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O desafio de esperar pela terceira idade

O desafio de esperar pela terceira idade

Envelhecimento da população impõe desafios ao poder público

Publicado em 25 de setembro de 2018 às 00:28

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Aos 73 anos, Maria de Lourdes faz ginástica três vezes por semana na Serra. (Bernardo Coutinho)

De um lado, o aumento da expectativa de vida; de outro, a reduzida taxa de natalidade. O resultado dessa conta não é de difícil resolução: a população idosa está crescendo no país - e também no Espírito Santo. Mas será que estamos nos preparando para essa realidade?

Para Gabriela Lacerda, diretora-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), estamos diante de uma situação preocupante, uma vez que hoje, no Estado, a população de terceira idade - mais de 60 anos, conforme o Estatuto do Idoso - é de 370 mil pessoas e, até 2060, vai ultrapassar a marca de 1,5 milhão.

“Numa projeção mais curta, vemos que em 2030, ou seja, daqui a apenas 12 anos, um quinto da população capixaba será de idosos, o que vai representar quase 20% das pessoas”, aponta.

“O Brasil, em pouco tempo, será um dos países mais velhos do mundo e o que é preocupante é que estamos passando por esse processo muito rápido. A revolução demográfica é global, só que muitos países conseguiram ficar ricos antes dessa transição, e a gente está numa fase com taxa de desemprego elevada, economia tentando se recuperar; tudo isso preocupa”, acrescenta Gabriela.

A professora Cenira Andrade, do Departamento de Serviço Social da Ufes, avalia que as cidades, em termos de infraestrutura, e o poder público, na prestação de serviços, não estão preparados para atender adequadamente aos idosos.

“Não temos políticas públicas suficientes para esse público. Se nós, adultos, que em geral não temos qualquer tipo de dependência, já passamos dificuldades para ser atendidos pelo SUS, por exemplo, imagine o idoso”, observa.

Cenira diz que um serviço importante que precisaria ser implantando no Estado é o Centro Dia, um espaço público para acolhimento de pessoas da terceira idade que não têm com quem ficar ao longo do dia. Nesse centro, elas receberiam alimentação, higienização, além de ter a possibilidade de realizar outras atividades.

“Hoje, o comum são os centros de convivência, que são muito bons mas não atendem totalmente às necessidades da população idosa”, explica.

Na opinião de Cenira, outro ponto primordial é mudar um conceito que culturalmente está impregnado na maioria das pessoas: a falta de respeito ao idoso. Ela cita como exemplos motoristas que passam direto de pontos de ônibus quando há idosos e jovens que não cedem lugar para esse público. “Essa mudança deve começar nas famílias e passar também pelas escolas. Demonstrar o papel social de cada um e que todos têm valor, independentemente da idade”, conclui.

A dona de casa Maria de Lourdes Oliveira, 73, tenta fazer a sua parte cuidando da saúde: três vezes por semana ela frequenta as aulas de ginástica da prefeitura, em Jacaraípe (Serra), e dois dias, se não estiver frio, caminha na praia. “Se a gente não fizer isso, acaba parando na cama”, ensina.

ESTATUTO DO IDOSO

Alguns direitos

Prioridade

É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

Negligência

Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.

Denúncia

Os casos de violência praticada contra idosos serão objeto de notificação pelos serviços de saúde públicos e privados à autoridade sanitária, polícia e Ministério Público.

Políticas públicas

É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade.

Liberdade

É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais.

Saúde

É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos.

Lazer

O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade

Trabalho

O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas suas condições físicas, intelectuais e psíquicas

"Em vez de fazer terapia, decidi voltar a estudar. Esse tempo que dedico a mim melhorou minha saúde, me sinto bem, me renovei. Quando eu era nova, me sentia velha; hoje eu sou idosa, mas sinto minha mente jovem",conta Marly. (Reprodução/Facebook)

ELES PROVAM QUE NUNCA É TARDE PARA VIVER

A turma da terceira idade dos dias de hoje não é a mesma de 20, 30 anos atrás. Se não houver qualquer problema de saúde, lá está o pessoal dos 60 anos em diante no barzinho para tomar um chope, no forró, na ginástica e até mesmo na sala de aula de uma universidade.

É o caso de Marly Borges Pereira, 75 anos, que, para superar problemas pessoais, decidiu que era o momento de fazer um curso superior. Ela é aluna de Fonoaudiologia na UVV, e a mais experiente de toda a instituição.

“Eu prestei vestibular para Psicologia mas, quando olhei a grade de Fono, vi que tinha mais coisas que me interessavam e mudei de opção. Está sendo a realização para mim de um sonho”, conta Marly, que ainda tem algumas disciplinas a cumprir antes de se formar no próximo ano.

Além das portas abertas para todos os cursos de graduação, a UVV lançou neste semestre um exclusivo para os idosos: “Longevidade Ativa - inovação, sabedoria e autogestão”.

“A gente sabe que o número de idosos vem aumentando a cada dia, e a nossa proposta é oferecer um em que eles possam se sentir mais inseridos na universidade”, afirma a coordenadora Ariana Nogueira do Nascimento.

O curso é dividido por módulos em que são tratados temas como arte e cultura; alimentação; e inclusão digital. Entre outras disciplinas, os idosos têm aulas de teatro, dança, música, cinema, fotografia, nutrição, primeiros-socorros, uso de redes sociais. As aulas acontecem às terças e quintas-feiras, no período da tarde, e o custo varia de acordo com o plano de aulas, pois o aluno pode optar por fazer um ou outro módulo, ou ainda os três.

Na Ufes, essa já é uma realidade há bastante tempo. A Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati) vai fazer 22 anos e é voltada à comunidade com mais de 60 e, além da idade, não há outros pré-requisitos para participar. “Atendemos a um público idoso heterogêneo. A pessoa não precisa ser letrada. Temos alguns com ensino fundamental, outros com pós-graduação. Nossa filosofia é inclusão social da pessoa idosa pela via do conhecimento”, destaca a professora Cenira Andrade de Oliveira, coordenadora da Unati.

Por lá, são quatro módulos e sete oficinas, entre as quais canto, espanhol, literatura e inclusão digital.

 

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