autor é advogado, professor e presidente da OAB-ES
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