Publicado em 19 de março de 2020 às 10:00
Enquanto escrevo esta reportagem, em casa, minha filha, de 3 anos, não resiste e me puxa pela camisa a todo momento. Ela quer brincar! Ver a mãe tão pertinho em casa, no horário de trabalho, parece mesmo uma oportunidade única. O que está acontecendo comigo é o que acontece em inúmeros lares no Espírito Santo e pelo Brasil e mundo afora, diante da pandemia de coronavírus. >
Milhares de famílias se viram, da noite para o dia, com a rotina virada do avesso, cancelando compromissos e tendo que se adaptar ao isolamento forçado. Pais trabalhando em esquema de home office, filhos com aulas suspensas, babá e faxineiras liberadas... E aí, chama a vovó!! >
Mas eis que surge outro problema: os idosos são o grupo mais vulnerável ao coronavírus e, portanto, deve ficar protegido. O que fazer diante desse caos doméstico? Como dar conta das tarefas e das crianças sem expor ninguém a nenhum risco?>
O WhatsApp da pediatra Lívia Lopes não para. Toda hora uma mãe querendo tirar uma dúvida sobre o que fazer com os filhos nesse momento. Tem muita gente assustada, mas também tem muita gente tirando por menos. Então, o que temos feito é tentar acalmar quem está nervoso e passar um pouco de bom senso para quem está achando que entrou de férias, comentou.>
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A médica concorda com a medida da maioria das escolas e creches de mandar as crianças para casa. Além de se evitar a propagação do coronavírus, que tem uma taxa de transmissão muito alta, diminui-se o fator de confusão com outros vírus que circulam nesta época, deixando assim os pronto-socorros livres para atender os casos mais graves.>
Esse isolamento, porém, pode se estender por muito tempo. Então, o que fazer com os pequenos. Segundo a pediatra, como aqui no Estado, por enquanto, não há situação de transmissão comunitária, é possível sair de casa um pouco, desde que se tomem certos cuidados importantes.>
A gente tem que diminuir a circulação de pessoas e o contato entre elas. O ideal é evitar aglomerações. Os pais podem descer um pouquinho no parquinho do prédio com a criança, desde que não haja outras crianças lá. Podem levar um álcool em gel e lavar as mãos da criança depois, já que ela vai tocar nos brinquedos, cita Lívia. >
Agora, diz a pediatra, caso um dos adultos ou a criança tenha algum sintoma gripal, independente de ser coronavírus ou não, a ordem é confinamento mesmo por pelo menos 14 dias. >
A psicóloga Nanda Perim, a Psimama, diz que o jeito é usar a criatividade em casa para driblar o tédio da garotada. Primeiro, é preciso não se sentir responsável por entreter a criança o tempo todo. Você pode garantir que essa criança tenha recursos para isso. Por exemplo, ter brinquedos disponíveis, ter sua disponibilidade em alguns momentos até do dia. A segunda dica que dou é ter rotina, se organizar durante esse período de coronavírus. Tem horário em que mamãe está trabalhando, que papai está trabalhando e tem o horário em que papai e mamãe estão com a criança. Essa previsibilidade dá segurança para a criança. >
Nanda sugere uma olhada na Internet, onde há várias dicas de atividades para entreter os pequenos. Ela pede, porém, que os adultos não entrem na paranoia de evitar o uso de telas. Não é abusar e deixar a criança o dia inteiro na frente das telas, mas nem ficar em pânico e nem deixá-la com tela hora nenhuma e ficar surtando em casa porque tem que trabalhar. Tentar achar um equilíbrio. Tem que haver horário para ela ver TV, horário para ela brincar. Pai e mãe podem se revezar no trabalho e na atenção ao filho. Se tem um quintal em casa, um espaço no prédio para a criança correr, tomar sol, tomando-se os cuidados, é o ideal, orienta a psicóloga.>
Nanda Perim (Psimama)
PsicólogaE se a realidade não puder ser outra que não avós e netos sob o mesmo teto durante a crise do coronavírus? Para a geriatra Daniela Barbieri, o momento pede resguardo. Ela lembra que quanto mais idade e mais doenças crônicas, mais risco de gravidade da infecção pelo Coronavírus-19. >
O ideal é ficarmos em núcleos familiares menores. Se possível, os mais jovens prestarem assistência aos seus pais e não esses serem responsáveis pelos netos. Fazer compras para os pais idosos e levar até eles, evitando deslocamentos que não precisam ser feitos pelos idosos. E as crianças ficarem com os pais, no pequeno núcleo, recomenda a especialista.>
Daniela Barbieri
GeriatraSe for necessário o convívio no mesmo ambiente, reforçar sempre a importância da limpeza sistemática das mãos, evitar contato físico entre as pessoas, com beijos, abraços, colo, afagos. Explicar que não se deve compartilhar copos, talheres, travesseiros, complementa Daniela. >
Além disso, diz a geriatra, quem quer que apresente sintomas respiratórios precisa ficar em quarto próprio e circular nos ambientes comuns da casa de máscara. O idoso não será o melhor acompanhante de uma criança ou mesmo pessoa de qualquer faixa etária com sintomas gripais ou febre, observa.>
De acordo com o geriatra Roni Mukamal, os mais velhos devem ficar em casa, melhor ainda se for distante das crianças. Se é um idoso de saúde frágil, o melhor é que não tenha contato com os netos. A menos que se garanta que a criança fique também só em casa. Mas é arriscado. É muito mais difícil isolar uma criança. Ela desce para o parquinho, encosta nas coisas. É uma situação atípica e de emergência. E a gente precisa proteger os idosos, que são a população mais vulnerável. Pelo menos pelos dados que temos até agora, comenta o médico.>
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