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Uso de celulares por crianças causa distúrbios do sono

Uso de celulares por crianças causa distúrbios do sono

Esse distúrbio resulta em processos interrompidos de desenvolvimento cerebral

Publicado em 30 de setembro de 2018 às 13:49

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O sono é uma atividade essencial durante a infância para prevenir problemas como déficit de atenção e dificuldades de aprendizado, mas nem todos os pais se atentam a isso ao pensar em seus filhos. A pequena Anna Vitória é um exemplo disso.

. (Pixabay)

A menina, de seis anos, volta da escola no fim da tarde e se concentra em seu tablet, que ganhou da mãe, Vanessa Andrade, aos quatro anos. "Ela costuma ficar na internet até umas onze horas da noite e depois dorme. Eu fico tranquila, porque minha filha não precisa acordar cedo e ela é bastante esperta", relata.

No entanto, a mestre em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Denise Katz, explica que esse hábito não pode ser naturalizado pela família. "Não é dormindo tarde que as crianças vão acordar mais tarde. Quando ela vai muito cansada para a cama, é provável que não tenha um sono tranquilo e acorde antes das horas necessárias para crescer e se desenvolver", afirma.

De acordo com Denise, isso acontece porque o menor tempo de descanso pode danificar as mitocôndrias - pequenas produtoras de energia para o organismo. Sem elas, o corpo ganha cansaço e a função celular diminui. "Além disso, a interrupção do sono causa a perda de neurônios importantes para manter o ciclo da vigília, que garante uma alternância saudável entre os período que a pessoa passa acordada e dormindo", explica Denise.

Como consequência, a pediatra conta que essas mudanças biológicas podem gerar irritabilidade, mau desempenho escolar e problemas de comportamento entre as crianças.

'Pais devem criar rotina com filhos'

Denise Katz alerta que um problema para o sono infantil é o uso frequente de eletrônicos. "A luz emitida pela tela afeta a percepção do cérebro sobre ser dia ou noite", afirma. Ela conta, ainda, que a luminosidade azul desses itens inibe a secreção de melatonina, hormônio que estimula o sono.

Casos assim se tornam ainda mais preocupantes ao se olhar as estatísticas. Dados do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic) alertam que 57% dos usuários de internet brasileiros entre nove e dez anos de idade acessaram a rede mais de uma vez por dia, em 2017.

O último levantamento do Comitê Gestor da Internet, de 2015, alerta que 82% das crianças e adolescentes usam o celular para acessar a web.

Para atenuar esse comportamento revelado nas pesquisas, a médica aconselha que os responsáveis criem rotina para os pequenos e retirem os eletrônicos das mãos deles uma hora antes de colocá-los para dormir.

"As crianças gostam de estar acordadas e presentes na rotina dos pais. Criar um ritual pré sono pode ajudar para que esse momento [de levá-las para a cama] seja mais tranquilo e bem aceito", propõe. "Sugiro começar com um banho relaxante, seguido por um chá e histórias e músicas serenas", completa.

Ela também sugere que refeições nutritivas, tempos limitados de cochilo à tarde e hora definida para dormir virem regras na vida dos filhos.

A mestre em pediatria orienta que os responsáveis observem o sono do filho mais novo. "Um bebê de um ano deve dormir 14 horas no dia. Se ele dorme pouco pela manhã, deve compensar o resto à noite", instrui.

De acordo com a especialista, esse hábito se torna importante na medida em que metade dos pequenos entre dois e quatro anos experimentam um problema de sono no Brasil, e 4% deles têm insônia comportamental.

Esse distúrbio resulta em processos interrompidos de desenvolvimento cerebral. A pediatra explica que durante a fase do sono na qual ocorrem os sonhos mais realistas, por exemplo, acontecem processos de replicação de neurônios importantes para a saúde cerebral. "Por conta disso, as crianças devem dormir antes das 22h. O ideal é entre 19h e 20h", afirma.

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*Estagiário sob a supervisão de Charlise Morais

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