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Sátina é psicóloga, advogada e idealizadora do Projeto Ressignificando (@ressignificando_projeto). Fabiana é jornalista, doutora em Comunicação e membro da Rede Felizólogos (@redefelizologos)

Celebridades merecem ser enaltecidas por doarem a quem precisa?

O que devemos compreender antes de tudo é que estimular, incentivar, fomentar o bem e a doação fazem parte do rol de atribuições sociais que devemos praticar diariamente

  • Sátina Pimenta e Fabiana Franco Sátina é psicóloga, advogada e idealizadora do Projeto Ressignificando (@ressignificando_projeto). Fabiana é jornalista, doutora em Comunicação e membro da Rede Felizólogos (@redefelizologos)
Publicado em 10/01/2022 às 14h45
Doação de água e alimentos para famílias atingidas pelas fortes chuvas do Sul da Bahia
Doação de água e alimentos no Sul da Bahia. Crédito: Divulgação

Nós, como bom capixabas, com a chegada das férias buscamos lugares para descansar e nos divertir. Muitos de nós escolhem a Bahia como local para concretizar essa aventura.

Só que desta vez a história é diferente. Os baianos, que tanto nos acolhem, estão passando por grandes dificuldades devido a chuvas torrenciais que afetaram o Estado.

Quando algo do tipo acontece (como foi com Mariana (MG) e com Manaus na pandemia), muitas pessoas se solidarizaram com a situação e campanhas humanitárias espontâneas acontecem naturalmente.

Porém, recentemente um fenômeno vem tomando as redes sociais: a cobrança sobre figuras públicas, principalmente artistas, de se comprometerem com ajuda financeira nessas situações.

Portanto, quando Wesley Safadão, Ivete Sangalo e Pedro Sampaio destinam o valor de seus cachês aos desabrigados; quando Lore Improta e Alok por seu instituto fazem doações em dinheiro para instituições e quando Cláudia Leitte e Preta Gil mobilizam-se para conseguir donativos, todos eles, para essas pessoas, não estão fazendo mais que seu dever moral?

Aí depende! E esse "depende" também está nas redes: “Faz isso só para aparecer e ganhar mais seguidores!” ou “Este valor não faz diferença nenhuma no bolso dela, deveria doar mais pelo tanto que ganha”.

O professor de Harvard Michael Sandel, em seu livro "Justiça", nos faz refletir sobre o altruísmo e a moral sobre a ótica de Immanuel Kant. Ele declara que para sabermos se o ato de doar é munido de moralidade devemos saber qual a motivação de quem doa, ou seja, o que busca realmente uma pessoa que se dispõe a realizar doações neste caso.

O autor disserta que o altruísta deve agir de tal forma pois é o certo a se fazer pela humanidade. Descreve que, para Kant, o homem não pode ser meio para se ter nada, pois o homem tem que ser visto como fim em todas as ações.

Deixando mais claro: se o "altruísta" realiza suas doações pois quer um pedacinho do céu, pois quer mostrar em suas redes sociais como é bonzinho, pois segue a “modinha da doação”, porque deseja entrar para política ou porque deseja engajamento, ele não está realizando um ato munido de moral. Na verdade, está utilizando a humanidade para satisfazer os seus desejos e não por que é seu dever de Ser Humano para Ser Humano.

Mas e se o ato de doar for genuíno (moral) e por consequência a pessoa acabar se beneficiando?

Isso vai acontecer! A pessoa pode acabar tornando-se um exemplo para outros, inclusive há uma máxima que afirma que o exemplo arrasta. Portanto, mesmo que a pessoa não tenha como proposta doar para conquistar seguidores ela poderá obtê-los pelo simples fato de fazer o que é certo.

Há também a satisfação pessoal que mesmo não sendo o objetivo do altruísta vai acabar acontecendo. Estudos revelam que quando a doação ocorre de forma genuína ela é muito mais benéfica para o agente da ação do que para quem recebe.

A revista científica Nature Communications divulgou um estudo realizado por um laboratório de Zurique que fornece evidências comportamentais e neurais que apoiam a ligação entre generosidade e felicidade. Quando o indivíduo pratica uma doação genuína, espontânea, com propósito, experimenta emoções construtivas e saudáveis – como alegria, felicidade e espírito de solidariedade – que liberam em nosso organismo a serotonina e a dopamina, considerados hormônios do bem. Essa experiência não é vivenciada quando outros são os objetivos do ato de doação.

O que devemos compreender antes de tudo é que estimular, incentivar, fomentar o bem e a doação fazem parte do rol de atribuições sociais que devemos praticar diariamente.

Você pode estar pensando: de qualquer maneira essas doações não serão boas para quem precisa? Lógico. O que pedimos é que não sejam colocados em um pedestal aqueles que se aproveitam das mazelas alheias. Quer dar like para alguém? Quem sabe aquele seu vizinho que sempre posta nas redes que esta buscando ajuda para pessoas que estão passando por dificuldades não seja a pessoa que o mereça?

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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